Política monetária e empreendedorismo: Brasil e EUA em caminhos opostos

A política monetária do Brasil e dos EUA estão em caminhos opostos há um tempo. Vemos juros em trajetória de alta por aqui, alcançando níveis recordes, e uma redução progressiva das taxas pelo banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed).

Nesse cenário, os pequenos e médios empreendedores são uma medida importante dos impactos das mudanças no custo de crédito e de como cada país leva a sua cultura empreendedora em consideração na formulação de políticas públicas.

A taxa de inflação nos EUA continua acima da meta de 2% do Fed. Mesmo assim, em janeiro, a instituição manteve o juro básico na faixa de 4,25% a 4,5%, após cortar um ponto percentual inteiro nas últimas três reuniões de 2024. Ainda está prevista uma redução de 0,25 ponto percentual em junho, mas os analistas de mercado começam a tirar da precificação outras reduções neste ano. Afinal, com uma taxa de desemprego baixíssima, em 4%, a economia dos EUA está forte no geral e fez progressos significativos em direção às metas nos últimos dois anos, conforme afirmou o chairman do Fed, Jerome Powell.

Já no Brasil, a inflação está bem acima da registrada nos EUA, e o desemprego, embora esteja em suas mínimas históricas, segue na faixa de 6%. Em meio a incertezas sobre a condução da política fiscal do governo federal, os indicadores de confiança empresarial e do consumidor seguem em baixa. A concessão de crédito em janeiro registrou uma leve alta, e a inadimplência, leve redução. Mas, devido a uma inflação que caminha para estourar a meta, o Banco Central (BC) trabalha em trajetória oposta à do Fed nos EUA, elevando a taxa básica de juros (Selic).

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Assim, com o nível do juro básico elevadíssimo, em 13,25%, e seguindo para a casa dos 15% ainda neste ano, segundo expectativas do mercado, tudo aponta para uma maior dificuldade na obtenção de financiamento por empresários e famílias, e uma subsequente elevação da inadimplência, com encarecimento do crédito. Com a economia nacional em provável desaceleração, os negócios de micro e pequeno porte são os que mais sofrem para se financiar e viabilizar suas operações.

Hoje, os juros nos EUA são considerados altos – na faixa de 4%. Mas, lá, alguém que queira comprar um carro ou um empresário que busque financiar suas operações consegue condições de crédito muito mais favoráveis que no Brasil.

Apesar disso, aqui, mais e mais surgem opções para quem precisa de um financiamento sob medida e sua necessidade e perfil. Levando em conta aspectos além da pontuação de crédito – critério predominante nos EUA -, a progressiva descentralização e desbancarização do crédito no Brasil é um passo fundamental para o desenvolvimento econômico do país.

Mesmo agindo de acordo com as necessidades de suas respectivas conjunturas econômicas atuais, a diferença da atuação das autoridades monetárias nos EUA e no Brasil exemplifica como cada um dos países historicamente preza por seus consumidores e empreendedores.

Ao que tudo indica, no Brasil, os empreendedores autônomos brasileiros terão um ano árduo. Mas de nada adianta lamentar os juros altos. Nossa economia sentirá os impactos de mudanças na economia dos EUA, inclusive na direção das políticas comerciais e monetárias. O mesmo olhar que acompanha de perto os desenvolvimentos fora, precisa se voltar para dentro. O que podemos fazer com o cenário que nos foi dado, dentro da esfera que podemos controlar? Nessa situação, mais do que nunca, a diversificação, humanização e inovação na área de crédito são imprescindíveis para apoiar o empreendedor, ainda insuficientemente assistido pelas políticas públicas.

Assim, para evitar um impacto forte para esses empreendedores autônomos e MEIs é preciso fortalecer os players que possuem foco nestas classes, pois são os que financiam os que estão na base da pirâmide e são muitas vezes esquecidos pelo sistema financeiro tradicional – tanto que apenas 3 em cada 10 conseguem empréstimos e somente 10% deles obtêm crédito por meio dos grandes bancos.

Vale destacar que não estamos falando de um número irrelevante. Há no país cerca de 42 milhões de empreendedores, dos quais 95% são pequenos negócios, de acordo com o Sebrae, que respondem por 30% do PIB nacional. Essa imensa quantidade de pessoas precisa, também, ter acesso ao crédito para que, assim, continue impulsionado o país.

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