Brasil pode ter 70% da população com sobrepeso até 2035, alerta Atlas da Obesidade

A obesidade avança rapidamente e pode afetar mais da metade da população mundial até 2035, segundo o World Obesity Atlas 2024, relatório da World Obesity Federation.

O estudo alerta que, se não houver intervenções eficazes, cerca de 4 bilhões de pessoas poderão estar acima do peso ou obesas nos próximos 11 anos, elevando os riscos de doenças crônicas e impactando os sistemas de saúde e a economia global.

Atualmente, cerca de 42% dos adultos apresentam alto índice de massa corporal (IMC ≥ 25 kg/m²), percentual que pode superar 54% até 2035.

Em crianças e adolescentes, os números são igualmente preocupantes: a obesidade e o sobrepeso devem atingir 770 milhões de jovens entre 5 e 19 anos, o que representa 39% da população infantil mundial.

O relatório mostra que o excesso de peso já contribui para cerca de 5 milhões de mortes anuais, o que equivale a 12% das mortes por doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer.

Além disso, a obesidade é responsável pela perda de 120 milhões de anos de vida saudável devido a incapacidades e enfermidades relacionadas.

A correlação entre obesidade e problemas de saúde se torna ainda mais evidente ao analisar doenças específicas. Cerca de 42% das mortes por diabetes tipo 2 estão ligadas ao alto IMC, assim como 19% das mortes por doenças coronarianas e 17% dos óbitos por AVC.

Brasil segue tendência global e enfrenta crescimento acelerado da obesidade

Os dados do Brasil refletem a tendência global e demonstram um aumento expressivo dos índices de obesidade no país.

Segundo o relatório, o número de adultos brasileiros com sobrepeso e obesidade pode ultrapassar 70% da população até 2035, caso não haja intervenções eficazes.

Atualmente, estima-se que 33% das crianças e adolescentes brasileiros estejam acima do peso, e esse número pode crescer para 45% em uma década. Esse avanço coloca o Brasil entre os países com crescimento mais acelerado da obesidade infantil na América Latina.

No que diz respeito às doenças associadas, o impacto da obesidade sobre a saúde dos brasileiros é significativo. O estudo aponta que o excesso de peso contribui diretamente para 15% das mortes por doenças crônicas no país, principalmente por complicações como diabetes tipo 2 e hipertensão.

A obesidade também pesa sobre o sistema de saúde brasileiro. Os custos com o tratamento das doenças associadas ao excesso de peso já representam mais de R$ 100 bilhões anuais, incluindo hospitalizações, medicações e tratamentos para complicações cardiovasculares, diabetes e câncer. Caso a tendência de crescimento continue, essa despesa pode se tornar insustentável para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Tendências regionais e desigualdades no avanço da obesidade

O crescimento da obesidade ocorre de maneira desigual pelo mundo. Enquanto países de baixa e média renda registram os aumentos mais acelerados, as nações desenvolvidas ainda concentram as maiores taxas absolutas de obesidade.

A Região das Américas lidera com 67% da população adulta acima do peso, podendo atingir 77% até 2035. A Europa também apresenta índices elevados, com previsão de que 71% dos adultos terão alto IMC nos próximos anos. O Sudeste Asiático e a África são as regiões onde a obesidade mais cresce, especialmente em países em desenvolvimento.

A relação entre crescimento econômico e aumento da obesidade também foi destacada no estudo. O relatório aponta que países com rápida expansão do PIB tendem a apresentar um crescimento proporcional nos índices de obesidade, especialmente devido à urbanização, mudanças nos padrões alimentares e maior consumo de alimentos ultraprocessados.

O impacto econômico da obesidade também é significativo. O relatório estima que os custos globais relacionados ao excesso de peso podem ultrapassar US$ 4 trilhões em 2035, representando quase 3% do PIB mundial.

O aumento das despesas com tratamentos médicos e a perda de produtividade são os principais fatores dessa elevação nos custos.

No Brasil, os custos diretos e indiretos da obesidade podem representar mais de 2% do PIB nacional até 2035, segundo projeções do estudo. Isso inclui gastos com internações hospitalares, redução da força de trabalho devido a doenças associadas e o aumento das despesas com medicamentos para tratar hipertensão, diabetes e outros problemas ligados ao sobrepeso.

Além dos impactos diretos na saúde e na economia, o estudo também relaciona a obesidade a questões ambientais. Há uma forte correlação entre alto IMC e aumento na emissão de gases do efeito estufa, além da produção de resíduos plásticos e do consumo elevado de proteína animal e açúcares, fatores que impactam diretamente a sustentabilidade ambiental.

Diante das projeções alarmantes, o World Obesity Atlas 2024 reforça a necessidade de ações globais coordenadas para frear o avanço da obesidade. Entre as recomendações do relatório estão:

  • Políticas públicas para promover alimentação saudável, reduzindo o consumo de ultraprocessados e incentivando dietas equilibradas;
  • Regulação da publicidade de alimentos não saudáveis, especialmente voltada para crianças;
  • Incentivo à atividade física, com planejamento urbano que favoreça espaços públicos para exercícios;
  • Fortalecimento dos sistemas de saúde para oferecer tratamento adequado e acessível para pessoas com obesidade;
  • Investimentos em educação alimentar e nutricional, visando conscientizar a população sobre escolhas saudáveis.

O relatório destaca que nenhum país do mundo está no caminho para cumprir a meta de estabilizar os índices de obesidade até 2030, estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Sem medidas concretas, o problema seguirá crescendo, tornando-se um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI.

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