Mulher descobre que inseto em goiabeira no quintal é praga Asiática que ameaça se espalhar pelo Brasil


Percevejo-de-pintas-amarelas já entrou diversas vezes na casa da moradora de São Vicente (SP). Mulher descobre que inseto em árvore no quintal é percevejo-de-pintas-amarelas
Juliana Rezende Santana e Yan Lima
Uma moradora de São Vicente, no litoral de São Paulo, descobriu que um inseto que a incomodava há aproximadamente dois anos era um percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo), espécie considerada uma praga na Ásia. Ao g1, Juliana Rezende Santana, de 42 anos, contou que os animais normalmente ficam em uma árvore no quintal, mas também já entraram em casa.
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A espécie é originária da China, alimenta-se de diversas plantas e causa desequilíbrios ambientais. Ela chamou a atenção de especialistas após ser registrada 22 vezes na Baixada Santista. A maior incidência é em Santos, embora também tenham sido feitos registros em São Vicente e Guarujá.
A consultora de vendas Juliana Rezende Santana contou que o pai plantou há 30 anos uma goiabeira (Psidium guajava) no quintal de casa, localizada no bairro Parque Bitarú. Segundo ela, os percevejos começaram a aparecer há aproximadamente dois anos.
“Eu e o meu filho [de 12 anos] estamos com medo porque não conhecemos o bicho. Essas fotos que eu tirei são da parte de baixo [da árvore], eu acredito que a maioria está na parte de cima”, disse ela.
Moradora descobre que inseto em árvore no quintal é percevejo-de-pintas-amarelas
Juliana Rezende Santana
A consultora afirmou já ter visto o inseto diversas vezes. “De vez em quando, alguns entram dentro de casa. Quando a gente consegue ver, eu coloco para fora. Esses dias o meu filho viu um morto”, explicou.
Apesar do contato diário, a mulher não sabia qual era a espécie até ver a reportagem do g1 sobre os percevejos-de-pintas-amarelas. De imediato, Juliana entrou em contato com o biólogo Yan Lima, de 28 anos, responsável pelo primeiro registro da praga no Brasil, e teve a confirmação que tanto queria.
“A reportagem me trouxe um certo alívio”, destacou Juliana.
Sob a orientação de Yan e do pesquisador Ricardo Brugnera, ela vai recolher alguns percevejos e entregar os insetos aos especialistas na quarta-feira (29). O biólogo explicou que os animais serão fotografados com uma câmera profissional para auxiliar futuras identificações – usadas como material de divulgação científica. Em seguida, eles serão preservados em álcool para pesquisas.
O que o percevejo fazia na goiabeira?
Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo)
Yan Lima
De acordo com Juliana, a árvore deixou de dar frutos saudáveis desde que os insetos começaram a aparecer. “Muito triste. Costumava subir e brincar nessa árvore quando criança. Era tanto fruto que teve época do meu pai abrir o portão para as crianças entrarem e colherem as goiabas porque não dávamos conta de tudo. Ela é a minha lembrança mais viva do meu pai”, lamentou.
Yan disse que não há dados suficientes para afirmar que a árvore foi afetada pelos percevejos, mas ressaltou que o inseto se alimenta de diversos tipos de plantas, incluindo árvores frutíferas. Sendo assim, os pesquisadores tentarão entender se a espécie causou danos à goiabeira.
O biólogo destacou que a espécie é exótica e tem um alto potencial invasor, podendo causar diversos problemas ambientais, sociais e econômicos.
“É importante lembrar que não é a primeira vez que uma espécie de inseto se torna invasora no Brasil. Portanto, não devemos criar um ambiente de pânico. Porém, é necessário concentrar esforços para conter a dispersão da espécie e minimizar problemas”, explicou.
O especialista sugeriu que qualquer pessoa que aviste o inseto tire fotos e publique os conteúdos no iNaturalist com a localização correta. Yan também se colocou à disposição para auxiliar no registro dos percevejos por meio das redes sociais: @ph.yanlima.
Como é esse percevejo?
Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo)
Yan Lima
O Erthesina fullo é um inseto polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas. No continente asiático, ele é responsável por danos em algumas culturas agrícolas. Porém, no Brasil, ainda não há dados suficientes para afirmar se a espécie representa uma ameaça para as plantas cultivadas.
Tamanho: Atinge de 1,2 a 1,5 cm de comprimento.
Aparência: Corpo verde ou amarelo com pintas amarelas.
Reprodução: A fêmea deposita entre 50 a 200 ovos por vez.
Ciclo de vida: O ciclo de vida completo dura de 4 a 6 semanas.
Vida adulta: Vive entre 2 a 4 meses, dependendo das condições.
Preocupação
Embora ainda não tenha causado danos significativos no Brasil, o percevejo é visto com preocupação por pesquisadores. Caso a espécie continue a se expandir, ela pode se tornar invasora, comprometendo o equilíbrio ambiental e trazendo prejuízos econômicos, no país e América do Sul.
“Há risco, caso não haja um monitoramento adequado”, alertou Ricardo Brugnera, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O INaturalist é uma plataforma on-line e um aplicativo de ciência cidadã. As pessoas podem registrar em fotos e publicar observações sobre plantas, animais, insetos e outros organismos. A ação contribui para a criação de uma base de dados sobre a biodiversidade global.
Riscos:
Ambiental e econômico: Caso a espécie se espalhe, pode se tornar invasora e causar danos ambientais e econômicos em nível nacional e até na América do Sul.
Hábito alimentar: O inseto é polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas.
Competição: De acordo com o biólogo Yan, há o risco dos percevejos asiáticos disputarem recursos com os nativos, diminuindo a população dos insetos brasileiros.
Agricultura: O profissional também destacou que, caso a praga chegue nas lavouras brasileiras, pode se tornar um problema para os agricultores. Mas, de acordo com Yan, é cedo para se preocupar já que até o momento o inseto está presente apenas na Baixada Santista.
Como chegou ao Brasil?
A principal hipótese é que o percevejo tido como praga na Ásia tenha chegado ao Brasil pelo Porto de Santos
A Tribuna Jornal e Yan Lima
A hipótese mais provável é que o inseto tenha sido trazido por navios, possivelmente em contêineres. Inclusive, o primeiro registro do percevejo na Baixada Santista aconteceu próximo ao Porto de Santos.
“A conclusão aconteceu devido ao percevejo nunca ter sido registrado na América Latina. Portanto, a chance dele ter chegado em Santos por meio terrestre é vaga. Tanto os percevejos quanto outros animais, podem ser transportados em navios ou outras embarcações por estarem presentes dentro de contêineres”, explicou Yan.
Riscos a humanos?
Apesar de não representar riscos à saúde humana até o momento, especialistas recomendam o monitoramento contínuo e sugerem que qualquer pessoa que aviste o inseto tire fotos e publique no iNaturalist, a fim de aumentar a base de dados sobre a espécie.
O Ministério da Agricultura foi procurado, mas não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
G1 em 1 minuto – Santos: Percevejo considerado praga na Ásia é encontrado no Brasil
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