VPPB: a vertigem que gera assustadora sensação de estar em montanha-russa sem sair do lugar


Ela é a causa mais comum das doenças do labirinto. Apesar de ter incidência maior em idosos, pode ocorrer em qualquer faixa etária. VPPB: fisioterapeuta explica como é feita a manobra para tratamento deste tipo de vertigem
Ver tudo rodando ao redor, em alta velocidade, como numa montanha-russa, sem sair do lugar. Essa situação é vivida por quem passa por um intenso e assustador episódio de Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), também conhecida como “doença dos cristais”.
Cerca de 30% da população mundial sofre de tontura em algum momento da vida, e há mais de 2 mil causas para a condição. Mas estudos apontam que, em torno de 16% dos casos, o motivo é a VPPB:
A incidência dela é maior em idosos, mas os episódios podem ocorrer em outras faixas etárias – geralmente após 40 anos.
O problema costuma ter origem desconhecida na maior parte dos casos, mas pode ser desencadeado por mudanças específicas na posição da cabeça (como até mesmo virar na cama), trauma nessa região ou pelo fato de o paciente ficar acamado por períodos prolongados.
Abaixo, veja:
como VPPB é diagnosticada;
quais são os outros sintomas, além da tontura;
quais as consequências da falta de tratamento;
quais os grupos mais afetados;
como prevenir a VPPB.
⭕Como VPPB é diagnosticada?
VPPB: a vertigem que gera assustadora sensação de estar em montanha-russa sem sair do lugar
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Pequenos cristais de carbonato de cálcio se deslocam para os canais da orelha interna (labirinto), causando a sensação de que tudo está rodando ao redor. Ao mesmo tempo, os olhos se movimentam rapidamente de forma involuntária. Apesar de extremamente incômoda, a vertigem não costuma durar mais do que um minuto e se repete geralmente quando o indivíduo volta para uma posição específica.
Por isso, é comum que alguns pacientes tenham medo de mover a cabeça para um determinado lado, dependendo do caso, até o fim do tratamento.
Felizmente, a VPPB é facilmente diagnosticada com testes clínicos e efetivamente tratada com manobras da cabeça, pescoço e corpo – feitas geralmente por fisioterapeutas, médicos otorrinolaringologistas ou neurologistas, e fonoaudiólogos. A duração de um episódio é em média de duas semanas.
⭕É o mesmo que labirintite?
Não, mas é comum que profissionais não especializados façam essa confusão. Com isso, muitos pacientes acabam sendo medicados sem a manobra de reposicionamento — o que ajuda no controle e intensidade dos sintomas, como náusea e enjoo, mas não resolve o problema.
Qualquer pessoa pode manifestar a VPPB de uma hora para outra. E uma posição supostamente inofensiva é especialmente mais perigosa para isso: ficar deitado de barriga para cima, sem travesseiro, com o nariz apontado para o teto.
Nessa posição, a ação da gravidade sobre o sistema vestibular tende a favorecer o deslocamento dos cristais, especialmente nos idosos, na direção dos canais.
⭕Quais são os outros sintomas?
Além dos sintomas de vertigem, indivíduos com VPPB também apresentam:
tontura inespecífica,
sensação de cabeça leve,
desequilíbrio corporal,
náusea,
vômito
e até diarreia, em alguns casos.
E é comum o paciente se queixar da vertigem ao deitar, rolar na cama e sentar-se na volta de uma posição deitada, explica o doutor em fisioterapia e sócio-fundador da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN), André Santos.
“A tontura da VPPB costuma ser súbita, intensa, ainda que fugaz, e muitos pacientes chegam na consulta assustados com o quadro, imaginando a possibilidade de problemas mais graves. É comum ouvir: ‘Dr. eu achei que estava tendo uma AVC’”, acrescenta o otorrinolaringologista Guilherme Almeida, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico-Facial (ABORL-CCF).
⭕Quais as consequências da falta de tratamento?
O médico Almeida destaca que, com o aumento da popularidade da patologia, é possível ajudar mais pessoas, que, por vezes, ficam meses, ou até anos, sofrendo e tomando medicações sem necessidade.
O fisioterapeuta Santos lembra, por exemplo, que no início dos anos 2000, foi ministrar um curso em Teresina (Piauí) e um dos alunos levou a mãe como paciente, com queixa de vertigem por mais de cinco anos. Ela comentou que ficou sem virar a cabeça e deitar virada para o lado afetado por todos esses anos por medo do movimento, o que é chamado de cinesiofobia.
Após uma avaliação, Santos identificou a VPPB e fez uma manobra de reposicionamento, que teve resultado eficaz.
A paciente contou ainda que estava juntando dinheiro para fazer um tratamento no Rio de Janeiro para curar o problema, o que emocionou o fisioterapeuta.
⭕Em que grupos a incidência é maior?
No Brasil, a falta de dados específicos e robustos pode dificultar a determinação exata da incidência, mas a condição é reconhecida como um problema significativo de saúde pública, especialmente entre idosos, destaca Santos.
Um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) mostrou que a prevalência de tontura no estado foi de 42%, com picos observados em duas faixas etárias: 49% entre 46 e 55 anos e 44% entre idosos (mais de 65 anos). A tontura ou vertigem vestibular (não necessariamente VPPB) foi detectada em 8,3% de todos os pacientes, com forte predomínio feminino.
Os sintomas causaram incapacidade em 27% dos entrevistados, a maioria mulheres, e o índice de incapacidade por tontura foi significativamente maior entre os indivíduos com menor nível educacional.
Entre os indivíduos sintomáticos, 67% relataram interrupção das atividades diárias, mas apenas 46% deles procuraram atendimento médico.
➡️Santos explica que, em torno dos 35 anos de idade, ocorre uma aceleração do envelhecimento dos labirintos:
“Há uma redução do número de neurônios vestibulares, aumento da viscosidade do líquido no interior do labirinto (endolinfa) e alteração anatômica com degeneração dos cristais, ocorrendo um estado parecido com o dos ossos, denominado otoconioporose, uma espécie de ‘osteroporose dos cristais ou otocônias’. Com essas alterações da anatomia e fisiologia, origina-se a VPPB, pelo fácil deslocamento das estruturas”.
Em idosos, os episódios de queda da própria altura, seguido de trauma craniano leve ou moderado, favorecem o aumento do número de casos de VPPB. Além disso, o uso de mais de cinco medicamentos por dia aumenta o risco de tontura e quedas em idosos.
Homens e mulheres podem ser afetados pela condição e, embora ela possa ocorrer em todas as faixas etárias, a VPPB é rara em crianças.
Veja mais dados:
Em 18% dos pacientes, ela pode surgir após um traumatismo craniano.
Entre 2 e 15% dos pacientes, ela é originada de uma neurolabirintite viral (inflamação do labirinto causada por infecção viral) .
De 1 a 5% dos casos aparecem por causa de insuficiência das artérias que passam no pescoço (insuficiência do sistema vertebrobasilar – IVB).
Outras alterações, incluindo doença de Méniére (8%), enxaqueca (15,8%), otosclerose e outros distúrbios do labirinto, foram associados à VPPB em 13% dos pacientes.
⭕Monitoramento da vitamina D pode prevenir o problema?
Níveis mais baixos de vitamina D no sangue podem acelerar o processo de degeneração dos cristais, que alteram sua apresentação anatômica. Ou seja, alguns chegam a sofrer pequenas “rachaduras” ou fragmentação.
Além disso, a artéria que irriga o labirinto reduz sua capacidade com o envelhecimento humano. Com isso, as estruturas que formam a base das células que sustentam os cristais tendem a receber menor aporte de oxigênio e nutrientes, causando maior fragilidade fisiológica e favorecendo o surgimento da VPPB.
⭕Como ocorre o deslocamento de cristais?
Entenda a anatomia do sistema vestibular
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Nossos dois labirintos são responsáveis por detectar a aceleração da cabeça e, em cada um deles, há três canais semicirculares (CSC), que possuem um líquido (endolinfa) em seu interior. Para cada canal, existe um conjunto de manobras específicas. E há mais de um tipo de manobra para o mesmo canal.
Próximo aos CSCs, temos estruturas com cristais de carbonato de cálcio, que ajudam a informar ao cérebro que a cabeça está sendo movimentada (verticalmente, ao subirmos em um elevador, ou horizontalmente, quando estamos dentro do vagão de um trem, por exemplo). E a VPPB é o deslocamento mecânico desses cristais no interior do labirinto.
É comum a VPPB ser unilateral, mas em alguns casos pode existir o comprometimento de vários canais (após trauma craniano, por exemplo).
⭕Como prevenir a VPPB?
As seguintes práticas podem ajudar na prevenção:
Atividades físicas regulares
Controle da vitamina D
Controle da vitamina B12
Prevenção de quedas, especialmente em idosos
Hidratação
É indicado também evitar atividades diárias que levem a pessoa a permanecer em posição de decúbito dorsal (“barriga para cima”).
⚠️Outras posições desfavoráveis com a inclinação da cabeça para trás são facilitadas ao sentar em cadeiras de salão de beleza, macas de consultório odontológico e plataformas vibratórias (especialmente quando atingem inclinações invertidas – a cabeça do paciente fica abaixo do nível das próprias pernas).
Um estudo brasileiro feito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) em 2014 demonstrou que, diferentemente dos homens, as mulheres que não praticam atividade física têm 2,62 mais chances de ter VPPB do que aquelas que praticam exercícios físicos regulares.
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