Hamas diz que entregou corpo de Shiri Bibas à Cruz Vermelha após Israel afirmar que restos mortais recebidos não eram da refém


Grupo terrorista palestino havia indicado que restos mortais de Shiri, mãe da família que se tornou símbolo do sofrimento dos reféns israelenses, podiam ter sido trocados em Gaza. Não devolução do corpo dela é ‘violação cruel’ da trégua, diz Netanyahu. Shiri Bibas, que foi sequestrada e levada para Gaza em 7 de outubro de 2023, com o filho caçula
Hostages Family Forum via AP
O Hamas afirmou que entregou o cropo pertencente à refém Shiri Bibas à Cruz Vermelha nesta sexta-feira (21). A informação foi dada pela rede de TV Al-Aqsa, controlada pelo grupo terrorista, e noticiada também pela Al Jazeera, do Catar.
Mais cedo, o Hamas havia afirmado que os restos mortais de Shiri podiam ter sido trocado pelos de outra pessoa na Faixa de Gaza. O grupo terrorista admitiu “a possibilidade de um erro” após Israel afirmar que os restos mortais devolvidos não eram compatíveis com o da refém.
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Segundo a Al Jazeera, a Cruz Vermelha confirmou o recebimento de um novo caixão. Pelo acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas que entrou em vigor em janeiro, a entidade atua como mediadora da troca de reféns e prisioneiros entre Israel e palestinos.
Shiri Bibas, sequestrada em 7 de outubro de 2023 quando tinha 32 anos, morreu em cativeiro, e seu restos mortais foram devolvidos pelo Hamas na quinta-feira (20), junto dos corpos de seus dois filhos, também sequestrados com ela, e de um refém idoso. A família se tornou o símbolo da luta pelo retorno dos reféns (Leia mais abaixo).
Mas, após autópsia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que os restos identificados como os de Shiri Bibas não são dela, mas de uma moradora de Gaza não identificada. As Forças Armadas de Israel também disseram que análises de DNA dos restos reveleram o erro.
Em comunicado nesta sexta, o Hamas alegou que os restos mortais de Shiri podem ter sido misturados com outros corpos sob os escombros de um ataque aéreo israelense que atingiu o cativeiro onde estava — o grupo terrorista atribui a morte da família Bibas ao bombardeio. Já Israel disse que a análise dos restos mortais revelou que eles foram assassinados em cativeiro.
Ainda de acordo com o comunicado do Hamas, o grupo disse que vai investigar o caso, e que os resultados serão anunciados em breve.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de ter cometido uma “violação cruel” da trégua em Gaza pela troca dos corpos, e disse que Israel atuará “com determinação” para trazer Shiri Bibas de volta ao país. Ainda na quinta-feira, Israel pediu a devolução do corpo dela imediatamente e considerou o caso uma “violação de extrema gravidade”.
“Agiremos com determinação para trazer Shiri de volta para casa, junto com todos os nossos reféns – tanto os vivos quanto os mortos – e garantiremos que o Hamas pague o preço total por essa cruel e brutal violação do acordo. (…) Nós os vingaremos”, afirmou Netanyahu.
Em resposta, o Hamas rechaçou as ameaças de Netanyahu e disse que continuará com a implementação do acordo de cessar-fogo. Também nesta sexta-feira, o grupo terrorista divulgou os nomes dos seis reféns que serão libertados no sábado (22).
A Cruz Vermelha também afirmou nesta sexta-feira à agência de notícias Reuters estar “preocupada e insatisfeita” com a forma como as operações de liberação de reféns pelo Hamas têm ocorrido.
A entrega dos corpos dos reféns causou comoção nacional em Israel. Horas após a entrega dos corpos, Netanyahu prometeu eliminar o Hamas e trazer todos os reféns de volta.
Identificação dos corpos
Comboio com corpos passa por Tel Aviv
REUTERS/Nir Elias
A reveleção de Israel que os restos mortais não pertencem aos de Shiri Bibas surgiu na noite de quinta-feira, após o Hamas devolver os corpos.
“Durante o processo de identificação forense, foi determinado que o corpo adicional recebido não é o de Shiri Bibas, e nenhuma correspondência foi encontrada para qualquer outro refém. Este é um corpo anônimo, não identificado”, diz um comunicado das Forças Armadas.
A perícia, ainda segundo as Forças Armadas, confirmou ainda os outros corpos devolvidos correspondem de fato aos de Ariel e Kfir Bibas, filhos de Shiri, e de Oded Lifschitz, de 83 anos, o outro refém morto cujos restos foram entregues junto da família Bibas.
“Essa é uma violação de extrema gravidade pela organização terrorista Hamas, que é obrigada, sob o acordo [de cessar-fogo], a devolver quatro reféns mortos. Exigimos que o Hamas devolva Shiri para casa junto com todos os nossos reféns”, diz ainda a nota.
A entrega, que faz parte do acordo de cessar-fogo em vigor desde 19 de janeiro, aconteceu em Khan Younis, na Faixa de Gaza. Os restos mortais foram entregues em caixões pretos para integrantes de Cruz Vermelha, responsáveis por levá-los até Israel.
A ONU condenou a forma como o Hamas entregou os corpos dos reféns. O chefe de Direitos Humanos das ONU, Volker Turk, disse que o desfile de corpos em Gaza foi abominável e vai contra o direito internacional.
O grupo terrorista Hamas disse que um ataque aéreo israelense havia matado Shiri e os meninos em 2023, cerca de um mês após o sequestro. Israel não confirmou a acusação, que chamou de propaganda cruel.
Símbolo dos israelenses sequestrados
Vídeo mostra momento em que família Bibas, de Israel, é levada pelo Hamas
Horas depois de o Hamas invadir Israel em 7 de outubro de 2023, no ataque que deu início à guerra, a família Bibas virou o grande símbolo dos israelenses sequestrados pelo grupo terrorista.
Naquele mesmo dia, imagens de uma moradora de um dos kibutz atacados no sul de Israel, o Nir Oz, aterrorizada, cercada por homens armados e segurando seus dois filhos pequenos viralizaram nas redes sociais (veja vídeo acima).
Era Shiri Bibas, levada naquele dia por terroristas do Hamas junto de seu filho Ariel, de 4 anos, e Kfir, um bebê de apenas nove meses, o mais novo entre os 251 sequestrados pelo Hamas no ataque.
Por 20 meses, a família Bibas se tornou um símbolo da luta de parentes dos reféns, que também direcionou seus protestos ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. As imagens de Shiri e das crianças sorridentes eram usadas como uma espécie de bandeira de esperança e de cobrança a Netanyahu pela devolução dos reféns.
O marido de Shiri e pai dos dois meninos também foi sequestrado no mesmo dia. Mas Yarden Bibas foi devolvido pelo Hamas com vida em 1º de fevereiro, dentro do acordo de cessar-fogo. Durante todo o tempo de sequestro, Yarden foi mantido separado do resto de sua família.
Ele foi sequestrado antes da mulher e dos filhos, porque, no momento do ataque, deixou o esconderijo onde estavam para distrair os terroristas. Mas um segundo grupo de membros do Hamas encontrou o esconderijo e levou os três.
Yarden nunca encontrou, durante o cativeiro, com a esposa e os filhos, segundo a imprensa israelense.
Já os pais de Shiri Bibas morreram durante o ataque do grupo terrorista ao kibutz, onde também viviam. O kibutz da família Bibas foi um dos mais destruídos no ataque de 7 de outubro do Hamas. Na ocasião, um em cada quatro moradores do local foi morto ou sequestrado naquele dia.
Foi lá onde as duas crianças sequestradas nasceram e estavam crescendo. Nos dias seguintes do ataque de 7 de outubro, triciclos e brinquedos ainda estavam espalhados no gramado do lado de fora da casa da família, enquanto a porta da frente perfurada por balas exibia pôsteres dos quatro sorridentes membros da família Bibas.
Shiri era israelense, mas tinha origem argentina. Sua família migrou do país latino-americano para Israel, onde ela também cresceu.
Mas a família vinha considerando se mudar. Segundo parentes, Shiri e Yarden estudavam ir morar nas Colinas de Golã, território sírio anexado por Israel em 1981. Eles queriam se mudar justamente por conta das tensões na região em que viviam: o kibutz fica perto da fronteira com a Faixa de Gaza, e o lançamento de foguetes era frequente.
Apesar de a família Bibas ter se tornado o símbolo da esperança entre os parentes de reféns, a demora para devolvê-los começou a alimentar rumores de que eles estariam mortos.
A maioria das mulheres e crianças entre os 251 sequestrados foi libertada pelo Hamas já no primeiro acordo de trégua entre Israel e Hamas, no final de novembro de 2023. Mas Shiri e as crianças nunca apareciam nas listas.
Yarden Bibas, refém israelense libertado pelo Hamas em 1º de fevereiro de 2025.
REUTERS/Ramadan Abed
Depois, o Hamas disse que Shiri e os filhos foram mortos em um ataque aéreo israelense.
Israel sempre disse que nunca conseguiu verificar a alegação e que os três não estão entre os 36 reféns de Gaza que as autoridades israelenses declararam mortos à revelia, com base em inteligência e perícia.
No ano passado, os militares israelenses recuperaram um vídeo de câmeras de segurança que mostrava Shiri e seus filhos vivos em Gaza no dia de seu sequestro.
Já em 30 de novembro de 2023, o Hamas chegou a divulgar um vídeo no qual Yarden Bibas, ainda em cativeiro, implorava a Netanyahu para que sua família fosse enterrada em Israel. No entanto, após sua libertação em fevereiro deste ano, Yarden disse que a mensagem do vídeo foi escrita pelo Hamas, que o obrigou a lê-la.
A família, então, tinha esperanças de que o Hamas havia mentido.
“Minha luz ainda está lá, e enquanto eles estiverem lá, tudo aqui estará escuro”, disse ele na ocasião.
“Shiri e as crianças se tornaram um símbolo, disse Yiftach Cohen, morador de Nir Oz, comunidade que perdeu cerca de um quarto de seus habitantes, entre mortos e sequestrados, durante o ataque de 7 de outubro.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, disse que ” retorno a Israel dos corpos dos reféns é um drama nacional e nossos corações estão devastados”.
“Agonia. Sofrimento. Não há palavras”, escreveu o Herzog na rede social X: “Nossos corações — os corações de uma nação inteira — estão devastados. Em nome do Estado de Israel, inclino minha cabeça e peço perdão. Perdão por não proteger vocês naquele dia terrível. Perdão por não trazê-los para casa com vida”.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou em uma breve declaração em vídeo que esta quinta-feira seria “muito difícil para o Estado de Israel. Um dia angustiante, um dia de luto.”
Netanyahu foi alvo de protesto de familiares de reféns que ainda estão em poder do Hamas, na segunda-feira (17), quando foram completados 500 dias de cativeiro. Com fotos dos reféns, dezenas de pessoas marcharam até a casa do primeiro-ministro entoando palavras de ordem.
2ª fase do acordo em negociação
Segundo a agência de notícias, as negociações para uma segunda fase do cessar-fogo, que deve garantir o retorno a Israel de cerca de 60 reféns restantes. A Reuters informou que menos da metade deles são considerados vivos.
A trégua deverá contemplar também a retirada completa das tropas israelenses da Faixa de Gaza para possibilitar o fim da guerra. No entanto, as perspectivas para um acordo permanecem incertas
Na quarta-feira (19), o Hamas informou que está disposto a libertar todos os reféns que permanecem na Faixa de Gaza durante a segunda fase do acordo, conforme declaração de Taher al-Nunu, um líder do grupo terrorista palestino.
“Informamos aos mediadores de que o Hamas está disposto a libertar todos os reféns de uma só vez durante a segunda fase do acordo, e não por etapas como na primeira fase em curso”, disse ele à agência de notícias AFP.
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