Fenômeno de ‘terras caídas’ colocam em risco mais de cinco mil ribeirinhos no Amazonas

Mais de cinco mil ribeirinhos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, estão em situação de risco devido ao avanço da erosão e ao acúmulo de sedimentos nos rios.

O fenômeno, conhecido como “terras caídas”, é agravado pelas secas extremas e pode comprometer moradias, acessos e a segurança alimentar das populações locais, conforme apontou estudo publicado na revista Communications Earth & Environment.

O estudo, conduzido pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá em parceria com universidades brasileiras e estrangeiras, analisou a vulnerabilidade de 51 comunidades da Amazônia Central entre 1986 e 2021.

Dessas, quatro apresentam risco muito alto, enquanto sete estão em situação de risco alto. Entre os fatores críticos, destacam-se a distância dos centros urbanos, ausência de estrutura social organizada e pouca experiência prévia com desastres do tipo.

Os pesquisadores mapearam, por meio de imagens de satélite, a ocorrência de terras caídas e formação de praias em 254 comunidades da reserva.

Os dados indicam que 26% das comunidades sofrem com erosão das margens fluviais, 18,5% enfrentam sedimentação excessiva e 55,5% encontram-se em situação estável.

Além da destruição de terras e habitações, a erosão dificulta a mobilidade e o acesso a serviços básicos, impactando a qualidade de vida da população ribeirinha.

Em 2024, eventos severos de terras caídas causaram mortes e destruíram dezenas de casas em municípios do Amazonas.

O geógrafo e pesquisador do Instituto Mamirauá, André Zumak, destacou a gravidade da situação: “As secas extremas dificultam a mobilidade dessas comunidades que residem ao longo das margens dos rios. A exposição de algumas áreas durante a seca registrada em 2024, por exemplo, proporcionou eventos chamados de terras caídas, com mortes, inclusive. Isto é uma relação direta com as mudanças climáticas, mas são necessários mais estudos para entender melhor esta relação”.

Seca extrema intensifica a vulnerabilidade

A seca extrema de 2023 e 2024 intensificou a vulnerabilidade dessas comunidades, tornando os eventos de erosão mais frequentes e destrutivos.

O levantamento do Serviço Geológico Brasileiro identificou 119 áreas de risco no estado, afetando cerca de 30 mil pessoas.

Em 2023, um desabamento no município de Beruri destruiu 40 casas e resultou em cinco mortes, evidenciando a gravidade da situação.

Pesquisadores alertam para a necessidade de mais estudos e políticas públicas voltadas à prevenção e mitigação dos impactos da erosão e sedimentação.

As informações geradas pelo estudo podem subsidiar órgãos como o Serviço Geológico Brasileiro e a Defesa Civil na identificação de áreas de risco e na implementação de estratégias para proteger as comunidades ribeirinhas da Amazônia.

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