Chocolate de verdade custa caro; cuidado para não levar apenas o ‘sabor chocolate’

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A proximidade da Páscoa aquece o mercado de chocolates e confeitarias no Brasil, mas também escancara um problema pouco discutido: a maioria dos produtos vendidos como chocolate sequer pode ser classificada assim.

Embalagens chamativas e nomes comerciais mascaram o que muitas vezes é só gordura com açúcar e aroma artificial. A diferença entre chocolate e “sabor chocolate” começa nos ingredientes — e está no rótulo.

Segundo as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o produto só pode ser chamado de chocolate se contiver, no mínimo, 25% de sólidos totais de cacau. Isso inclui manteiga de cacau, massa de cacau e cacau em pó.

Se esse percentual não for atingido, ou se a manteiga de cacau for substituída por gordura vegetal, o produto deve ser rotulado como “sabor chocolate”, “cobertura sabor chocolate” ou “produto com sabor de chocolate”.

Esses itens, embora mais baratos, são mais processados, menos nutritivos e amplamente usados em produtos industrializados e ovos de Páscoa populares.

Por que o chocolate verdadeiro é mais caro?

O principal fator de encarecimento do chocolate de qualidade está nos ingredientes. A manteiga de cacau é uma gordura nobre, delicada, sensível à temperatura e com custo elevado.

Ela chega a ser três vezes mais cara que a gordura vegetal comumente usada em coberturas fracionadas ou compostas.

Além disso, marcas que prezam por um processo de produção mais ético e artesanal, como as do segmento “bean to bar” (do grão à barra), usam cacau selecionado, geralmente nacional, com rastreabilidade, apoio a produtores e processos mais lentos e controlados.

Esses produtos muitas vezes contêm mais de 60% de cacau, pouco ou nenhum aromatizante e são feitos em pequenos lotes. O resultado é um produto mais caro, mas mais intenso, saudável e honesto.

Falta de matéria-prima agrava o problema

Dados da Organização Internacional do Cacau (ICCO) mostram que, em 2024, o mundo atravessa o maior déficit de cacau dos últimos 40 anos, causado por seca severa na Costa do Marfim e em Gana, dois dos maiores produtores mundiais.

O preço do cacau no mercado internacional ultrapassou US$ 10 mil por tonelada em março, um recorde histórico.

No Brasil, segundo a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), o setor registrou aumento de custos de até 40% em insumos usados na fabricação de chocolate verdadeiro, o que impacta diretamente microempreendedores que atuam na Páscoa com trufas, ovos e barras caseiras.

Muitos recorrem a coberturas fracionadas para manter preços competitivos, mas com isso perdem qualidade e, muitas vezes, acabam enganando o consumidor que não lê o rótulo com atenção.

Saiba como não cair em pegadinhas

Para não pagar caro por um produto ultraprocessado disfarçado de chocolate, siga estas dicas simples:

1. Leia os ingredientes com atenção
A ordem da lista indica a quantidade presente no produto. Se os primeiros itens forem açúcar e gordura vegetal, é sinal de baixa qualidade.

2. Procure por manteiga de cacau e massa de cacau
Esses ingredientes indicam que há cacau de verdade. Se não aparecem entre os três primeiros, desconfie.

3. Observe o percentual de cacau
Chocolates com 40%, 60% ou 70% têm mais cacau e menos açúcar. Produtos que omitem essa informação costumam ter baixa concentração de cacau.

4. Fique atento a expressões como “sabor chocolate” ou “cobertura sabor chocolate”
São obrigatórias por lei para produtos que não alcançam o mínimo de cacau. Ao ver esses termos, saiba que não está comprando chocolate puro.

5. Cuidado com embalagens que tentam parecer premium
Palavras como “gourmet”, “intenso” ou “cremoso”, além de cores escuras e imagens de cacau, são comuns mesmo em produtos com pouca qualidade.

Consumo consciente fortalece quem faz chocolate de verdade

O Brasil é o quarto maior consumidor de chocolate do mundo, segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates).

Mas grande parte desse consumo é de produtos altamente processados, com baixa concentração de cacau e alto teor de açúcar e gordura vegetal.

Escolher um bom chocolate não é apenas uma questão de paladar: é uma forma de proteger a saúde e valorizar quem trabalha com ética e qualidade.

Para o microempreendedor que decide manter a integridade dos ingredientes, a fidelidade do consumidor consciente pode ser o diferencial para continuar no mercado.

Na Páscoa, e fora dela, a melhor forma de saber o que se está comprando continua sendo ler o rótulo com atenção.

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