Djonga e a fome insaciável: novo álbum traz o equilíbrio entre a glória e a busca eterna

Djonga
Crédito: Coniin

Quando Djonga lançou Ladrão, em 2019, escreveu seu nome na história com um hat-trick raro no rap nacional: três discos impecáveis em três anos. Era a ascensão de um artista que, a cada rima, consolidava sua presença como a voz mais destemida de sua geração. Com isso, veio também um fardo: o de sempre superar a si mesmo. Assim nasceu o 13 de março como data sagrada, um dia marcado pela expectativa de um novo clássico.

Com o tempo, Djonga experimentou outras camadas de sua arte, buscou leveza, explorou nuances. Mas, para parte do público, essa transição teve um preço: os versos não cortavam como antes, o impacto parecia amortecido.

Agora, em Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!, ele volta a afiar a lâmina, resgatando a urgência e a brutal honestidade que fizeram dele um titã do rap nacional. O título não mente — a fome ainda existe, mas ela mudou de forma. É a fome por novos territórios musicais, por justiça, por traduzir seus dilemas internos em um discurso que mistura fúria e fragilidade.

O apetite de Djonga

Liricamente, Djonga mantém a sagacidade que o tornou referência, mas sua abordagem está mais densa. A crítica social continua afiada, mas se entrelaça a reflexões sobre religiosidade, ego e pertencimento. Há um homem por trás do rapper, um Gustavo que se despe de armaduras para entregar um disco de peito aberto. Em muitos momentos, o disco é menos do Djonga e mais do Gustavo.

O álbum dialoga com o amadurecimento, com a introspecção de quem já não precisa provar nada para ninguém, mas ainda sente a necessidade de se entender e se afirmar. A capa não mente: o ouro que escorre dos olhos é tanto símbolo de glória quanto de peso. É a dor que foi transformada em sucesso.

Djonga é um filho do rap que transformou suas dores em versos, sua vivência em hinos, sua luta em legado. E isso transparece em cada faixa, do início ao fim. “O poder te faz ser vilão igual Thanos / Já que agradar a Grego e Troianos / Não é o estilo dos manos / Uns pagaram de estrela / E viraram estrelinha“, rima ele, reafirmando que não há sucesso que o cegue da realidade.

O quarto gol de Djonga

Musicalmente, o álbum expande ainda mais seu universo sonoro. Com Coyote Beatz e Rapaz do Dread na produção, as batidas resgatam a essência do boom bap, mas se permitem flertar com o jazz, o blues e a riqueza da música brasileira. Há uma curadoria minuciosa para que cada batida complemente o discurso proposto, tornando a audição uma experiência tão emocional quanto impactante.

Os feats, por sua vez, complementam a potência do álbum, mas um deles se destaca como um momento histórico: Milton Nascimento, a voz de Deus, cantando ao lado do menino que já quis ser Deus. Um encontro de gerações que materializa um dos instantes mais emocionantes do disco.

Entre os pontos altos, duas faixas emergem como marcos do lirismo de Djonga: “JOÃO E MARIA”, que reinventa a fábula clássica com um coral arrebatador no refrão, colocando crianças no centro da narrativa, e “LIVRE”, onde ele sintetiza seu momento artístico e existencial com uma força visceral.

No fim, Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto! é mais do que uma retomada, é a afirmação de um artista que se recusa a se tornar cômodo, mesmo diante da glória. Este é, sem dúvidas, seu melhor álbum desde Ladrão.

É o trabalho de um artista que, consolidado, se recusa à estagnação. Que, apesar de todo o sucesso, ainda sente fome. E mostra que, enquanto essa fome existir, Djonga continuará nos entregando discos que reverberam muito além do rap — são discos que se tornam clássicos instantaneamente. Pode anotar mais um gol pra ele.

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