Oscar 2025: “Anora” ganhou o prêmio de Melhor Filme ou de Melhor Campanha?

A trajetória dos dez indicados a Melhor Filme no Oscar 2025, desde a nomeação até a vitória de Anora, foi uma das mais imprevisíveis da história.

Teve de tudo: polêmicas sem precedentes envolvendo Emilia Pérez; a participação de Ainda Estou Aqui, um filme brasileiro, concorrendo em mais de uma categoria; alguns “filmes de Oscar”, como O Brutalista e Conclave, mas sem uma produção que fosse franca favorita, como Oppenheimer foi em 2024.

Com tamanha igualdade, chega a ser reducionista dizer que o prêmio de Melhor Filme, na verdade, vai para a melhor campanha, mas isso não está inteiramente errado. Ao parar para analisar os últimos 10 vencedores da categoria, são poucos os casos em que o melhor filme – na visão do público – realmente ganhou.

Fica claro, então, que o vencedor do Oscar é aquele que fez o melhor circuito de premiações ao longo de toda a temporada, o que mais investiu em campanhas para divulgar a produção para os votantes (o famoso lobby) e, principalmente, o que soube aquecer o debate sobre si na reta final da votação.

Alvos da campanha e método preferencial

Isso tudo levanta uma questão: para quem é feita a campanha dos filmes que concorrem ao Oscar?

Claro, é importante que as produções sejam bem aceitas pelo público e que sejam assistidas pelo maior número possível de pessoas, mas, no fundo, a opinião que mais conta é a dos votantes da Academia. Esse grupo é formado por cerca de 10 mil pessoas ligadas à indústria e, a cada ano, passa a ter uma formação mais diversificada.

Filmes como Anora, Conclave, O Brutalista e o próprio Ainda Estou Aqui seguem um rito de amadurecimento. Ele passa pelos critérios que historicamente se entende como necessários para que um filme seja premiado e isso não tem a ver diretamente com a bilheteria.

Para que um filme se destaque entre os membros da Academia, às vezes, basta que ele se apresente como a opção mais segura, longe de polêmicas em redes sociais ou de fãs muito barulhentos (como os de super-heróis e outros blockbusters).

Nessa zona de conforto, Anora se destacou e provavelmente se beneficiou do método preferencial de votação. Na categoria Melhor Filme, os votantes fazem um ranking dos seus favoritos e o vencedor é aquele que consegue ficar em 1º lugar em mais de 50% das listas.

Caso nenhum candidato consiga esse feito, é identificado o filme que menos ficou em 1º lugar e seus votos vão para o 2º colocado nas listas dos votantes. Ou seja, Anora não precisa ter liderado todos os rankings, mas certamente foi a segunda opção de muita gente.

Foto: Reprodução

É importante lembrar que Anora venceu a Palma de Ouro, em Cannes, ainda em maio de 2024. O longa também levou para casa Melhor Filme no PGA Awards (o sindicato dos produtores) e no WGA Awards (o sindicato dos roteiristas), Melhor Diretor no DGA Awards (o sindicato dos diretores) e Mikey Madison ganhou Melhor Atriz no BAFTA, poucas semanas antes do Oscar. Ou seja, Anora soube se manter no topo das discussões tanto no início quanto no final das principais premiações da temporada.

Também é notável a atuação da produtora NEON, empresa que se define como fomentadora do cinema independente. O nível de especialização impressiona: os últimos cinco vencedores da Palma de Ouro, em Cannes, foram distribuídos pela NEONParasita (2019), Titane (2021), Triângulo da Tristeza (2022), Anatomia de uma Queda (2023) e Anora (2024).

Com a campanha começando imediatamente, quatro deles foram indicados ao Oscar de Melhor Filme no ano seguinte e dois ganharam o maior prêmio do cinema mundial: Parasita (2020) e Anora (2025).

Brasil fez bonito

Um bom exemplo de campanha bem realizada é justamente o representante brasileiro em 2025, Ainda Estou Aqui.

O investimento pesado realizado na distribuição do filme nos Estados Unidos foi um dos aspectos fundamentais, mas também dá para colocar nessa conta as escolhas de não entrar no combate direto com Emilia Pérez na mídia, o foco em Fernanda Torres como fonte inesgotável de carisma, com direito a participação em talk shows, entrevistas, perfis em revistas famosas…

Ainda Estou Aqui foi um marco histórico para o cinema brasileiro e latino-americano e pode ter aberto uma porta por onde vão passar muitas obras no futuro.

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Reprodução/YouTube

A importância das campanhas na corrida pelo Oscar não é novidade. A edição do ano de 1999 escancarou isso após surreais 13 indicações e 7 prêmios de Shakespeare Apaixonado – incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Original.

A figura por trás de tudo isso: o produtor Harvey Weinstein, que está preso por inúmeras acusações de abuso sexual, agressão e assédio. Ele era um dos homens mais poderosos de Hollywood na época e garantiu, nos bastidores, que seu filme teria sucesso.

E se alguém acha que brasileiros não gostam de Shakespeare Apaixonado só por causa da derrota de Fernanda Montenegro (Central do Brasil) para Gwyneth Paltrow (Shakespeare Apaixonado) naquele ano, vale lembrar que as outras atrizes da categoria eram Cate Blanchett (Elizabeth), Maryl Streep (Um Amor Verdadeiro) e Emily Watson (Hilary e Jackie).

Já em Melhor Filme, estavam indicados O Resgate do Soldado Ryan, A Vida é Bela, Elizabeth e Além da Linha Vermelha. Público e crítica são unânimes em apontar pelo menos um deles como uma produção de qualidade maior que o vencedor.

As estratégias de distribuição, as conversas de corredores e de jantares contam bastante – e olha que não sabemos quase nada do que realmente se passa ali por atrás das cortinas. Então, sim, a campanha é fundamental para a escolha do Melhor Filme no Oscar, seja criando uma percepção positiva (como em Parasita) ou deixando todos descabelados (como em Shakespeare Apaixonado).

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