Bons hábitos no trânsito compensam

Acho que todos concordam que dirigir veículo automotor ou de tração humana seja algo complexo, embora à primeira vista não pareça. Isso fica evidente quando estamos dando nossos primeiros passos no trânsito, como as tarefas parecem muito difíceis e complicadas, um sufoco só. Exatamente por isso considero a profissão de instrutor uma das mais nobres. Como é difícil ensinar a dirigir!

Depois de algumas aulas começa-se a ficar mais à vontade, as “broncas” do instrutor diminuem, porém começa uma fase que acompanhará o motorista, ou motociclista, ou ciclista per toda a vida: a formação e a conservação dos bons hábitos. São eles os auxiliares indispensáveis para o que chamo de Dirija & Sobreviva.

Exagero? Parece, mas não é. O trânsito nosso de cada dia é um ambiente hostil por natureza e nisso os bons hábitos ajudam a cumprir a “missão” diária com sucesso. Exemplos são muitos, mas alguns se destacam.

Diversos carros coloridos parados com os faróis acesos na SC-401
Trânsito lento e parado na SC-401 [Ricardo Pastrana/ GMF/ ND Mais/ Reprodução]

Como o cigemac. Só quem faz curso de piloto de aviões, como eu, sabe o que significa a estranha palavra, na verdade uma sigla. Ela nada mais é que a verificação que o piloto tem que fazer antes de decolar, como ter certeza de que os comandos básicos (C) — ailerons, elevador, leme — estão livres, se os instrumentos (I) do motor indicam estar tudo normal, se a torneira de combustível (G) está aberta, se o estabilizador (E) está na posição neutra, se os dois magnetos (M) estão normais, se o ar quente (A) para o carburador encontra-se devidamente fechado e se a cabine (C) está pronta para o voo (cinto, porta e janelas).

Isso num avião de treinamento primário. Num jato comercial há uma extensa lista de verificações (checklist) a ser cumprida antes de cada voo. E, claro, não há trânsito.

Trânsito de carros na SC-404 com diversos modelos diferentes e vistos de trás
SC-404 no último dia 19/11 [ND Mais/ Reprodução]

No automóvel

Um bom hábito é fazer uma rápida inspeção “pré-rodagem”: se os quatro pneus estão com aspecto de estarem com pressão normal, se o pedal de freio está com altura normal (há carros em que é preciso pressiona o pedal para pôr o motor em funcionamento), se o banco está bem ajustado, o mesmo com os espelhos. Até porque, depois de horas no trânsito, seu corpo não aguenta.

Aqui uma curiosidade. Os espelhos foram ajustados, o carro iniciou a jornada e ficou estacionado até a hora de voltar para casa. Ao pegar o volante nota-se que espelho interno está alto e é ajustado. Mas na manhã seguinte a inspeção pré-rodagem mostra que esse espelho está muito baixo. O motivo não é alguém ter mexido no espelho, mas a coluna vertebral que muda de comprimento. Ao longo dia ela vai encolhendo, ao dormimos ela “estica”.

Trânsito
Trânsito na Grande Florianópolis [Flávio Tin/ Arquivo/ ND Mais]

Outro bom hábito é fazer valer o que significa luz vermelha no caso de sinais de trânsito: parar, jamais avançar mesmo com a certeza de que “não vem nada”. Por quê? Porque um dia pode-se avançar um sinal vermelho automaticamente, “vem alguma coisa” e é desnecessário explicar o que pode acontecer.

Exatamente de mesma intensidade — e risco — é não aquilatar a importância da placa de parada obrigatória, a “Pare”. Parar só tem um significado e desobedecer esta ordem é a mesma infração (gravíssima) de avançar o sinal vermelho, 7 pontos e multa de R$ 293,47.

motoristas
Veículos têm cada vez mais sistemas de segurança (divulgação)

Bom hábito também é não pensar “Oba!” ao se deparar com um sinal apagado no trãnsito, mas considera-lo uma placa “Pare”, ou seja, parar, analisar a situação e só depois prosseguir.

Para encerra a lista de bons hábitos de hoje, entender que a sinalização de linha férrea não é para se dar uma meia trava, é para parar mesmo! Parado, é verificar se vem trem nos dois sentidos e ouvir, o famoso “Pare, olhe, escute”. Não há nada mais ridículo do que ser apanhado por um trem, sinal de massa marrom na caixa craniana em vez de cinza.

Certa vez, no Rio de Janeiro, um ônibus urbano não parou, foi colhido por um trem, rodou e atingiu um poste, que caiu e matou uma mulher. Perguntado por uma repórter de televisão se não viu o trem se aproximando, o motorista respondeu “vi, tanto que buzinei mas ele não parou.”

Até a semana que vem.


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