‘Dia da Libertação’: o que esperar das tarifas prometidas por Trump


Além das tarifas recíprocas aos países que cobram taxas dos produtos importados dos EUA, outras taxas também devem ser anunciadas. Incertezas crescentes têm piorado o cenário para empresas e investidores. Presidente dos EUA, Donald Trump, durante cerimônia no Salão Oval da Casa Branca, em Washington D.C..
Pool via AP
O dia prometido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a implementação das tarifas recíprocas está chegando.
Marcada para 2 de abril, a data está sendo chamada pelo republicano de “Dia da Libertação” — isso porque, segundo ele, esse será o dia que o conjunto de taxas libertará os EUA de produtos estrangeiros.
“Este é o começo do Dia da Libertação na América”, disse Trump recentemente. “Vamos cobrar dos países por fazerem negócios em nosso país e tirar nossos empregos, tirar nossa riqueza, tirar muitas coisas que eles vêm tirando ao longo dos anos.”
Os detalhes dessa rodada de impostos ainda não estão claros. Em fevereiro, Trump anunciou que determinaria a cobrança de tarifas recíprocas a países que cobram taxa de importação de produtos americanos, mas não especificou a alíquota ou como essa taxa seria calculada.
“Queremos um sistema nivelado”, disse Trump em fevereiro. O republicano também indicou a previsão de outras cobranças no mesmo dia, como as taxas de importação setoriais e também para automóveis, por exemplo.
Na última semana, Trump afirmou que as tarifas recíprocas devem incluir todos os países, mas disse que as taxas podem ser mais suaves do que se espera e que está aberto a fazer acordos.
Em meio à confusão, o mercado financeiro tem reagido mal aos anúncios de Trump, pois espera que o tarifaço aumente a inflação e prejudique a economia dos EUA.
Entenda nesta reportagem:
O que Trump planeja fazer?
O que as outras nações pensam sobre o ‘tarifaço’ de Trump?
Quais os efeitos que as tarifas podem ter na economia dos EUA e do mundo?
O que Trump planeja fazer?
O presidente dos Estados Unidos planeja anunciar uma série de impostos de importação, incluindo “tarifas recíprocas”, que corresponderiam às taxas cobradas por outros países e contabilizariam subsídios. Trump mencionou taxar a União Europeia, Coreia do Sul, Brasil, Índia e outros países.
Os detalhes sobre essas tarifas e como elas afetarão os parceiros comerciais dos EUA só serão divulgados na quarta-feira (2). Tarifas de 25% sobre carros importados pelos EUA também devem entrar em vigor no mesmo dia.
Em entrevista à NBC News, no último sábado, Trump inclusive afirmou que não se incomodaria se as tarifas fizessem os preços dos veículos importados subirem no país, uma vez que carros produzidos nos EUA poderiam ter preços mais competitivos — o que, por sua vez, estimularia a indústria local.
Em entrevista à NBC News no último sábado, Trump afirmou que não se incomodaria se as tarifas fizessem os preços dos veículos importados subirem, pois carros produzidos nos EUA poderiam ter preços mais competitivos, estimulando a indústria local.
“Espero que eles aumentem os preços, porque se o fizerem, as pessoas vão comprar carros feitos nos Estados Unidos”, afirmou o republicano. “Não poderia me importar menos porque se os preços dos carros estrangeiros subirem, eles vão comprar carros americanos.”
Veja algumas outras taxas já anunciadas pelo republicano:
Tarifa de 25% sobre qualquer país que importe petróleo e/ou gás da Venezuela;
Tarifas adicionais de 20% sobre a China;
Tarifas sobre medicamentos farmacêuticos importados, ainda a serem definidas;
Tarifa de 25% sobre a importação de aço e alumínio, já em vigor desde 12 de março;
Tarifas de 25% sobre algumas das importações vindas do México e do Canadá e que não se enquadrem no USMCA (acordo comercial que existe entre os três países). Essas tarifas também passarão a valer em 2 de abril.
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Bolsas de valores começam semana em queda à espera de tarifas de Trump
O que as outras nações pensam sobre o ‘tarifaço’ de Trump?
A maioria dos líderes estrangeiros vê as tarifas de Trump como algo que pode ser destrutivo para a economia global, mesmo que estejam preparados para impor suas próprias contramedidas.
Veja abaixo algumas das reações:
Canadá: o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, disse recentemente que as ameaças tarifárias de Trump acabaram com a parceria entre seu país e os EUA.
França: o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que as tarifas “não eram coerentes” e significariam “quebrar cadeias de valor, criar inflação no curto prazo e destruir empregos”. “Não é bom para a economia americana, nem para as economias europeia, canadense ou mexicana”, afirmou o presidente francês, reiterando que sua nação também traria medidas defensivas.
México: a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, evitou respostas retaliatórias sobre tarifas, mas disse considerar fundamental defender os empregos em seu país.
China: o governo chinês disse que as tarifas de Trump prejudicariam o sistema de comércio global e não resolveriam os desafios econômicos identificados pelo presidente norte-americano. “Não há vencedores em guerras comerciais ou tarifárias, e o desenvolvimento e a prosperidade de nenhum país são alcançados por meio da imposição de tarifas”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun.
Brasil: Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar as tarifas sobre o aço e o alumínio e afirmou que taxará produtos dos EUA caso o recurso protocolado pelo Brasil na Organização Mundial do comércio (OMC) não resolva a situação. Na segunda-feira (31), uma comitiva formada por diplomatas brasileiros viajou aos EUA para buscar alternativas às tarifas.
União Europeia: a Comissão Europeia disse que via a política comercial “recíproca” como um passo na direção errada e afirmou que imporia contratarifas de 26 bilhões de euros (US$ 28 bilhões, ou R$ 160,8 bilhões) a partir do próximo mês, em resposta às tarifas gerais sobre aço e alumínio.
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Quais os efeitos que as tarifas podem ter na economia dos EUA e do mundo?
Economistas temem que as tarifas anunciadas por Trump prejudiquem a economia dos EUA. Especialistas disseram à Associated Press (AP) que as tarifas seriam repassadas aos consumidores na forma de preços mais altos para automóveis, mantimentos, moradia e outros bens.
Além disso, o lucro das empresas poderia ser menor e o crescimento mais lento. Trump afirmou que as medidas devem fazer com que mais empresas abram fábricas nos EUA para evitar os impostos, embora esse processo possa levar três anos ou mais.
“Há uma chance de que tarifas sobre bens comecem a filtrar para o preço de serviços”, disse Samuel Rines, estrategista da WisdomTree à AP.
“As peças de automóveis ficam mais caras, então o conserto de automóveis fica mais caro, então o seguro de automóveis sente a pressão. Embora os bens sejam o foco, as tarifas podem ter um efeito de longo prazo na inflação”, completou.
Esse cenário, dizem especialistas, também se refletiria na economia global. Primeiro porque os produtos importados se tornariam mais caros em meio às tarifas dos EUA e às retaliações de outros países — o que, por sua vez, poderia afetar a cadeia produtiva global e gerar um aumento da inflação pelo mundo.
Com preços mais altos, os bancos centrais precisariam adotar uma política de juros mais rígida, provavelmente iniciando ou intensificando ciclos de altas das taxas. Juros mais altos restringem o acesso ao crédito e limitam o consumo, desacelerando a economia.
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