‘Nos últimos 10 anos nossa média de crescimento da carteira nunca ficou abaixo de 20%’, diz diretor do Sicredi; agro é quem mais toma crédito

Com a inflação acima da meta, juros a 13,25% e uma iminente desaceleração da economia, as cooperativas de crédito podem ganhar destaque. De acordo com Gustavo Freitas, diretor executivo de Negócios, Crédito e Produtos do Sicredi, no cenário atual, a carteira de crédito dos bancos tradicionais deve ter um crescimento muito menor.

“No mercado, um crescimento de 8% da carteira de crédito é considerado muito elevado. Enquanto isso, estamos em um patamar de 21%, 22%. Mesmo com a desaceleração da economia, vamos nos manter em dois dígitos de crescimento, indo a 18% ou 17%”, afirma o executivo, em entrevista ao Money Times.

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Dentre os segmentos de crédito que a instituição trabalha, Freitas destaca o setor do agronegócio, no qual a carteira do Sicredi cresceu 21% em 2024, alcançando R$ 101 bilhões. Os recursos foram distribuídos em 3.110 municípios localizados em todos os Estados brasileiros.

“O nosso pé está no agro, nosso DNA é do agronegócio, estamos nisso há muito tempo”, disse Freitas. A relação da cooperativa com o setor é antiga, especialmente pelo fator regional, já que o Sicredi nasceu em uma região com forte presença de produtos rurais.

A primeira unidade do Sicredi foi fundada há mais de 120 anos em Nova Petropólis, no Rio Grande do Sul (RS). Chamada hoje de Sicredi Pioneira, a unidade atende 21 municípios entre o Vale do Sinos e a Serra Gaúcha.

Agronegócio e Sicredi

De acordo com o diretor executivo da cooperativa, o Sicredi é o maior financiador privado de crédito do BNDES, tendo concedido R$ 12,2 bilhões em 2024, dos quais R$ 8,4 bilhões foram para programas agropecuários que beneficiaram seus associados do segmento.

Dos mais de 8,7 milhões de associados do Sicredi, 777 mil são do segmento agro, sendo 83% da agricultura familiar, 12% produtores de porte médio e 5% de grande porte. Em 2024 houve um aumento de 7,22% no número de associados correntistas agro.

“Em quantidade, o pequeno produtor é majoritário, mas em relação aos valores, às vezes fazemos 100 operações com pequenos produtores, tomando entre R$ 50 e 100 mil, para dar a quantidade de recurso de um grande, que toma milhões”, conta Freitas.

O agronegócio é tomador de R$ 100 bilhões, dos R$ 250 bilhões da totalidade da carteira de crédito do Sicredi. Freitas ainda estima que, do valor restante, há cerca de R$ 80 bilhões de outras empresas que também estão integradas na cadeia produtiva, com atividades de transporte, logística, mecânica, comércio e serviços que se relacionam com o agro.

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A cooperativa é uma das agentes que opera o Plano Safra desde a sua criação. Na carteira Sicredi, os desembolsos do plano cresceram 5,9% no primeiro semestre da safra 2024/25, entre julho e dezembro, se comparados ao mesmo período da safra de 2023/24.

Entre os maiores operadores do Plano Safra, a cooperativa só fica atrás do Banco do Brasil (BBAS3). De acordo com o diretor executivo, aproximadamente cerca de 11% do mercado de crédito rural está sob operação do Sicredi.

É neste período do ano, por volta da metade de fevereiro, que o Governo Federal começa as negociações com as instituições para os desembolsos do próximo plano. A escolha dos agentes é realizada em uma espécie de leilão, onde o operador negocia uma compensação com o governo por trabalhar linhas de créditos específicas, com juros menores.

Crédito para o produtor rural

Além das iniciativas decorrentes de projetos do governo, como desembolsos via BNDES e Plano Safra, o Sicredi também emite outros títulos de investimentos como a Cédula de Produto Rural (CPR), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e poupança rural.

Em 2024, o principal destaque nos desembolsos foi a CPR, com aumento de 57% em relação ao mesmo período da safra passada (julho a dezembro) e 13% em quantidade de operações. A LCA segue como principal fonte de recursos, com aumento de 19,3% dos desembolsos.

No primeiro semestre de 2025, o Sicredi vai disponibilizar mais de R$ 8 bilhões via recursos do BNDES para financiamento, maquinários e tecnologias agrícolas. Segundo o diretor executivo, os recursos disponibilizados para os produtores podem ser livres ou para projetos específicos, mediante controle e comprovação.

Gustavo Freitas, diretor executivo de Negócios, Crédito e Produtos do Sicredi (Foto: Divulgação/Sicredi)

“Se é um projeto para plantio de trigo, por exemplo, ele vai especificar a variedade de semente, custo do insumo, número de aplicações, tamanho da terra, coordenadas georreferenciadas de onde ele vai plantar. Depois, há uma fiscalização por satélite”, diz Freitas.

Além das opções de crédito, o executivo reforça que a cooperativa oferece outras soluções, como seguros e consórcios. Uma modalidade que a cooperativa ainda não trabalha e não tem no radar no curto prazo é a de Fiagros — Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, devido ao alto custo.

Para 2025, a expectativa do Sicredi é de que o setor do agronegócio tenha um ano mais tranquilo do que o anterior. “2024 foi muito duro, do ponto de vista de clima, com todos os choques que a gente teve. Esse é um ano mais promissor, com perspectiva de atingir recordes de safra”, afirma Freitas.

Modelo cooperativista

O Sicredi remunerou em R$ 1,3 bilhão em juros o capital social dos seus mais de 8,5 milhões de associados em 2024. O valor é 7% superior ao pago no exercício do ano anterior e foi depositado nas contas capitais das pessoas e empresas associadas à instituição em todas as regiões do Brasil.

Segundo a cooperativa, a finalidade do capital social é compor patrimônio para que a cooperativa exerça sua atividade e possa expandir o atendimento, mas ao mesmo tempo funciona como uma reserva de recursos, pois os valores continuam sendo dos associados e são remunerados com rendimento atrelado à Selic.

De acordo com o diretor de produtos, o Sicredi tem crescido em todos os segmentos, com maior ênfase para empresas nos últimos anos. “É um modelo diferente do modelo bancário tradicional. O objetivo não é necessariamente gerar lucro para a empresa, mas gerar valor positivo para os sócios”, diz Freitas.

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