Torture Squad é tetra no Wacken e prepara novo álbum na Europa

Torture Squad por Heitor Shewchenko
Foto por Heitor Shewchenko

Esses dias a gente ficou sabendo que o Torture Squad foi anunciado como atração do Wacken Open Air 2025, um dos maiores festivais de música pesada do mundo. Será um show muito simbólico: pela quarta vez eles pisarão nesse solo sagrado que habita o imaginário headbanger e se tornarão a banda brasileira que mais vezes tocou no fest.

Mais do que o Sepultura e o Angra, que estão no pódio com três e duas aparições. Mais do que o Krisiun, que é atração deste ano também e parte para sua terceira vez .

Eu quis entender como o Torture emplacou esse feito e chamei o baterista Amilcar Christófaro para uma conversa sobre os preparativos de carimbar mais uma vez o passaporte rumo à Alemanha.

Torture chega para esta apresentação em meio a uma discussão vigente sobre o futuro dos headliners nos grandes festivais — este ano, por exemplo, o nome principal do Wacken será o Guns N’ Roses (inserir emoji de olhos virados por minha conta!). Encabeçam os cartazes também Gojira e Machine Head (ufa!). Os ingressos já estão esgotados.

Bem, quem viu o Torture lá em 2007, quando a banda pisou pela primeira vez no Wacken, certamente verá agora uma versão bem mais lapidada. O grupo já passou dos 30 anos de estrada e equilibra tarimba de seu passado com a renovação da atual formação, que há uma década une os veteranos Castor (baixo) e Amílcar (bateria) aos mais jovens Rene Simionato (guitarra) e Mayara Puertas (vocal).

Desde sua última passagem pelo festival, muita coisa mudou no metal, principalmente com a ascensão das mulheres neste mercado — algo que o próprio Torture é um contribuinte direto ao ter interpretado muito bem os novos ventos e ter aberto espaço para Mayara estar no centro da coisa toda.

Amilcar conta que o recorde no Wacken que acontecerá no dia 31 de julho não foi premeditado e se deve a uma série de fatores encadeados. Atualmente a banda conta com um booker alemão (que é a pessoa que marca shows para bandas) e junto dele vislumbraram tentar bater novamente à porta do fest – que disse sim! 

“Por que não conversar com o pessoal do Wacken sobre a possibilidade de tocarmos lá novamente? Recebemos a resposta: ‘OK, sim, vocês vão tocar no Wacken 2025!’.”, comemora. “A gente nunca buscou por isso, é uma consequência do trabalho da banda. Acho que eles veem o Torture como uma banda atuante, relevante, que trabalha muito e lança materiais regularmente”, reflete.

A rede de apoio alemã do Torture é forte, conta Amilcar. Ela é uma construção que começou em 2007, quando a banda aportou no Wacken pela primeira vez e saiu vencedora do concurso promovido pelo fest, o Metal Battle.

O prêmio foi um contrato com a gravadora Wacken Records que lançou dois álbuns e ajudou a dar capilaridade internacional aos thrashers brasileiros. Amilcar lembra que o título foi muito comemorado sobretudo por amigos que sabiam se colocar nos sapatos do Torture, como os contemporâneos do Claustrofobia, que estavam por lá e hoje vivem a banda baseados nos Estados Unidos.

Novo disco

A ida ao Wacken em 2025 se alinha perfeitamente às intenções que a banda já tinha. A principal delas é sentar-se com o amigo e produtor Martín Furia, guitarrista do Destruction, para tirar do papel a gravação de um álbum em terras estrangeiras.

Será o terceiro disco com a formação que se cristalizou com Mayara Puertas nos vocais. 

“Quando planejamos 2025 para o Torture Squad, já tínhamos em mente uma turnê europeia e a gravação de um novo disco. Vamos aproveitar essa ida para isso.”

Devilish, de 2023, é o disco que embarca com o Torture para ser a base da apresentação no Wacken. Amilcar conta orgulhoso sobre o desenho de palco atual e garante que os tons de vermelho induzem o público ao estado de espírito do álbum, que tem a capa desenhada por Marcelo Vasco (Slayer, Testament, Kreator, Soulfly) e a marca da guitarra de Andreas Kisser, do Sepultura, na música Buried Alive”. Kisser e Amilcar dividem ainda a banda Kisser Clan

Levar Devilish a um dos maiores festivais de metal do mundo certamente ajuda a apagar o gosto amargo que restou à banda em 2020, quando o disco, que seria originalmente lançado naquele ano, foi engavetado pela pandemia. Ah, sim, Devilish tem teclados sci-fi e Mayara além do gutural como pontos a serem exaltados – atenção à faixa “Find My Way”.

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Um recomeço internacional

Devilish, do Torture Squad

Se hoje o Torture Squad retorna ao Wacken batendo recordes, na primeira vez que pisou no festival, nem pele de bumbo tinham: improvisaram ao cobrir a bateria com uma camiseta da banda! 

Certamente, em 32 anos de estrada com a banda, Amilcar já viu de tudo e se pode deixar um ensinamento para quem vem atrás dos caminhos pavimentados por eles é a indicação de que bandas devem investir na relação com um booker, para gerar shows em bom volume e alcançar uma gravadora para lançamento de discos. 

Na conta do Torture, ele explica, a relação com essas figuras externas sempre acabou abalada por motivos alheios à vontade da banda, mas agora, com novas pessoas chegando junto, chegam também as possibilidades. “Esse momento é como um recomeço internacional para nós”, avalia.

Com o investimento alto para tocar fora do país, a banda precisa pensar estrategicamente antes de atravessar o oceano em viagens como essa para o Wacken. Além dos shows, é essencial vender merch, fazer networking com jornalistas e produtores e criar novas oportunidades. E no meio disso tudo encontrar espaço para acompanhar alguns shows, claro! É o que o Torture fará.

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Retorno e consagração

O ano começou com uma grande perda: Cristiano Fusco, ex-guitarrista fundador do Torture, faleceu. Amílcar vê na trajetória do amigo, que foi responsável direto por integrá-lo à banda que hoje é tanto de sua identidade, uma lição de resiliência, ao apontar que o espírito aguerrido de Fusco é o grande legado que ele deixa para a banda.

É possível imaginar como é difícil equalizar as coisas para uma banda anterior ao digital que viveu todo tipo de mudança comportamental dos fãs, do mercado e das tecnologias, que alcançou outras gerações e coexiste com artistas jovens que surfam no hype e em algumas facilidades, talvez (mas esse pode ser assunto para uma próxima coluna!).

Se, em 2007, o Torture Squad chegou ao Wacken como uma banda promissora, improvisando no cenário, em 2024 eles voltam como donos de um recorde histórico para o metal brasileiro com uma jornada que está longe de acabar e que logo menos completará “Bodas de Coral”, representando bem a união dessa turma e o equilíbrio entre força e longevidade em quase 35 anos.

Com um novo disco a caminho, uma turnê europeia no horizonte e a presença internacional renovada, o Torture Squad volta ao Wacken para bater um recorde e para mostrar que o metal brasileiro segue vivo e relevante. E se você foi brasileiro em 1994 vai saber ler “é tetra!” da forma correta!

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