Rashid revisita “Hora de Acordar”: o despertar que moldou sua trajetória no rap

Embora esteja em cena desde 2006, ano em que fundou com Projota e MC Artigo o grupo Strondu, o rapper Rashid começou a ser notado com mais atenção no universo do hip hop ao lançar, em 2010, o EP Hora de Acordar. Esse disco, que agora completa 15 anos, marcou o despertar do artista para sua carreira solo e consolidou a identidade de um dos MCs mais influentes da geração.

Mas Hora de Acordar não era apenas um título – era quase uma profecia, um chamado interno para o rapper. Ele relembra:

“Meus amigos ali, Emicida e Projota, já estavam fazendo seus lançamentos, fazendo barulho. E eu, como o mais novo dos três, estava esperando meu momento para poder fazer as coisas, enquanto ainda passava por um período sem muita perspectiva.”

O EP foi um rito de passagem, um grito de urgência para sair da inércia e transformar sonhos em realidade.

Com nove faixas, Hora de Acordar trouxe nomes que, na época, também davam seus primeiros passos em direção ao estrelato, como Rael (ainda conhecido como Rael da Rima), Fióti, MC Marechal e o próprio Projota. Os beats, criados por Laudz (futura metade do Tropkillaz) e Nave, ajudaram a moldar a sonoridade do disco, que transitava entre questionamentos internos, desafios sociais e a ambição de ir além.

O despertar do herói

Rashid descreve a estrutura do disco como uma jornada, mesmo sem ter consciência disso na época.

“Tem um pouco da coisa da jornada do herói, que na época eu não entendia o que era isso. Tem esse despertar, que é cheio de vontade, mas também de dúvida. O disco é cheio de questionamentos, seja sobre o poder, relacionamentos e conflitos internos. Até chegar na faixa final, que é quando eu alcanço a luz.”

Esse caminho de dúvidas e superação reflete o que muitos jovens da periferia vivem: o desejo de vencer, mas também o medo de não conseguir. Um dos versos mais marcantes do EP, “Verdade é a sua munição“, sintetiza um dos pilares do trabalho de Rashid.

“No meu trampo, a verdade é o estado natural das coisas. A verdade é a vida, é a maneira que eu enxergo a vida. Meu compromisso com a verdade é meu compromisso com a realidade. Essa é a maneira de tirar a casca que existem do lado artístico e o lado pessoal e me conectar com o ouvinte.”

Essa perspectiva se reflete em músicas como “E Se”, que brinca com cenários hipotéticos enquanto evidencia as dúvidas que permeavam a mente do rapper. A faixa foi escrita no ônibus, enquanto voltada de uma visita feita à casa de sua mãe – a sua zona conforto, segundo ele -, no interior de Minas Gerais.

“A música tem muito a ver com meus medos, apesar de abordar algumas coisas de forma lúdica. Quando eu falo de perder a chance de ter tudo na minha mão, eu estava cheio de medo, mano. Era um momento de muita dúvida pra mim. Eu achava que tudo ia dar certo e, meia hora depois, achava que tudo ia dar errado.”

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Do recomeço ao legado

O conceito do vazio também aparece ao longo do disco, seja na relação com o dinheiro, na música “Pronto pro Poder”, com a separação dos seus pais, relatada em “Por Quanto Tempo”, ou com o término de um relacionamento, como ele rima em “Bilhete”. De acordo com Rashid, essas inseguranças e problemas narrados serviram como um ponto de partida para novos passos.

“Existe esse conceito em japonês chamado Ma, que fala sobre um vazio em potencial, um espaço que pode ser preenchido. Quando falo sobre esses vazios, eles são oportunidades de transformação. São espaços onde você consegue fazer algo para transformar aquilo em alguma coisa melhor. Eu acho que o vazio ali que tratado em Hora de Acordar abre espaço para ser transformado em foco, por exemplo.”

Sobre o legado de Hora de Acordar, Rashid é categórico:

“Ele mudou tudo pra mim. É um disco que me fez ter uma agenda de shows, que me levou para os lugares, que me apresentou aos ouvintes. Eu tinha singles elogiados, mas o disco concretizou o que estava construindo. Não havia nada antes de ‘Hora de Acordar’ e, de repente, após o lançamento, existe tudo, inclusive uma estrada a ser seguida.”

Os 15 anos do EP não apenas celebram o começo de Rashid, mas reafirmam a atemporalidade de sua mensagem. O disco segue inspirando novos MCs e ouvintes que, como o jovem Rashid de 2010, buscam forças para despertar e transformar sua realidade.

“Esse é o legado que eu quero que as pessoas vejam nesse disco. Um legado de inspiração.”

Relembre Hora de Acordar logo abaixo!

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