
Na noite de quinta-feira (24/04), o Teatro Amazonas foi palco de uma apresentação especial que combinou arte, sensibilidade e inclusão.
O evento “Ópera no Mundo Azul” fez parte da programação do 26º Festival Amazonas de Ópera (FAO), sendo uma homenagem ao mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A apresentação teve como objetivo proporcionar uma experiência imersiva para pessoas com autismo, permitindo que elas vivenciassem a magia da ópera de forma acessível e participativa.
A récita adaptada foi regida pelo maestro Marcelo de Jesus, que também atuou como diretor artístico da apresentação.
O espetáculo foi uma verdadeira imersão sensorial para os presentes, com o som da orquestra preenchendo o ambiente e oferecendo aos jovens com TEA e seus familiares a oportunidade de interagir com a música de forma única e emocional.
Realizado com recursos da Lei Rouanet, patrocínio do Bradesco e apoio de empresas como Innova e Swarovski, o evento contou com a parceria da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Amazonas, sendo parte do festival organizado pelo Fundo do Festival Amazonas de Ópera.
Marcelo de Jesus compartilhou sua emoção após a apresentação, destacando o impacto positivo da experiência para os participantes:
“É muito bonita a sensação que a gente tem aqui no palco. É de amor mesmo, de um amor puro. Ano passado, quando a gente fez, eu tive uma coisa assim de falar: ‘Nossa, como é que um pequeno gesto pode trazer tanta felicidade?’ Eu vejo nos olhos deles que estão felizes. E essa energia contagia, ela volta, só que volta em dobro”, afirmou o maestro, visivelmente emocionado ao ser rodeado pelas crianças e jovens com TEA, todos encantados pela apresentação.
Entre os espectadores, estava a funcionária pública Virgínia Barros, que levou seu filho Vinícius, de 21 anos, diagnosticado com autismo severo, ao evento pela primeira vez. Virgínia compartilhou o processo de superação da família:
“Antes, por causa do autismo severo, era difícil trazer. Mas ele está bem trabalhado e a gente consegue controlá-lo na maior parte do tempo. Eles se sentiram felizes. Eles sentem a música, eles movimentam o corpo e eles se sentem bem”, comentou emocionada.
Ela ainda relatou os anos de terapia comportamental necessária para ajudar Vinícius a atingir um equilíbrio em sua vida e poder participar de eventos como este, proporcionando momentos de inclusão verdadeira e convivência social.
A importância da rotina e da aprendizagem
Durante a apresentação, o pequeno Noah Malheiro, de 7 anos, se destacou ao tocar violino as músicas “Marcha Soldado” e “Laranjada Doce”, mostrando grande dedicação e habilidade. Filho do maestro Luiz Fernando Malheiro, Noah demonstrou a importância da rotina para seu aprendizado.
“A gente tem toda uma estratégia para trabalhar com ele. E ele é um excelente aluno, ele estuda todo dia”, contou sua professora, Bárbara Soares.
Noah, que já está aprendendo as notas de músicas clássicas, como “Brilha, Brilha”, representa a inclusão da música no desenvolvimento de crianças com TEA, com seu talento e entusiasmo contagiando a todos.
A música como linguagem universal de inclusão
Ao final do evento, o maestro Marcelo de Jesus refletiu sobre o impacto emocional que apresentações como “Ópera no Mundo Azul” podem ter tanto para os músicos quanto para os espectadores:
“Talvez não dê para ouvir uma ópera inteira, mas eles ouviram ‘Carmen’, ouviram ‘La Bohème’, ouviram ‘O Barbeiro de Sevilha’. Isso já é uma forma de inclusão. Eu tenho certeza que todos os músicos que saem daqui, saem com felicidade, com amor no coração, verdadeiro”, concluiu o maestro.
O evento demonstrou que a arte, quando adaptada de forma sensível e inclusiva, pode transformar a experiência de pessoas com TEA e criar momentos de conexão e empatia, promovendo um ambiente onde todos possam sentir, aprender e se expressar de maneiras únicas.
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