Desaceleração maior do PIB brasileiro seria ‘muito positiva’ e indicaria eficácia da política monetária, diz Mansueto, do BTG

Uma desaceleração maior do que a esperada no Produto Interno Bruto (PIB) seria “muito positiva” para o Brasil, pois sinalizaria que a política monetária do país está funcionando, disse o sócio e economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, nesta terça-feira (25) no evento CEO Conference.

A atividade brasileira desacelerou no final de 2024, mas a reaceleração dos salários e resiliência do crédito indicam demanda ainda aquecida no curto prazo e sugerem que a acomodação em curso é resultado da escassez dos fatores de produção.

As projeções do banco para o PIB de 2025 e 2026 são de 1,5% e 1,4%, respectivamente. No entanto, eles veem riscos altistas para a demanda agregada nos próximos dois anos, caso novas medidas de expansão fiscal, parafiscal e creditícia sejam implementadas.

Esse risco fiscal é, justamente, o ponto levantado por Mansueto no evento: “O que temos escutado é o anúncio de novos programas, que acabam machucando a expectativa de que a política monetária vai funcionar, a inflação vai cair e as expectativas vão reancorar”. 

Ontem (24), o presidente Lula anunciou o pagamento de R$ 1 mil aos jovens do Pé de Meia, a partir de hoje, e a gratuidade integral para todos os remédios da Farmácia Popular. O governo também prepara uma Medida Provisória (MP) para liberar o FGTS aos trabalhadores demitidos que aderiram à modalidade de saque-aniversário.

Além disso, há uma promessa de ampliar o programa Auxílio Gás para 22 milhões de famílias e é esperada uma MP para facilitar o acesso ao crédito consignado no setor privado.

“Hoje tem uma incerteza no mercado se o governo irá fazer algum tipo de programa de expansão parafiscal. Fica essa dúvida se vão aceitar essa desaceleração da economia que deve acontecer com juros tão alto ou não”, disse o economista-chefe do BTG.

Mansueto ainda questionou: “O governo vai colocar novos programas que vão fazer com que a política fiscal trabalhe contra a política monetária? Hoje, não conseguimos responder essa pergunta de forma clara”.

Segundo ele, o “grande medo” é o governo colocar as políticas monetária e fiscal para trabalhar uma contra a outra — isso pode se traduzir em um cenário de muito mais volatilidade em 2025 e 2026.

O economista afirmou que, no momento, o governo Lula precisaria dar um sinal de maior conservadorismo fiscal. “Se o governo desse um sinal mais claro que está fazendo um esforço fiscal adicional maior, teria um grande ganho na redução de juros longo. Mas esse sinal hoje não está colocado”.

Selic ainda restritiva

Sem sinal claro de ajuste fiscal, o BTG projeta que a Selic atinja seu pico no patamar de 15,25% ao ano, com uma alta de 1 ponto percentual (p.p.) em março e duas de 0,50 p.p. em maio e junho.

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Com o cenário ainda desafiador para a convergência da inflação à meta, em função da combinação de hiato positivo, apesar dos sinais de desaceleração da atividade, inflação corrente acima do teto da meta e expectativas ainda em processo de desancoragem, o quadro continuará exigindo uma postura restritiva do Banco Central.

Os economistas dizem que seguem atentos aos comentários dos membros do comitê a respeito de sinais de desaceleração da economia.

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