“25 anos questionando as autoridades”: conversamos com Joe Principe, do Rise Against, antes de shows no Brasil

Joe Principe com o Rise Against em SP, Lolla Party-11
Foto por Stephanie Hahne/TMDQA!

Chegou a hora dos fãs do Rise Against curtirem mais alguns shows da banda por aqui — e agora com novidades a caminho.

O grupo liderado por Tim McIlrath desembarca no Brasil nesta quinta-feira (6) para uma série de apresentações ao lado do Offspring e de outras grandes bandas no evento que ficou conhecido como Punk Is Coming. Vindo pela quinta vez ao país, a última em 2023 no Lollapalooza, a banda volta com o novo single “Nod” e prometendo também o sucessor de Nowhere Generation (2021). Ah, vale dizer, o novo disco foi gravado totalmente ao vivo.

Quem nos contou isso foi o baixista Joe Principe, com quem batemos um papo na última segunda-feira (3). Bastante empolgado com a nova fase do Rise Against, o músico falou um pouco sobre o que podemos esperar para os shows por aqui, além de comentar também sobre seu passado na cena Punk de Chicago, a militância do grupo, como navegar na “era do algoritmo” e muito mais.

Confira nossa conversa abaixo!

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TMDQA! Entrevista: Joe Principe, do Rise Against

TMDQA!: Obrigada por tirar um tempinho pra falar com a gente! Essa vai ser a quinta vez do Rise Against tocando aqui no Brasil, agora com a promessa de um novo disco e com o single “Nod” na área. O que podemos esperar desse show e o que você está esperando?

Joe Principe: Olha, a gente tem tocado músicas que representam todo o nosso catálogo, desde “Nod” até as faixas mais antigas. Então eu ainda não sei exatamente como vai ser o setlist por aí, mas queremos incorporar todas as eras. Tem algo legal pra todo mundo que vai nos ver.

TMDQA!: E como você descreveria essa nova era que o Rise Against está entrando? Você pode nos dar um spoiler?

Joe: É, nós passamos os últimos 25 anos sem ter medo de questionar as autoridades. E nosso plano é passar os próximos 25 anos, ou sei lá quanto tempo, fazendo o mesmo, sabe. Eu acho que agora é o momento de refletir no passado que c9riamos, no legado e com a intenção de seguir em frente, de carregar essa tocha. Mas nesse disco, o processo de gravação foi bastante diferente. Gravamos a maior parte dele ao vivo, e eu acho que é por isso que ele soa diferente dos nossos outros discos, sabe.

TMDQA!: Você disse que quer continuar fazendo isso pelos próximos 25 anos… Sendo essa banda tão vocalmente política, como vocês fazem para não ter um “burnout”, principalmente em tempos tão difíceis?

Joe: Eu acho que a gente aprendeu a equilibrar nossa vida em casa e na estrada. Sabemos que, se ficarmos muito tempo fazendo isso, será estressante para a banda e para as nossas famílias. Então acho que tentamos estabelecer esse equilíbrio saudável entre as duas coisas, assim sempre será legal também, e a gente vai continuar amando tocar. É uma questão de ser esperto com esse equilíbrio.

TMDQA!: Nos últimos dias, a Shirley Manson do Garbage falou sobre o novo disco da banda, que terá uma mensagem mais positiva que os últimos, já que ela acha importante trazer “mais luz” para esse momento politicamente complicado. Isso é uma preocupação do Rise Against na hora de fazer música? Ou o mindset é outro?

Joe: Acho que a gente sempre tentou navegar no conceito de que há esperança, mesmo quando o mundo está muito sombrio. Sempre há esperança, sempre há espaço para mudanças e sempre haverão boas pessoas dispostas a se unirem para instigar essas mudanças quando há algo de errado. E sabe, o momento que estamos vivendo agora tem sido muito esmagador. Muito sombrio. E essa atual presidência [de Donald Trump] estará aí por quatro anos, e eles não podem liderar por mais que isso. Apenas não podem. Já foram dois mandatos.

Queremos usar a música para melhorar nossa saúde mental, para nos aproximar de nossos fãs e da nossa comunidaed, porque é isso que temos agora. Temos esperança e temos uns aos outros, e a música sempre será esse veículo para deixar tudo mais leve. Foi assim que eu cresci ouvindo as bandas que eu amava, então acho que estamos fazendo nosso melhor [nesse quesito]. E, sabe, a gente passou por cinco presidentes diferentes desde que a banda começou. Houveram tempos mais sombrios e alguns menos, mas temos que passar por isso. É fácil se sentir oprimido quando você pensa em tudo isso de uma vez, mas precisamos nos apoiar nas nossas comunidades e continuar caminhando.

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TMDQA!: Concordo. Agora olhando para trás, mas para a sua carreira… você tinha uma banda chamada 88 Fingers Louie nos anos 90, com a qual você lançou vários discos e EPs. Pensando no Rise Against e também no seu outro projeto, o Dead Ending, qual você diria que é o elemento da cena Punk de Chicago do começo dos 90 que você ainda carrega? E você acha que ele tem alguma influência no show do Rise Against ainda hoje?

Joe: Pra começar, acho que o senso de comunidade, aquele senso de pertencimento e uma vibe de família. Todas aquelas bandas do começo dos anos 90 em Chicago que tinham minha idade, todos nós éramos muito próximos. Estou falando de nomes como Los Crudos, até bandas do Emo como Cap’n Jazz, e outras como o Screeching Weasel. E, sabe, a gente realmente se apoiava, era uma frente muito unida, todos queriam se ajudar.

Mas pensando no 88 Fingers Louie… a gente não era uma banda muito séria. Nossas letras eram bem bobas. E eu realmente queria ter algo mais voltado para bandas como 7 Seconds e o Minor Threat, que foram minhas influências quando eu estava crescendo. Foram grupos muito inspiradores e que buscavam por mudanças. Então eu quis que o Rise Against fosse mais sério. Quando chamamos o Tim para cantar, lá no começo, foi meio que natural — as letras dele apenas foram nessa direção. Então foi uma progressão muito natural.

TMDQA!: Como falamos lá no começo, essa é a sua quinta vez com o Rise Against no Brasil. Tem alguma memória de quando vocês tocaram aqui que te marcou?

Joe: Nossa, são tantas. Mas acho que a mais marcante foi tocar no Lollapalooza [em 2023], foi muito doido fazer parte daquela comunidade. O ambiente do backstage… sabe, éramos nós, esses quatro caras punks, perto de nomes como Billie Eilish (risos). Mas foi muito legal, e foi muito acolhedor também. Mas é sempre maluco fazer parte de festivais de Pop tão grandes, então foi muito legal. A gente sempre gosta de tocar no Brasil e de viver essa cultura, sabe, é sempre muito bonito e o clima é ótimo. Tá muito frio aqui.

TMDQA!: E aqui tá muito quente!

Joe: Pois é, exatamente! Estou ansioso para conseguir ficar um pouco na piscina (risos).

TMDQA!: Ainda falando sobre essa conexão com o público, hoje é muito mais fácil receber feedback e até críticas por conta da internet. Você acho que isso, de alguma forma, tem moldado a forma como o Rise Against faz música?

Joe: É, hoje tudo é sobre o algoritmo. Alimentar isso é um saco, e eu vejo meus filhos entrando nesse buraco e como isso os afeta. Às vezes pode ser positivo, mas também é muito negativo. Eu não gosto de pensar que as redes sociais direcionam meus filhos no que eles devem vestir ou como devem se comportar. Quero que eles sejam individuais, sabe? Quero que eles mantenham sua individualidade, e isso tem sido difícil com as redes sociais.

Quero dizer, quando a gente estava começando, eu não sabia o que era considerado legal. Eu apenas sabia o que eu gostava e eu queria ser eu mesmo. É por isso que acabei indo mais para o skate e o Punk, porque a gente fazia por nós mesmos e não pelos outros. Em 2025, tem sido muito difícil de navegar por todo esse ruído e conseguir estabelecer sua individualidade. Eu, pelo menos, falo para os meus filhos que nada disso importante. Essas coisas não têm importância de verdade. Mas é difícil, porque eles querem se conectar com seus amigos, e eu noto isso nos nossos fãs também. É difícil perceber essas coisas. Então a gente só tenta nosso melhor para ter certeza que somos vocais sobre esses assuntos.

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TMDQA!: Total. Bom, estamos encerrando aqui, mas ainda quero te perguntar sobre o Punk Is Coming. Vocês vão tocar nesse festival cheio de grandes nomes do Punk por aqui, que imagino que seja muito mais familiar que o Lollapalooza. E, além dos já conhecidos, o line-up também conta com nomes novos e bem interessantes. Tem alguma banda nova que você está ouvindo e quer nos indicar?

Joe: Sim, tem duas que estou ouvindo muito ultimamente. Uma se chama Home Front, eles são do Canadá. Eles tocam esse tipo de Punk mais velho, tipo um Street Punk com um pouco de New Wave misturado. E tem também o The Chisel, de Londres. Eles também são meio Street Punk, e têm essas músicas muito pegajosas e poderosas. Então tenho ouvido isso aí.

É muito legal ver esse tipo de som estar em alta de novo, sabe, com a nova geração. Porque eu cresci ouvindo isso. Então, é isso, tem sido muito legal ver essas duas bandas progredindo e ficando mais populares.

TMDQA!: E você começou na música com 15 anos, bastante jovem. Qual conselho você daria para essa nova geração que está interessada no Punk, ou na música no geral?

Joe: Eu diria que, pra começar, siga o seu coração, faça aquilo que te faz feliz musicalmente e, também, pratique o máximo que puder. Eu praticava todo santo dia. E hoje em dia é muito mais fácil aprender suas músicas favoritas no YouTube. Sabe, quando eu estava crescendo, eu tinha que ficar ouvindo uma música várias e várias vezes até entender o que estava sendo tocado (risos). Mas é, siga o seu coração e pratique muito.

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