“Emicidio”: a história da mixtape do Emicida que permitiu o Rap voltar a sonhar

Emicida
Foto: Enio Cesar

A mixtape Emicidio, lançada em 2010 por Emicida, completa 15 anos em 2025, e ainda reverbera como um manifesto de liberdade artística e social. O projeto é um marco na história do rap brasileiro, responsável por reabrir caminhos para o gênero e trazendo de volta a capacidade de sonhar para uma cena que parecia sufocada pela indústria e pela própria narrativa.

Em um período em que o rap enfrentava desafios comerciais e criativos, Emicida propôs uma ruptura, permitindo que o rap se tornasse um farol apontado para o horizonte. Através da Laboratório Fantasma, seu selo musical, o rapper se tornou o arauto de uma nova era, em que o gênero deixaria de ser marginalizado para se transformar na locomotiva que é hoje.

O estalo inicial de Emicidio surge já na faixa de abertura, “E agora?”, onde Emicida se questiona e estabelece um diálogo direto com o movimento hip hop. A frase de Nyack“você vai ser tão real, que os caras vão achar que é de mentira” — antecipa a profundidade e a autenticidade do que viria a seguir.

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Um big bang de possibilidades

Emicidio é uma continuidade do big bang no rap nacional gerado pelo disco de estreia do rapper, Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe, criando um universo novo num território então devastado. Sendo uma espécie de provocação artística para a cena, resultando em respostas também artísticas. Quando a mixtape sai, e as correntes se rompem e a vida se torna possível dentro do rap.

O disco também foi um marco na independência artística. Sem o respaldo de grandes gravadoras, Emicida mostrou que era possível produzir, distribuir e alcançar o público de forma direta, utilizando as redes sociais e a força do boca a boca. Esse movimento não só ampliou o alcance da mixtape, mas também abriu caminhos para que outros artistas independentes prosperassem. A partir dali, o rap brasileiro ganhou novos contornos, abraçando a pluralidade de vozes e narrativas que emergiam das periferias e das ruas.

Além do impacto cultural e musical, Emicidio foi responsável por um reencontro do rap com seus próprios sonhos. Se antes o gênero parecia confinado a nichos específicos, após Emicida, ele se tornou mais ambicioso. Na faixa-título, o rapper questiona o que fazer com o sucesso conquistado de maneira verdadeira, oferecendo uma reflexão sobre o peso de se manter autêntico em meio ao jogo da indústria cultural.

O legado de Emicida

O impacto de Emicidio vai além das rimas e batidas. Vendida de forma independente por R$ 2,00, a mixtape se espalhou pelo Brasil, com mais de 3 mil cópias físicas distribuídas no primeiro mês. Através da Laboratório Fantasma, Emicida provou que era possível criar um empreendimento negro e periférico que não só permitisse sua emancipação financeira, mas também fortalecesse a comunidade e reafirmasse os pilares do hip hop.

E quando DJ KL Jay entregou o quadro comemorativo de 10 mil discos vendidos, no dia do lançamento de Emicidio, o recado era claro: o rap não precisava se curvar à lógica da indústria, ele podia ser autossustentável.

Mas talvez o maior legado da mixtape esteja na esperança que ela trouxe de volta ao rap. Em uma década iniciada com desilusões, o projeto encerra os anos 2000 oferecendo um novo norte, mostrando que o triunfo só faz sentido se for coletivo, como o próprio rapper diz em “O Céu é o Limite”, single lançado em 2018. Ele ampliou o imaginário da cena, levando o rap para a televisão, para os palcos maiores, para os ouvidos que antes o ignoravam. E, ao fazer isso, não deixou de lado sua essência — usou os meios, mas sem jamais se deixar usar por eles.

No fim, Emicidio é mais do que uma mixtape. É um tratado sobre a importância do sonho no movimento hip-hop. É a voz que diz que as ruas precisam de sonhos e que o combustível para seguir em frente não pode ser apenas a constatação de que o caminho é difícil. É o grito de um artista que, ao narrar sua trajetória, convida todos ao seu redor a também acreditar que a vida, mesmo com todos os seus percalços, pode ser vivida além da sobrevivência. E que os sonhos, afinal, sempre foram inerentes ao hip hop.

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