Linha de crédito do governo amplia acesso, mas pode pressionar FGTS

O governo federal anunciou a criação do Crédito do Trabalhador, uma linha de financiamento voltada para trabalhadores formais, incluindo domésticos e rurais, com juros reduzidos e garantias lastreadas no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A iniciativa promete ampliar o acesso ao crédito e estimular o consumo, mas levanta questionamentos sobre possíveis impactos na sustentabilidade do FGTS e no risco de superendividamento.

Carlos Eduardo de Oliveira Jr., conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), avalia que a medida pode gerar efeitos positivos no mercado de crédito, especialmente para categorias que tradicionalmente enfrentam dificuldades para obter financiamento. “Essa linha de crédito pode impulsionar o mercado, proporcionando melhores condições para trabalhadores formais, domésticos e rurais que têm poucas opções de crédito”, explicou. Ele destaca que, ao reduzir os juros por meio da garantia do FGTS, os bancos podem oferecer condições mais atrativas e diminuir os custos do financiamento.

Entretanto, o economista ressalta que a medida só será bem-sucedida se os bancos aderirem à proposta e facilitarem o acesso ao crédito. “De nada adianta essa linha de financiamento se os bancos não abraçarem a ideia e oferecerem o crédito de forma ágil e simplificada”, alertou Oliveira Jr.

Outro ponto de atenção é o impacto da iniciativa no FGTS, que tem funções essenciais, como o financiamento habitacional e a aposentadoria dos trabalhadores. “Se mal estruturado, esse tipo de política pode gerar pressões no fundo e comprometer outras finalidades importantes. Além disso, sem educação financeira adequada, há o risco de que trabalhadores usem o crédito sem planejamento, agravando o endividamento”, apontou o especialista.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, concorda que há pontos positivos na nova linha de crédito, mas pondera que a implementação poderia ter sido melhor planejada. “Se essa medida tivesse sido lançada há um ano, quando os juros estavam caindo, faria mais sentido. Agora, em um momento de aperto monetário, desestimular o crédito é justamente uma das estratégias para conter a inflação. Isso pode limitar um pouco o efeito da política monetária”, analisou. No entanto, ele acredita que a iniciativa busca corrigir uma distorção estrutural, que são os juros elevados devido ao alto risco de inadimplência. “Os bancos ainda enfrentam inadimplência alta e um risco grande de não recebimento, o que encarece o crédito. Essa medida pode ajudar a equilibrar um pouco esse cenário”, explicou.

O uso da tecnologia na concessão do crédito também é um diferencial da medida. O economista destacou que a digitalização da carteira profissional pode agilizar processos e reduzir a burocracia no acesso ao financiamento. “Antes, os trabalhadores precisavam apresentar documentos físicos para comprovação. Agora, com a digitalização, o acesso ao crédito se torna mais rápido e menos burocrático”, afirmou.

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