Como as mudanças climáticas e a tecnologia remodelaram o negócio da Lojas Renner (LREN3)

Até algumas décadas atrás, as regras das estações do ano eram bem claras: primavera e verão eram sinônimos de calor, enquanto outono e inverno traziam temperaturas mais frias. Esse ciclo previsível moldou a indústria da moda, que lançava suas coleções de acordo com as variações climáticas.

Nos últimos anos, no entanto, as mudanças climáticas bagunçaram esse calendário, trazendo ondas de calor e frio fora de época. Esse novo cenário representa um desafio para as varejistas, que podem acabar com roupas de inverno encalhadas nas araras enquanto as temperaturas nas ruas chegam a 30°C.

Para lidar com essa incerteza, a Lojas Renner (LREN3) precisou adaptar as ofertas nas lojas para conseguir atender os clientes em qualquer época do ano e sem ficar com o estoque parado, independentemente da previsão do tempo.

O CEO da rede varejista, Fábio Faccio, afirma que a solução da empresa foi flexibilizar as coleções, apostando em peçaspara diferentes temperaturas e que permitam a sobreposição — substituindo, por exemplo, um casaco pesado por duas ou três blusas leves.

“Na moda, buscamos nos adaptar às mudanças nos hábitos das pessoas, que são influenciados pelo clima. Quando ocorrem ondas de calor em períodos tradicionalmente mais frios, como outono e inverno, ou frio intenso em épocas que deveriam ser quentes, precisamos de maior flexibilidade nas coleções. Isso se traduz em um aumento de itens de transição e peças mais versáteis”, destaca em entrevista exclusiva para o Money Times.

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A Renner sentiu na pele os efeitos das mudanças climáticas. Com sede em Porto Alegre (RS), a companhia viu o estado ser assolado pelas chuvas e enchentes em abril de 2024. Apesar dos danos materiais terem sido limitados — apenas 4% das lojas precisaram ser fechadas e nenhum centro de distribuição foi atingido —, mais de 300 funcionários foram impactados diretamente pelas inundações.

Além das adaptações no portfólio, a companhia tem investido em sustentabilidade como um pilar estratégico. O CEO defende que a ideia de que sustentabilidade e retorno financeiro estão de lados opostos é equivocada.

“Na verdade, muitas ações sustentáveis também são financeiramente vantajosas. Um exemplo disso foi a transição da cadeia produtiva para energias renováveis: inicialmente, nossa meta era atingir 80%, mas chegamos a 100% antes do prazo porque essa opção, além de ambientalmente responsável, também se mostrou economicamente mais viável”, diz.

Em 2022, a varejista lançou um novo conjunto de compromissos públicos, incluindo a meta de descarbonização até 2050, abrangendo não apenas suas operações diretas, mas toda a cadeia de fornecedores.

Uso da tecnologia na moda

Outro fator que também vem transformando o jeito da Renner de vender roupas é o uso de novas tecnologias. Segundo Faccio, a empresa utiliza inteligência artificial em diversas etapas do negócio, desde a análise do comportamento do consumidor até a captura de tendências — que podem surgir nas passarelas, redes sociais, ruas e na cultura pop.

“Nós contamos com o suporte da tecnologia para identificar, entre milhares de tendências e comportamentos, aquelas com maior probabilidade de serem adotadas pelos nossos clientes. A IA nos auxilia nesse processo, filtrando e organizando uma diversidade de informações, permitindo que a equipe tome decisões mais estratégicas na escolha das melhores tendências para nossas coleções”, afirma.

Além disso, a inteligência artificial e a automação logística ajudam a prever a demanda de cada produto, definindo a profundidade das coleções, a grade de tamanhos e quais modelos terão maior aceitação em cada cidade e loja específica.

Em 2024, a Renner investiu cerca de R$ 680 milhões em suas operações, concentrando os aportes em tecnologia, dados e infraestrutura. Para 2025, o investimento previsto é de R$ 850 milhões.

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