A educação na Cidade 5.0

A escola foi estruturada de forma industrial com séries segmentadas, conteúdo padronizado e um modelo que trata os alunos como unidades homogêneasOpenAI Dall-e

Tenho me debruçado sobre como deve ser a educação em uma cidade 5.0, um espaço planejado nos mínimos detalhes com o objetivo de acelerar a erradicação da pobreza. Este artigo reúne uma série de reflexões ainda em construção que, com a ajuda de vocês, amadurecerão e se transformarão em políticas capazes de diferenciar a Cidade 5.0 do status-quo atual. 

As escolas são um reflexo direto da Revolução Industrial, período em que os pais tinham que sair para trabalhar nas fábricas e precisavam de um arranjo para seus filhos. A própria escola foi estruturada de forma industrial com séries segmentadas, conteúdo padronizado e um modelo que trata os alunos como unidades homogêneas, submetidas a um processo linear de formação. 

Com o tempo, cresceram as críticas a esse modelo, porque obviamente seres humanos têm características, habilidades e tipos de inteligência muito diferentes entre si e, portanto, um sistema mais customizado traria melhores resultados. Ao mesmo tempo que reconheço o esforço das escolas, ainda estamos viciados no sistema de estudar para provas.. Me pergunto: por quê? 

Na vida adulta, podemos encontrar metas nas organizações, mas elas não são mensuradas por um teste de conhecimento em um dia e hora específicas, e sim pela soma das atividades em um período mais prolongado, como um mês, trimestre, ano e às vezes décadas. Ou seja, o que realmente importa é nossa capacidade de execução contínua, cuja acumulação gera resultados concretos como capital, participação de mercado, um novo produto ou até mesmo uma família estável.

Para chegar em um determinado objetivo é necessário criatividade para resolver problemas, relacionamento interpessoal, capacidade de se adaptar e autoaprendizagem. 

Então, por que as escolas insistem no sistema de exames? Por que não enfatizar o que realmente importa? Parceria entre ONGs, órgãos governamentais e empresas poderiam permitir que as crianças tivessem experiências práticas em diferentes instituições como parte do currículo escolar. Isso daria a oportunidade da criança ser inserida, desde cedo, na vida real e nos problemas que afligem adultos. Algumas escolas já adotam essa abordagem de forma tímida. Minha experiência com esse modelo foi excelente. 

Talvez a resposta esteja nas universidades. Enquanto essas instituições continuarem a filtrar alunos com base em um teste teórico aplicado em um único dia, os pais seguirão priorizando colocar crianças em escolas que os preparem bem para exames. O raciocínio é simples: boas notas levam a boas faculdades, que proporcionam diplomas de qualidade, exposição a um bom grupo de colegas e, por fim, boas oportunidades de emprego. 

A cidade 5.0 representa uma oportunidade única de experimentar outros modelos. O contexto de uma cidade pequena com alto nível de segurança e terrenos delimitados, permite envolver as crianças, desde cedo, nos diferentes mecanismos de convivência da sociedade – segurança pública, hospitais, educação, legislativo, resolução de conflitos, executivo, esporte, lazer, meio ambiente, infraestrutura entre outros. 

Um dos maiores desafios da educação em comunidades humildes é o ambiente doméstico. Ao voltarem para casa, muitas crianças enfrentam exposição ao tráfico, violência e problemas nutricionais. Além disso, lidam com a falta de infraestrutura básica como esgoto, água potável, energia elétrica e telecomunicação instável e, pais ausentes, muitas vezes devido à necessidade de trabalho. Nesse contexto, há de se considerar o modelo de internato, desde que ofereça melhores condições do que as disponíveis em casa. Mas vale ressaltar que decisões como essa devem ser cuidadosamente avaliadas e aplicadas.

É fundamental lembrar que a Cidade 5.0 é uma Zona de Erradicação de Pobreza Acelerada (ZEPA), que, por sua vez, faz parte das Zonas Experimentais De Governança Autônoma (ZEGA) e adota o modelo PRIME. Este modelo define: Propósito: erradicação da miséria; Resultado: meritocracia como princípio fundamental – professores que não performam, por definição, não poderão fazer parte do sistema escolar; Interoperabilidade: acesso interno e externo a dados estatísticos padronizados, o que ajudará a identificar políticas de sucesso e fracasso na sociedade 5.0; Mensuração: definição clara de KPIs. A nota média pode ser um deles, mas não menos importante do que a integridade, dedicação, criatividade, trabalho em equipe, liderança, capacidade de articulação de soluções, execução eficiente e cidadania; Evidências empíricas: decisões devem ser baseadas em dados e/ou o uso do modelo científico para testes práticos de novos métodos educacionais, evitando interferências ideológicas ou interesses sindicais.

Proponho também que governos, empresas e ONGs se unam à PRIME Society para criar um novo modelo universitário, um verdadeiramente inovador, que seja uma disrupção do sistema acadêmico atual. Assim, os jovens poderão ser preparados para as demandas do futuro e, de preferência, já saírem empregados – algo que pode levar um século ou mais, para as universidades tradicionais se adequarem. Como disse o futurista Buckminster Fuller: “Você nunca muda as coisas lutando contra a realidade existente. Para mudar algo, construa um novo modelo que torne o modelo atual obsoleto.”

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No dia 28 de maio, a Prime Society realizará, em São Paulo, o evento “Cidade 5.0 – Quando a Erradicação da Pobreza é um Bom Negócio“, para dar início a essa transformação e buscar soluções concretas para um problema que assombra o Brasil há séculos.

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