
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, sugeriu nesta segunda-feira (25) que o Banco Central avalie a exclusão dos preços de alimentos e energia do cálculo da inflação oficial. A declaração foi feita durante evento do Valor Econômico, enquanto Alckmin exerce interinamente a Presidência da República. A fala gerou reações intensas entre economistas, reacendendo o debate sobre os limites e instrumentos da política monetária no Brasil.
Argumento de Alckmin: política monetária não controla choques climáticos
Ao defender sua proposta, Alckmin argumentou que elevar os juros para combater a alta de preços de alimentos e energia é ineficaz, já que esses itens estão sujeitos a fatores externos, como clima e cotação internacional do petróleo. “Não adianta aumentar os juros, porque não vai fazer chover”, disse. Segundo ele, insistir nessa estratégia “só prejudica a economia” e “aumenta a dívida pública”.
Alckmin também citou o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, que acompanha os núcleos de inflação (que excluem componentes voláteis) como referência para decisões de política monetária. No entanto, diferentemente do que sugeriu o vice-presidente, a meta oficial americana ainda se baseia na inflação cheia.
Proposta reacende debate sobre núcleo da inflação
A fala do vice levanta uma discussão legítima: até que ponto faz sentido perseguir metas inflacionárias baseadas em itens voláteis, cujos preços fogem do controle da política monetária? Para alguns especialistas, como o próprio Alckmin, seria mais eficiente focar os instrumentos do Banco Central nos chamados “núcleos” de inflação, que capturam a tendência dos preços no médio prazo.
No entanto, a proposta de alterar o cálculo do IPCA — índice oficial usado pelo BC para a meta de inflação — gerou críticas duras.
Críticas à Alckmin: risco de perda de credibilidade
O economista Roberto Dumas defendeu que o IPCA não deve ser alterado e classificou a proposta como “completamente descabida e beira a manipulação dos indicadores oficiais.” “É para isso que existe o núcleo da inflação, que já serve de instrumento analítico. Mexer na estrutura do índice oficial é perigoso e gera desconfiança no mercado”, afirmou. “Se começarmos a excluir o que incomoda, passamos a fabricar uma inflação que não existe. Isso é manipular dados e descredibilizar a política econômica”, alertou.
Já o economista VanDyck Silveira classificou a sugestão como “uma tentativa de mascarar os indicadores econômicos”. Segundo ele, “tirar itens essenciais do cálculo da inflação é uma fraude que compromete a transparência e abre espaço para manipulação estatal dos dados”. Silveira também expressou preocupação com um suposto “desvio autoritário” nas instituições brasileiras.
Expectativa com a safra e crescimento do PIB
Apesar das polêmicas, Alckmin manteve um tom otimista quanto ao cenário econômico de 2025. Ele afirmou que a melhora nas condições climáticas deve favorecer a produção agrícola, ajudando a conter os preços dos alimentos e a impulsionar o PIB brasileiro. “A agricultura pode dar um empurrão importante na economia este ano”, declarou.
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O post Alckmin propõe retirar alimentos do IPCA: “seria manipulação de dados” classificou especialista apareceu primeiro em BM&C NEWS.