Esgoto clandestino ameaça saúde pública e amplia desigualdade no Brasil

Cerca de 39,7% dos municípios brasileiros não possuem serviço de esgotamento sanitário, deixando 34,1 milhões de domicílios sem acesso a esse serviço essencial, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) divulgada pelo IBGE em 2021. A situação é ainda mais crítica no Nordeste, onde 74,6% dos domicílios não contam com rede de esgoto.

Sem infraestrutura adequada, grande parte dos dejetos é despejada irregularmente em rios, igarapés e redes pluviais, caracterizando o esgoto clandestino.

Esse descarte ocorre tanto por falta de alternativas quanto pela ausência de fiscalização, agravando a contaminação dos recursos hídricos e aumentando os riscos sanitários.

O impacto desse problema na saúde pública é alarmante. A exposição a águas contaminadas pode provocar diarreia, hepatite A, leptospirose e verminoses, afetando principalmente crianças e populações em situação de vulnerabilidade.

Além disso, o acúmulo de esgoto a céu aberto favorece a proliferação de ratos e mosquitos, que também são vetores de doenças.

A engenheira civil Sibylle Muller, CEO da NeoAcqua, aponta que “o esgoto clandestino representa um dos maiores desafios para a gestão de saneamento no Brasil”.

Para combater essa prática, especialistas defendem investimentos robustos em infraestrutura sanitária e fiscalização, além da implementação de soluções descentralizadas, como estações compactas de tratamento de esgoto, para atender regiões de difícil acesso.

A capital do Amazonas reflete essa realidade, apresentando um dos piores índices de cobertura de esgoto entre as capitais brasileiras.

Segundo o Ranking do Saneamento 2024, do Instituto Trata Brasil, apenas 26,09% dos moradores de Manaus têm acesso à coleta de esgoto, e apenas 21,79% do volume gerado é tratado, um dos menores percentuais do país​.

A cidade também enfrenta altos índices de perdas de água, que chegam a 59,79%, prejudicando o abastecimento e encarecendo o serviço​.

Os investimentos no setor ficaram abaixo do necessário para a universalização do saneamento, com média de R$ 73,85 por habitante entre 2018 e 2022, valor muito inferior ao ideal​.

Para reduzir os impactos do esgoto clandestino, a concessionária Águas de Manaus anunciou investimentos de R$ 355 milhões em 2024, com a meta de elevar a cobertura da rede de esgoto para 38%.

Além da ampliação da rede convencional, especialistas defendem o uso de tecnologias descentralizadas para tratamento de esgoto, como estações compactas, que poderiam atender regiões onde a infraestrutura tradicional ainda não chegou.

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