Entrevista: o legado de Raffa Moreira na cena e a transformação em “Legend”

Raffa Moreira
Crédito: @cesararaujofotografia

O tempo tem uma maneira peculiar de reorganizar narrativas. Se há alguns anos Raffa Moreira era tratado como um pária no cenário do rap nacional, hoje sua presença é inquestionável. Ele não apenas sobreviveu às críticas, mas moldou um movimento, fincando seu nome como uma das figuras mais autênticas e influentes da música urbana brasileira.

Seu novo álbum, Legend, lançado na última segunda-feira (10) não é apenas um título, mas uma reafirmação de tudo o que construiu: um artista que nunca se dobrou às regras do jogo e que agora dita suas próprias normas.

De outsider a referência

Raffa surgiu quando o Brasil ainda não entendia o trap. Em 2017, sua sonoridade parecia estrangeira demais para os ouvintes habituados ao rap nacional tradicional. Com letras que misturavam português e inglês, ad-libs marcantes e uma postura debochada, Raffa foi visto como uma espécie de outsider.

Antes de se tornar uma referência consolidada no trap nacional, Raffa Moreira passou por um intenso período de experimentação. Entre 2016 e 2017, ele lançou mais de dez mixtapes, incluindo Fernvndx Mixtape, MJ Mixtape e Rockstar Mixtape. Esses projetos foram essenciais para que ele entendesse sua identidade artística e aprimorasse sua sonoridade.

“Sempre fui independente, então eu tinha liberdade para testar tudo. Eu ia para o estúdio, gravava, lançava e via o que funcionava. Foi assim que fui moldando minha carreira”, explica o rapper. Essa abordagem experimental permitiu que ele encontrasse sua estética única, abrindo caminho para os singles que posteriormente o revelariam ao grande público.

A estética inspirada na cena de Atlanta, com roupas justas e trejeitos ousados, apenas reforçava o distanciamento entre ele e o público médio do rap brasileiro. Mas como todo pioneiro, ele plantou sementes que, anos depois, floresceram em uma cena trap robusta, onde sua influência é incontestável.

Ele mesmo não gosta de pensar em termos de legado, mas admite que sua trajetória abriu portas: “Eu sou um artista e não um meme. Se algumas pessoas me veem como influência, eu fico agradecido, mas eu sempre fiz música porque queria fazer, e não pra ser referência”, disse Raffa Moreira em entrevista ao TMDQA!.

Raffa Moreira, o “Legend”

No dia 10 de fevereiro, Raffa Moreira celebrou seu aniversário com um presente para os fãs: o lançamento de Legend. O álbum de 11 faixas resgata as raízes do trap, olhando para o passado, mas sem perder de vista o presente. “Busquei referências nos caras que popularizaram o estilo e também na minha própria trajetória”, explica o rapper.

Diferente da sonoridade saturada de autotune que tomou conta do mercado, Legend aposta em beats crus, remetendo ao que está sendo produzido nas ruas dos Estados Unidos, sem perder a assinatura brasileira de Raffa.

Outra diferença marcante do projeto é sua escolha de colaborações. Se no disco anterior, Beleza Exótica, ele trouxe artistas já consagrados como Matuê e Filipe Ret, desta vez, a proposta foi outra: dar espaço a novas promessas da cena de Guarulhos.

“Eu fiz questão de pagar todos os feats para mostrar para eles que é possível ganhar dinheiro com o trap”, afirmou. A decisão reforça o que o próprio título do disco sugere: um artista que não apenas se vê como uma lenda viva, mas que deseja deixar um rastro para os que vêm depois.

Entre brigas e polêmicas, a consolidação

A trajetória de Raffa Moreira não foi linear. Seu início foi marcado por conflitos, debates e desentendimentos dentro da cena. Sua presença digital era caótica, carregada de ironia e provocações. Isso, sem dúvidas, lhe custou oportunidades, mas também lhe deu o status de artista autêntico. “Perdi algumas oportunidades, mas ganhei outras. Tem muita gente relevante que acompanha e já ajudou. Pessoas que eu nem esperava da indústria”, conta.

Com o passar dos anos, a visão sobre ele mudou. Hoje, o que antes era piada virou influência; o que antes era ridicularizado, se tornou referência. Raffa Moreira construiu um caminho próprio, sem concessões, sem atalhos. Legend é apenas mais um capítulo desse percurso, onde cada faixa reforça sua postura de um artista que não busca validação – ele apenas faz música.

O que vem depois? Raffa Moreira é pragmático. Aos 37 anos, ele até já projeta o fim da sua carreira musical: “Quero, nos próximos três anos, fazer outros três discos e já era. Por uma questão mercadológica mesmo, por eu ser meu próprio empresário, eu tenho que olhar pro bagulho e falar: ainda pode rolar mais alguma coisa ou então não vai rolar”.

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