Manaus perdeu 1.100 campos de futebol em vegetação urbana nos últimos 20 anos

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O período de chuvas em Manaus tem sido marcado por diversos deslizamentos em diferentes áreas da cidade. O mais recente aconteceu na quarta-feira (19), na Rua da Paz, no bairro Fazendinha 2, Zona Norte.

Uma pessoa morreu e outras cinco ficaram feridas. De acordo com a Defesa Civil, nove casas foram atingidas e dez famílias foram diretamente afetadas.

No total, Manaus registrou 72 ocorrências durante a forte chuva que atingiu a capital neste dia, conforme informações da prefeitura.

A solução para evitar problemas como esse vai além de combater a ocupação desordenada e implementar políticas habitacionais permanentes. A resposta também envolve a proteção vegetal dessas áreas.

Perda de vegetação urbana

Entre 2003 e 2023, Manaus foi a capital brasileira que mais perdeu vegetação urbana proporcionalmente, com a redução de 1.157,6 hectares, o equivalente a mais de 1.100 campos de futebol.

Esse dado alarmante foi revelado pelo levantamento “Mapeamento Anual de Cobertura e Uso da Terra no Brasil – Coleção 9”, da rede MapBiomas.

A perda de áreas verdes tem gerado impactos diretos, como o aumento de deslizamentos, especialmente durante o período de chuvas.

Em 2003, a capital do Amazonas possuía 28,8% de vegetação urbana. Esse número caiu para 22,1% em 2023, refletindo uma diminuição expressiva em áreas de parques, praças e fragmentos vegetais no território da cidade.

Embora a perda seja expressiva de vegetação, Manaus continua a ser a sétima capital com maior área verde total, somando 6.263 hectares.

Mesmo com a redução, a cidade ainda supera outras capitais, mas fica atrás de cidades como Brasília, São Luís e Rio Branco, que possuem uma proporção maior de vegetação urbana.

Manaus e São Luís foram as capitais que registraram as maiores perdas, com reduções de 1.157,6 e 851 hectares, respectivamente.

O impacto da perda de vegetação e o papel da infraestrutura

De acordo com o especialista em geotecnia Marcos Barreto de Mendonça, professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deslizamentos são fenômenos naturais, mas a forma como o ser humano ocupa e altera o solo agrava o risco.

“Deslizamento é um processo natural, é a evolução das encostas. O problema é a exposição humana a essas áreas”, explica o professor.

Mendonça detalha que os terrenos de encostas são porosos, e durante a chuva, parte da água se infiltra no solo.

“Quando a água se infiltra, a pressão aumenta. Esse processo natural faz parte do ciclo hidrológico. Mas, se a quantidade de água se infiltrar demais, pode gerar uma pressão tão grande que o solo perde a resistência e desliza”, complementa.

O especialista aponta que, em regiões urbanizadas, como as áreas de encostas em Manaus, a falta de infraestrutura agrava o problema.

“Se não há um sistema de drenagem eficiente para coletar a água e direcioná-la para o pé da encosta, o solo fica mais suscetível ao deslizamento”, explica.

Os impactos nas comunidades mais vulneráveis

Mendonça também alerta para a condição das comunidades mais carentes, onde a infraestrutura é precária.

“Essas áreas são mais suscetíveis aos deslizamentos porque não há um sistema adequado de drenagem para controlar a água da chuva”, afirma.

Além disso, a ausência de saneamento básico em muitas dessas áreas contribui para o aumento da pressão da água no solo.

“O esgoto sanitário nas favelas, por exemplo, acaba infiltrando-se no solo, o que agrava ainda mais a situação. O esgoto é como uma ‘chuva antrópica’, provocada pelo ser humano, e não pela natureza”, detalha o especialista.

*Da redação com informações da Agência Brasil

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