Guardiões da leitura: entre obras novas e antigas, Laguna mantém duas livrarias

Prateleiras que começam no chão e alcançam o teto, todas elas, sem exceção, abarrotadas de livros. Fisicamente, as obras impressas em papel não passam do telhado, mas seus escritos quebram as barreiras do pensamento e do velho ditado que “o céu é o limite”. Para quem lê e mergulha nas histórias ou estórias, cada nova página abre um mundo novo ou descortina a luz sobre um passado recente ou distante.

Por detrás de tanto livro, fruto do trabalho de um escritor, e de uma editora, existe um outro guardião, cuja função às vezes parece simples, mas é tão grandiosa quanto. Nesta sexta-feira, 14, no calendário de datas comemorativas, está o dia consagrado ao livreiro. Embora, oficialmente, não seja uma profissão reconhecida, a função de organizar estantes, mesclando obras mais vendidas com as menos famosas, é um trabalho – ou melhor, dá trabalho.

Na 13 de Maio, no Centro, está o Sebo de Manoel Olavo. A loja existe (resiste talvez seja o termo mais apropriado) há 22 anos e já trocou de endereço por três vezes. O estoque que começou pequeno, hoje passa dos milhares de exemplares. Mesmo com a mudança nos gostos, a venda de velhos livros ainda conserva seu público cativo. Ali as prateleiras exibem de tudo um pouco. Obras que contam histórias de Laguna, do Brasil, ensinam noções de Direito ou são romances nacionais ou best-sellers mundiais.

“Tem uns anos que estamos aqui. Compactamos o espaço e deixamos os que mais vendem”, descreve o proprietário, que mantém a loja com ajuda da esposa e da filha.

Manoel Olavo sabe bem da dificuldade que é a venda editorial. “Diminuiu bastante né, todo mundo sabe. A gente começou a se adaptar”.

Nessa mudança, o Sebo agora também vende discos de vinil, CDs e DVDs de música ou jogos, e até fitas cassete – uma delas tem um programa da Hebe, dos anos 80. Há revistas como a esportiva Placar e a “saudosa” Playboy brasileira. Gibis e mangás, febre entre os adolescentes de hoje, também têm espaço. “Com essa alavanca de filmes de herói tem surgido muito leitor novo”, comenta.

Manoel e Neusa comando o Sebo, da 13 de Maio. Foto: Luís Claudio Abreu/Agora Laguna

Trilha independente

“O livreiro tem importância fundamental na escolha dos livros e na forma de como trazer isso para uma livraria”. Quem faz essa declaração é de Arnaldo Russo. Editor independente , ele comanda a Coruja Buraqueira, na praça República Juliana, com foco nas obras novas – conhecidas ou não. Das mil páginas do clássico Guerra e paz, de Tolstói, à diagramação criativa de Entre a diáspora e a pólvora, do lagunense Preto Lauffer, há escritos sobre a realidade nacional contemporânea ou fatos vividos no tempo da Monarquia. Literatura e biografias estão na estante.

Russo faz parte do grupo cujo esforço não se mede apenas pelo lado financeiro, mas pela tentativa constante de resgatar a cultura da leitura. A Câmara Brasileira do Livro (CBL), em novembro, revelou um dado preocupante: mais da metade dos brasileiros não lê livros. É a primeira vez que a porcentagem dos não leitores (53%) supera quem lê.

A pesquisa, porém, traz um alento positivo. Santa Catarina detém o maior percentual de leitores que completaram ou não algum livro. São 64%.

Ele, porém, ressalva que o dado da CBL considera os livros vendidos com ISBN e nem todos possuem o código. “A leitura ainda continua sendo muito relegada à uma elitização do acesso ao livro e isso é consequente de um problema estrutural do ensino, ou seja, da educação, a gente não tem uma política muito clara [de incentivo]”, lamenta.

Arnaldo Russo e o foco nos independentes. Foto: Luís Claudio Abreu/Agora Laguna

‘Livraria do Juca’ marcou época

O fim do ano de 2006 marcou o encerramento de uma trajetória de quase um século. O 30 de dezembro foi o último em que a Livraria Santa Catarina, inicialmente na Raulino Horn e depois na Pinto Bandeira, esteve aberta.

Quando se destaca o trabalho árduo de livreiros em manter a cultura da leitura, relembrar a figura de José Carlos Ramos, o Juca, é obrigação. Herdeiro do negócio aberto pelo pai Carlos Ramos nos anos 1920, ele manteve a livraria mesmo diante dos avanços do computador e da internet, que começava a engatinhar.

Juca morreu quase seis anos após fechar o empreendimento, em outubro de 2012, aos 81 anos. O estoque foi adquirido pelo Sebo.

Os mais procurados

  • SEBO vende de tudo, mas não foge a regra: a Bíblia é o livro mais vendido, assim como ao redor do mundo. Entre as obras variadas, livros de Filosofia e Direito dominam. O Príncipe, de Maquíavel, é um dos mais procurados.
  • CORUJA BURAQUEIRA foca em oferecer opções variadas e dar espaço para o independente. Livros de autores conhecidos também ganham espaço, na literatura, as obras de Dostoievski aparecem em destaque.

Onde achar

  • SEBO LAGUNA. Rua 13 de Maio, Centro. HORÁRIO: Segunda a sexta, 8h30 às 18h. Sábado, 8h30 ao meio-dia.
  • CORUJA BURAQUEIRA. Praça República Juliana, Centro. HORÁRIO: Terça a quinta, 12h30 às 19h. Sábado, 10h às 15h
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