Opinião: “Bolsonaro e as críticas à “direita limpinha”

Opinião: "Bolsonaro e as críticas à “direita limpinha”

Nesta semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro deu uma entrevista ao canal de YouTube da rádio AuriVerde e disse o seguinte: “Não fica inventando terceira via, direita limpinha, não sei o quê, fazer um gestinho pra lá e pra cá, com sua inexperiência, com sua até boa vontade, mas você não tem como enfrentar hoje em dia um sistema pelo povo”. Ele ainda declarou, em tom de crítica: “Pessoas mais inteligentes do que eu, tem milhares por aí. Alguns, de pequena idade, estão se lançando já, ‘eu sou candidato, eu vou resolver’, na base da lacração”.

Bolsonaro continua firme em seu propósito de se mostrar como o único candidato capaz de aglutinar a direita em torno de si. E a vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, renovou sua disposição em buscar soluções para driblar a atual inelegibilidade e poder disputar o pleito de 2026.

Ocorre que o ex-presidente já não desponta mais como o único nome que pode juntar os eleitores de direita. Muitos eleitores conservadores querem que Pablo Marçal se lance à disputa pelo Planalto. Outros querem ver o cantor Gusttavo Lima no páreo. E há muita gente, que vai da direita ao centro, que prefere votar em um governador de estado como Tarcísio de Freitas, Ratinho Jr. ou Ronaldo Caiado (Romeu Zema parece ter perdido o fôlego para se lançar daqui a um ano).

Muitos eleitores em potencial destes governadores, em especial Tarcísio, podem ser classificados como integrantes do que Bolsonaro chama ironicamente de “direita limpinha”. São indivíduos mais moderados, que não compactuam com muitas posições do ex-mandatário, mas não querem a continuidade de um governo alinhado à esquerda, como o atual.

Trata-se de um eleitorado que não concorda com o estilo belicoso de Bolsonaro e rejeita ações políticas extremistas e radicais. O ex-presidente pode ser tolerado e até votado, mas não seria o candidato ideal destes cidadãos. Muitos desses eleitores podem ser identificados como centristas – e uma parcela significativa destes votos foi para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, decidindo a eleição em favor do PT.

Esses mesmos eleitores estão insatisfeitos com Lula. Faria sentido tratá-los com ironia, chamando-os de “direita limpinha”? No fundo, a tese de Bolsonaro ser o único candidato competitivo tem a ver com esse argumento. Os “limpinhos” teriam de engolir sua candidatura e votar nele, mesmo a contragosto.

Ocorre que, em política, tudo é possível. Nas eleições de 2024, Bolsonaro não se mostrou um cabo eleitoral de grande calibre. E viu nomes como Marçal e Nikolas Ferreira crescerem no cenário político – justamente aqueles com “pequena idade” e que atuam “na base da lacração”.

O ex-presidente está fazendo o que pode para se manter em evidência e torcer por algum tipo de indulto. Mas, por enquanto, pode dinamitar pontes que seriam necessárias para o caso de conseguir entrar no páreo de 2026. Este, porém, é o estilo Bolsonaro, que atropela adversários e aliados.

Ao ex-deputado Arthur do Val, em outra entrevista, ele foi até adiante. “Hoje em dia temos vários bons parlamentares, com quem eu fico feliz. Alguns têm subido a cabeça, dada a popularidade, a notoriedade, achando que já podem dar voos bem mais altos. Eu chamo de ejaculação precoce. Não vai dar certo. O sistema está muito bem articulado”, alfinetou.

Neste momento, no entanto, Bolsonaro precisa de todo o apoio político possível para reverter sua inelegibilidade. Mas prefere o ataque a quem hoje pode ajudá-lo em vez de se aproximar desses políticos.

Ao se definir como “único”, no entanto, Bolsonaro corre um sério risco – o de ficar falando sozinho.


*Coluna escrita por Aluizio Falcão Filho jornalista, articulista e publisher do portal Money Report, Aluizio Falcão Filho foi diretor de redação da revista Época e diretor editorial da Editora Globo, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Forbes e a vice-presidência no Brasil da agência de publicidade Grey Worldwide;


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