PIB do agronegócio recua 3,2% em 2024 e se destaca entre setores negativos; especialista atribui queda a problemas climáticos

O PIB do agronegócio caiu 3,2% em 2024, com a divulgação das estatísticas do quarto trimestre de 2024 (4T24). Um desempenho negativo era previsto, mas o resultado veio ainda pior que a retração esperada de 2%.

De acordo com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a produção agrícola brasileira enfrentou condições climáticas adversas no ano, que reduziram as safras de grãos devido à redução da produtividade. 

Para Leandro Gilio, professor e pesquisador do Insper Agro Global, o agronegócio brasileiro sofreu uma redução de cerca de 7% na safra de grãos de 2023-24, devido a problemas no início do ano.

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“A demora na regularização de chuvas na janela de plantio gerou atraso na soja, por exemplo, além das baixas precipitações durante parte do ciclo das lavouras. Atrasos na primeira safra também afetam as janelas de produção da segunda safra. Isso afetou grandes regiões produtoras como Centro-Oeste e Matopiba”, afirmou Gilio.

O Brasil não foi o único país a enfrentar problemas climáticos. O professor cita que secas e queimadas no Vietnã afetaram a produção de café e influenciaram a alta de preços. O Cacau vive crise produtiva na África e os Estados Unidos (EUA) tiveram redução na produção de milho e bovinos.

Segundo a CNA, na contramão dos grãos, a pecuária foi o destaque positivo. Com base nos dados do IBGE, o abate de bovinos cresceu cerca de 14,9% em relação a 2023; o de aves teve alta de 2,5%; e o abate de suínos aumentou 1,1%. A produção das três proteínas atingiu volumes recordes.

O pesquisador ressalta que a pecuária teve um ano com momentos distintos em 2024. “No início do ano havia uma tendência de baixa de preços e problemas nas condições de pastagem estavam prejudicando a produção. Muitos pecuaristas aumentaram suas vendas para o abate, inclusive das fêmeas, para diminuir custos e perda”, disse.

Já no fim do ano, o mercado teve uma forte reação de preços, motivado pela forte demanda global, o que trouxe ânimo aos pecuaristas, de acordo com Gilio. “Como PIB é uma medida que se refere muito ao volume de produção, o recorde de abate reflete nesse crescimento”, afirma.

Clima mais favorável para o agronegócio em 2025

Segundo a CNA, a retração da agropecuária não deve se repetir em 2025, já que as condições climáticas estão mais favoráveis, possibilitando a recuperação da produção das culturas de verão como soja e milho

No segundo semestre, a expectativa é semelhante, com clima propício para impactar positivamente a produtividade agrícola. Para a CNA, o setor tem potencial para repetir 2023 e se tornar novamente o grande destaque para o crescimento do PIB nacional.

Gilio comenta que a previsão para 2025 é de safra recorde, com forte crescimento da produção de grãos. “Até o momento, o desenvolvimento das lavouras vem sendo adequado, principalmente no centro-oeste, apesar de alguns problemas hídricos registrados no Sul. Isso deve trazer impulso significativo para o crescimento no setor”, afirma.

Entretanto, apesar do clima favorável, o cenário macroeconômico pode impor dificuldades. O aumento dos custos de produção devido a alta dos juros e a depreciação do real em relação ao dólar devem representar desafios.

A CNA reforça a necessidade de políticas públicas voltadas ao setor, especialmente as de gestão de risco, como o seguro rural, e as de fomento à atividade, considerando possíveis restrições fiscais que podem afetar a disponibilidade de recursos orçamentários.

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