Opinião: “Elon Musk: um mal necessário?”

Opinião: "Elon Musk: um mal necessário?"

O bilionário Elon Musk não desperta simpatia. Ao contrário, consegue aglutinar em torno de sua figura uma forte repulsa por boa parte da sociedade. Além disso, não tem nenhum tato e vive se metendo em polêmicas desnecessárias, como aquele momento no qual fez um gesto que parecia ser uma saudação nazista. Por fim, ele diz o que pensa da maneira mais direta possível e, ao bombardear friamente a cultura “woke”, tornou-se uma das pessoas mais odiadas do planeta.

Ocorre que Musk, hoje, é uma espécie de detentor das chaves aos cofres do governo americano. À frente do Departamento de Eficiência Governamental, ele tem uma missão inédita na história internacional da burocracia: enxugar de fato a máquina pública, melhorar sua produtividade e limar gastos desnecessários.

É evidente que o bilionário se deixa guiar por seu credo ideológico ao fechar as torneiras de programas sociais que estão alinhados com os defensores da corrente “woke” de pensamento – e, neste processo, decisões erradas podem ser tomadas.

Esses enganos podem ser corrigidos mais tarde. Mas o que Musk está fazendo na estrutura burocrática americana é algo que precisará ser estudado detalhadamente, pois deve economizar bilhões de dólares ao racionalizar processos e fechar programas que levam do nada ao lugar nenhum.

Em uma entrevista coletiva nesta semana, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, defendeu as ações do departamento chefiado pelo dono da SpaceX: “Antes de Elon Musk, essas decisões ficavam nas mãos de burocratas que ninguém conhecia e que gastavam bilhões sem qualquer escrutínio. Agora, tudo está sendo exposto”.

Leavitt deu alguns exemplos de dinheiro gasto de forma errada ou irresponsável. Nenhum desses contratos tinha um valor estratosférico – mas a soma de dispêndios equivocados seguramente deve ultrapassar a casa dos sete dígitos. Um dos casos citados pela secretária de Imprensa foi um contrato de US$ 1,2 milhão para uma pesquisa sobre a influência da cor das luzes de postes no bem-estar mental de moradores urbanos.

Alguém consegue defender esse tipo de gasto público? Pois é.

Se Musk tivesse uma personalidade mais simpática ou altruísta – na linha de Bill Gates, por exemplo – talvez não fosse tão bombardeado. Mas talvez ele seja a pessoa certa para fazer esse tipo de trabalho, uma vez que é implacável.

O bilionário segue a cartilha do presidente Donald Trump: atire primeiro e pergunte depois. Neste processo, cometerá erros e vai cancelar programas importantes para os Estados Unidos e para o mundo. Mas como diz um velho ditado, não se faz omeletes sem quebrar ovos.

Diante de tudo isso, talvez aqueles que ficam horrorizados com algumas declarações de Elon Musk devem vê-lo como um mal necessário. Ele tem a oportunidade de mudar a burocracia americana e, se tiver sucesso, será um exemplo para todos que podem reduzir o Estado e melhorar a sua capacidade de gestão.

Esperemos para ver se ele chega até o final do mandato de Trump. Afinal, estamos falando de dois machos alfa que terão de conviver por quatro anos, sendo escrutinados diariamente pela imprensa e pelas redes sociais. A relação entre Musk e o presidente, assim, pode se deteriorar, colocando o Departamento de Eficiência Governamental em xeque. Se isso acontecer, os burocratas terão a oportunidade de se fortalecer novamente e retomar gastos inúteis. Esperemos que isso não ocorra e que os eventuais exageros de Musk sejam corrigidos antes de provocar danos incontornáveis.


*Coluna escrita por Aluizio Falcão Filho jornalista, articulista e publisher do portal Money Report, Aluizio Falcão Filho foi diretor de redação da revista Época e diretor editorial da Editora Globo, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Forbes e a vice-presidência no Brasil da agência de publicidade Grey Worldwide;


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