Exclusivo: ‘É natural que tenham questionamentos e tensão’, diz CEO do BRB sobre Master

A compra do Master pelo BRB imundou o mercado e gerou especulações de todos os tipos. Nos bastidores, a possível venda era dada como certa. Porém, a operação ter sido feita por um banco estatal pegou agentes financeiros de surpresa.

Na última sexta, o BRB informou a aquisição pelo valor de 75% do valor patrimonial, ou cerca de R$ 2 bilhões. A operação envolve a aquisição de 48% das ações ordinárias (com direito a voto) do Master, mas somando ordinárias e preferenciais, o percentual chega a 60%.

Parte de investidores questionam a compra e dizem se tratar de ‘socorro’, no que classificam como uma operação arriscada, visto que o banco possui dificuldade de captação de recursos e vinha pagando taxas muito acima dos rivais, de 140% do CDI em seus CDBs.

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Contudo, o CEO do BRB, Paulo Henrique Costa, defende a transação e rechaça a ideia de um resgate em entrevista exclusiva ao Money Times.

“Essa é uma compra de uma instituição financeira que pode agregar muito à estratégia de crescimento e posicionamento de mercado do BRB, ampliando a atuação em segmentos importantes para a estratégia, além de agregar tecnologia, expertise e pessoas que fazem parte da própria estrutura do Banco Master”, afirmou.

Ele explica que desde 2019, o BRB adota uma estratégia de diversificação e quer ser além de um banco regional.

“Existe um conjunto de oportunidades de atuação conjunta entre o Banco BRB e o Banco Master. O banco resultante dessa aquisição pelo BRB será mais robusto, diversificado, completo e capaz de competir no mercado brasileiro”.

O conglomerado que nasceria da operação teria a nona maior carteira de crédito do país, R$ 112 bilhões em ativos, R$ 70 bilhões de carteira de crédito e mais de R$ 100 bilhões em captações.

“O que eu acho é que essa operação está jogando luz e trazendo de verdade um novo competidor para o sistema financeiro nacional. É natural que um movimento como esse desperte muita tensão”.

Ele diz ainda que não é “todo dia que acontece uma operação, uma proposta de compra de um banco por outro banco”.

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“É natural que isso desperte curiosidade, questionamento, em especial sendo um banco público que muitas vezes não tem nem o mesmo acompanhamento pela imprensa que um banco que está sediado em São Paulo tem”.

Money Times: Por que a decisão de comprar o Master? Não havia outro banco com características semelhantes que poderia ser alvo?

Paulo Henrique Costa: Existe um processo para isso.

Precisávamos nos remodelar, ser um banco mais completo, maior, com capacidade de sobreviver no mercado. Desde então, iniciamos um ciclo de crescimento.

Esse ciclo começou no varejo, pessoa física, depois avançamos no imobiliário, no rural e em cartões.

O banco saiu de 650 mil clientes para 9 milhões.

Em agosto do ano passado, o BRB começou a comprar carteiras do Banco Master e, ao longo do tempo, fomos entendendo melhor sua atuação em segmentos estratégicos para nós.

Em outubro, iniciamos conversas sobre uma parceria estratégica e, em janeiro, o Master nos abordou questionando se haveria interesse em uma sociedade para atuar nesses segmentos.

Engajamos a PwC e o Lefosse como assessores para conduzir as diligências legais, financeiras, tecnológicas e de segurança.

O resultado desse trabalho mostrou a viabilidade da operação. Não foi uma escolha específica por uma instituição apenas, mas um processo estruturado de aproximação e avaliação.

Confira a entrevista com Paulo Henrique Costa, CEO do BRB, na íntegra

Money Times: Algumas fontes dizem que o BRB poderia reduzir o valor da compra, pois a situação do Master seria pior que o esperado. Isso é verdade?

Paulo Henrique Costa: O valor de compra é de 75% do patrimônio líquido ajustado. Como as auditorias ainda estão em andamento, pode haver alguma oscilação no valor final. Esperamos concluir esse processo nos próximos 30 dias.

MT: Parte do mercado está vendo isso como um possível resgate

Costa: Não, é uma compra de uma instituição financeira que pode agregar muito ao BRB. Isso amplia nossa atuação em segmentos importantes, trazendo tecnologia, expertise e pessoas da estrutura do Banco Master.

MT: Por que vocês acham que a reação do mercado foi negativa?

Costa: À medida que a operação for ficando mais clara, as pessoas entenderão melhor os elementos de governança e a estrutura da transação.

O BRB passou por uma grande transformação desde 2019. De 650 mil clientes, passamos para 9 milhões. De R$ 15 bilhões em ativos, fomos para R$ 71 bilhões.

Hoje, temos presença em 20 estados e quase 1.100 pontos de atendimento. Essa operação reforça nosso crescimento e coloca um novo competidor no mercado financeiro nacional.

MT: Existe algum risco de o Banco Central não aprovar essa aquisição?

Costa: O Banco Central tem a palavra final. A documentação foi protocolada na sexta-feira à noite, e agora aguardamos a análise.

O BC é extremamente técnico e competente, e estamos preparados para fornecer qualquer informação adicional.

MT: Então vocês estão confiantes que o Banco Central vai aprovar essa transação? 

Costa: Acreditamos ter elaborado uma transação bastante estruturada. Mas como eu falei, a palavra final é do Banco Central.

MT: E como foi a reunião com a Gabriel Galípolo?

Costa: Foi uma reunião muito positiva, muito cordial. Tratamos de assuntos institucionais relacionados ao BRB e, naturalmente, prestamos esclarecimentos sobre essa proposta de aquisição do Banco Master e se iniciou formalmente o processo de análise pelo Banco Central.

MT: Vocês pretendem fazer uma capitalização via oferta de ações na B3 para reforçar o balanço?

Costa: Não. Fizemos dois aumentos de capital no ano passado, um de R$ 294 milhões em agosto e outro de R$ 750 milhões em dezembro.

Nossa estrutura de capital, somada à do Master, é suficiente para sustentar nosso planejamento estratégico.

MT: O BRB ficará com todos os ativos do Master? 

Costa: Não. R$ 23 bilhões em ativos, como precatórios e fundos de investimento em ações, ficarão fora do escopo e permanecerão com o Grupo Master.

Esses ativos e as empresas que serão cindidos ficarão fora do escopo provavelmente em outras empresas do próprio Grupo Master.

MT: E os CDBs do Master? Eles serão honrados?

Costa: Sim, todos os CDBs do Banco Master farão parte da estrutura do novo banco e serão honrados. Apenas os CDBs de subsidiárias que não fazem parte da transação permanecerão nessas subsidiárias.

MT: Houve pressão política para essa aquisição?

Costa: Não. As decisões do BRB são estritamente técnicas, alinhadas ao nosso planejamento estratégico.

O Master agrega bastante ao nosso portfólio, principalmente nos segmentos de atacado, mercado de capitais e crédito consignado.

MT: Vocês veem sinergia entre o BRB e o Banco Master?

Costa: Sim, essa é a base da transação. O Master tem uma carteira com maior retorno, enquanto o BRB tem uma carteira de menor risco.

Por outro lado, o Master tem uma captação mais cara, enquanto o BRB tem uma estrutura mais diversificada e estável. Essa combinação traz sinergias importantes.

MT: Para finalizar, qual mensagem você gostaria de deixar para investidores, mercado e sociedade?

Costa: O BRB e o Banco Master juntos representam uma grande oportunidade.

O novo banco será mais robusto, diversificado e competitivo, oferecendo serviços diferenciados e gerando valor para seus clientes e acionistas, especialmente para o Distrito Federal e sua população, que são os principais acionistas do BRB.

Agora, aguardamos a análise do Banco Central dentro dos trâmites legais.

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