Dez anos sem João Vicente, radialista que foi porta-voz do lagunense

“Olha a hora que é muito importante para quem vai viajar, trabalhar ou estudar”, “A verdade deve ser dita e alguém deve dizê-la”, “São tantas horas na capital histórica de Santa Catarina”. Fale alguma dessas frases a alguém com mais de trinta anos e certamente ele vai associá-las a uma única voz. Ao longo de cinco décadas, foi essa a voz defensora do lagunense, cobrando autoridades e exigindo providências. Nesta quinta-feira, 13, faz dez anos que João Manoel Vicente nos deixou.

Nascido aqui em 30 de outubro de 1931, o filho de Manoel João Vicente e Maria Heleodora Machado queria ser militar, mas não conseguiu alcançar esse objetivo. A vida profissional iniciou no Sesi, em Criciúma, e depois como funcionário público no administrativo do Serviço de Medicina Social do antigo Inamps, antecessor do atual INSS. Foi nessa função que veio para Laguna.

Aqui, o jovem que desejava ser militar, encontrou outra forma de executar a missão de defender. Por volta de 1956, começou a trabalhar como locutor na Rádio Difusora, inicialmente, como substituto. Aos poucos foi ganhando espaço e ficava por muito tempo no ar, levando informação e prestando serviço ao ouvinte.

Partiu dele a ideia de criar a segunda emissora da cidade. A sugestão apresentada a Walmor de Oliveira, então candidato a deputado estadual, foi acatada, mesmo que para muitos isso fosse visto como loucura. O ano era 1959 e havia o temor que o município não tivesse força comercial para manter duas rádios. Medos deixados de lado, em 19 de agosto foi ao ar a Rádio Garibaldi – o nome deveria ser Anita Garibaldi, mas para evitar conflito com a estação que existia em Florianópolis, o título foi simplificado.

João Vicente foi a principal voz da nova rádio e responsável por anunciar que surgia ali “a mais popular emissora da cidade”. Entre idas e vindas, o radialista peregrinou pelas duas estações do município, uma prática muito comum nos tempos passados, além de ter dado expediente na Tubá, de Tubarão, e Eldorado, de Criciúma. Ficou na memória pelos editoriais do Grande jornal falado Garibaldi, que causavam frisson após a frase: “A verdade deve ser dita e alguém deve dizê-la”. Na passagem mais recente pela emissora que ajudou a fundar, permaneceu até o ano de 2005 já no comando do matinal Show do rádio. A despedida dos microfones foi em 2009, na Difusora, com o programa Cidadania, aos sábados.

João Manoel Vicente, em foto nos estúdios da Difusora – Arquivo/Difusora

Como porta-voz do lagunense e por influência de Walmor de Oliveira, o radialista também se envolveu com a política. Na década de 1960, acompanhado do padrinho político, ingressou no MDB, onde permaneceu até os anos 1990, quando teve uma rápida passagem pelo PFL. Foi duas vezes vereador eleito nos anos 1970, candidato a deputado estadual na mesma década, tendo recebida expressiva votação na cidade, mas sem força para lhe dar a cadeira no parlamento em Florianópolis. Tentou retornar ao Legislativo nos anos seguinte, mas ficou na suplência.

Na imprensa, além de ter sido colaborador em jornais da cidade, foi um dos artífices da criação do semanário O Correio, em 1995, ao lado de Paulo Sérgio Silva, Nazil Bento e Richard Calil Bulos. Também exerceu as funções de assessor de imprensa da prefeitura e da Câmara de Laguna em várias oportunidades. Quando faleceu, deixou os filhos Júlio Cesar Vicente, Aurora de Oliveira Remor, João Manoel Vicente Filho (Jango), Jacqueline de Oliveira Vicente Bittencourt, Maria Manoela Reis Vicente e viúva Glória Reis Vicente.

João Manoel Vicente também teve participação em sociedades de Laguna. Aparece como vice-presidente da União dos Artistas, de honra da Carlos Gomes e secretário da antiga Liga Lagunense de Futebol. No Carnaval, foi diretor da Os Democratas, fundador da Bem Amados (hoje extinta) e ao lado de José Lino de Oliveira e Ronaldo Pinho Carneiro, foi articulador para que a Vila Isabel rompesse fronteiras e se apresentasse na Argentina em 1970. Não se pode esquecer que também foi jogador de futebol, com passagem pelo histórico Barriga Verde, o periquito, e pelo Operário, de Criciúma. Uma trajetória enorme, que, como o próprio dizia, daria um livro.

Em memória de João Vicente

Em homenagem ao radialista, o Agora Laguna lança o especial Dez anos sem João com depoimentos de colegas de profissão, de diretorias e familiares. O material completo foi apresentado nesta quinta-feira, 13, durante o programa Agora manhã e pode ser assistido na íntegra no começo do texto.

Confira a seguir alguns depoimentos

  • BATISTA CRUZ, ex-radialista: “João Vicente foi e é sempre lembrado por sua vocação à imprensa”.
  • GLÓRIA VICENTE, viúva: “Ele amava muito Laguna e a rádio; e foi o grande amor da minha vida“.
  • JÚLIO VICENTE, filho: “Lembro que às 3h, eu acordava com a máquina dele datilografando“.
  • MARIA MANOELA, filha: “Era um pai rígido quando tinha que ser, mas sempre amoroso“.
  • RODRIGO BENTO, professor e ex-radialista da Garibaldi: “Ele usava no mínimo 40 trilhas, fundos musicais, por programa“.
  • VALMIR GUEDES JR., jornalista e escritor: “Não guardava para si o conhecimento, sempre ensinava os mais novos”.
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