Bonde dos bancões está passando e ganhou R$ 50 bi com euforia na bolsa; ainda dá para pegá-lo?

Os bancos terminaram 2024 bem longe de serem as grandes estrelas da bolsa Ao todo, R$ 130 bilhões foram pelo ralo em valor de mercado, com destaque para Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4).

Até mesmo o Banco do Brasil (BBAS3), visto como uma ação casca-grossa para enfrentar crises e piora de cenários, não resistiu, em meio ao tempo ruim que fez produtores rurais atrasarem os pagamentos.

Em 2025, analistas e investidores viam o setor com desconfiança. E com razão. Parte da queda do ano passado também foi provocada por um desenho nada favorável para as instituições financeiras neste ano.

A chance de uma Selic, a taxa básica de juros, a 14% assustou muita gente e trouxe pânico aos mercados.

Por mais que o senso comum coloque que a escalada dos juros seja boa para os bancos, que lucrariam mais com o spread (diferença entre o preço da compra e o preço da venda), taxas restritivas causam efeito colateral bem danoso: a alta do calote.

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Ter taxas de inadimplência, ou seja, clientes que honram com suas dívidas, é o sonho de qualquer instituição financeira. Junte a isso a concessão de crédito bem equilibrada e você tirará um belo sorriso de um banqueiro.

Normalmente, esse cenário de céu de brigadeiro funciona bem em momentos de crescimento econômico que caminham com uma inflação controlada, o que não é o caso.

O PIB (Produto Interno Bruto) mais gordo até veio — o crescimento no ano passado foi de 3,4% –, mas faltou conversar com os russos (ou seja, a inflação subiu acima do esperado), obrigando o Banco Central a tomar as rédeas da situação com juros que podem ultrapassar 15%.

O gatilho foi dado?

Se a piora do mercado fez as ações dos bancos despencarem, como ocorreu entre novembro e dezembro de 2024, o contrário também é verdadeiro.

Na escalada do Ibovespa, que saltou quase 6% em uma semana, os bancos se derem bem.

De acordo com dados da Elos Ayta, a pedido do Money Times, entre fevereiro e março, os quatro bancos – Itaú (ITUB4), Bradesco, Banco do Brasil e Santander – ganharam R$ 50 bilhões em valor de mercado.

Veja a tabela abaixo:

Fevereiro Março Ganho
Itaú R$ 295 bi R$ 324 bi R$ 29 bi
Bradesco R$ 114 bi R$ 124 bi R$ 10 bi
Santander R$ 94 bi R$ 99 bi R$ 4 bi
BB R$ 155 bi R$ 162 bi R$ 6.5 bi
Total R$ 658 bi R$ 709 bi R$ 50 bi

Fonte: Elos Ayta

Em semanas, recuperaram cerca de 40% do total perdido no ano passado. Seria a hora de aproveitar esse bonde?

Em relatório enviado a clientes, o Safra diz que o sentimento melhorou em relação ao setor. Os analistas se encontraram com investidores do Rio de Janeiro e São Paulo.

A impressão, segundo a casa, é que o humor parece ter mudado do clima extremamente pessimista para algo mais próximo do otimismo.

Apesar disso, o Safra diz que em Banco do Brasil, os investidores estão desmontando posições para migrar para outros papéis, especialmente fora do setor financeiro. O movimento ocorre, justamente, por conta dos riscos ao capital ou à qualidade dos ativos.

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Mesmo no Itaú, diz, há “uma redução na alocação marginal”, embora ainda seja o preferido.

No caso do Bradesco, a avaliação é atrativa, mas não suficiente para comprar o banco, que ainda terá que se provar antes de provocar qualquer entusiasmo pela tese.

O Santander foi o menos mencionado, com a maior parte do interesse decorrente de sua avaliação em torno de 1,0x P/BV (preço sobre patrimônio líquido) e uma melhora reconhecível do ROE (rentabilidade) em 2024, embora os investidores concordem que não há gatilhos claros em 2025.

Itaú ou Banco do Brasil?

De maneira geral, os analistas e gestores que conversaram com Money Times mantém a ordem de preferência em Itaú, Banco do Brasil, Santander e Bradesco.

No primeiro, está um banco que entrega o que promete e que não deixou os investidores na mão nos últimos anos.

Segundo o analista Sidney Lima, da Outro Preto Investimentos, o Itaú foi o que mais chamou atenção no quarto trimestre, ao manter a inadimplência em patamares controlados e registrar expansão em linhas de crédito de menor risco. 

“Se o investidor busca consistência, governança sólida e boa previsibilidade de resultados, o Itaú aparece como uma das escolhas mais seguras. O banco costuma ter um desempenho regular em diferentes cenários, paga dividendos de forma recorrente e possui histórico de menor volatilidade”.

Entre corretoras, o banco assumiu a dianteira e foi o mais recomendado para março, com 17 indicações entre 22 analistas consultados pelo Money Times, ultrapassando papéis como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).

Além disso, para Lima, Itaú e Banco do Brasil apresentaram projeções mais otimistas para 2025, cada um pautado em seus pontos fortes. 

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“O Itaú mantém um histórico de entregar o que promete, destacando a expansão moderada de carteira de crédito, o foco em serviços de maior valor agregado e o controle da inadimplência”. 

O banco espera crescer a carteira em até 8% e alcançar uma margem financeira de até 11,5%. Já a receita poderá ter aumento de 7%.

“O Itaú tende a ser visto como mais confiável pelo histórico de cumprimento de metas, mas o BB pode surpreender positivamente se o cenário macro permanecer favorável ao setor”.

Já o Banco do Brasil, que até pouco tempo atrás era uma unanimidade, entrou para o time do talvez sim, talvez não. O grande risco ainda é a inadimplência no agronegócio.

Segundo o analista Gabriel Mollo, do Daycoval, após ter subido 20% no ano, ação parece ter chegado em seu pico.

“Não me surpreenderia se a gente visse o Banco do Brasil ali por volta dos R$ 26, por volta dos R$ 25 até o meio do ano”. O papel fechou a última terça-feira a R$ 28,5.

“Como a minha postura desde o final do ano passado até agora tem sido mais conservadora, eu tenho feito recomendações para os nossos clientes mais conservadoras. Eu prefiro continuar comprado no Itaú e neutro nas outras”, diz.

Lima, da Ouro Preto, não descarta a possibilidade de o ROE do Banco do Brasil ficar ligeiramente abaixo de 20% em um cenário de maior estresse econômico, com inadimplência crescente ou queda dos spreads.

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No entanto, ele diz que, historicamente, o banco conta com certa resiliência graças à força do agronegócio, à ampla base de clientes e às linhas de crédito de menor risco como o consignado. 

“Mesmo que o ROE recue, a expectativa é que não haja queda abrupta, a menos que o contexto macroeconômico piore significativamente ou que surjam fatores excepcionais de risco”.

Em sua visão, o Banco do Brasil ainda pode atrair quem procura um retorno potencialmente maior, beneficiado pelo agro e pelo crédito público, embora envolva risco adicional por ter uma possibilidade de interferência indireta do estado. 

“Em um cenário de recuperação econômica, o BB tende a apresentar forte resultado, mas se a ideia é ter apenas uma instituição na carteira, o Itaú, pela previsibilidade, costuma ser a recomendação principal”.

Em relatório, o Itaú BBA fez alguns alertas em relação ao papel. A corretora manteve a recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 30. Segundo os analistas, o cenário desafiador, com piora da inadimplência e crescimento menor, deverá continuar em 2025.

Os analistas liderados por Pedro Leduc estimam que o Banco do Brasil vai lucrar R$ 37,5 bilhões no ano, o que seria o piso da faixa das projeções fornecidas pela estatal.

“Embora tenhamos uma visão positiva sobre o Banco do Brasil no longo prazo, estamos aguardando uma dinâmica melhor e/ou um ponto de entrada”, coloca.

Bradesco ou Santander?

Além de serem representados pela cor vermelha, ambos os bancos sofreram com a piora na inadimplência, que arrastou os ROEs para um dígito. E, agora, passam por uma reestruturação. As semelhanças param por aí, no entanto.

Para os analistas, o Santander mostrou ‘mais serviço’ no quarto trimestre. A ação disparou mais de 8% após os resultados, enquanto o papel do Bradesco caiu logo após os números.

“O Santander historicamente se recupera mais rápido em ciclos de retomada econômica, pois tem estratégia de crédito mais agressiva e flexível, o que pode acelerar a expansão de sua carteira quando há melhora no ambiente macro. Por outro lado, isso o torna mais suscetível a oscilações em períodos de alta inadimplência”, diz Lima.

Por outro lado, o Bradesco sofre mais com os resultados recentes, especialmente no crédito a pessoa física, e está em pleno processo de ajustes (corte de custos, reorganização interna e maior foco em digitalização). 

“Embora isso signifique que, se acertar essas iniciativas, pode surpreender positivamente, é provável que o Santander se recupere antes, pois costuma reverter quedas de rentabilidade com mais agilidade”.

A visão é compartilhada por Ricardo Schweitzer, sócio-fundador da Garoa Wealth Management. 

“Acredito que as questões que Santander têm a endereçar são menos complexas que as de Bradesco, onde o problema passa não somente pela reciclagem da carteira de crédito, mas também, por uma melhora de eficiência operacional que passa obrigatoriamente por mudanças substanciais —  o que é uma tarefa de altíssima complexidade”.

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Em relatório recente, o Itaú BBA comparou os dois bancos.

Os analistas dizem que, tanto o Santander quanto o Bradesco, aparecem como jogos de valor de grande capitalização no setor bancário do Brasil, sendo negociados em níveis absolutos descontados e com aproximadamente 35% de desconto em relação às suas próprias médias históricas.

No entanto, o BBA diz que uma comparação entre os dois mostra o Santander se recupera mais rapidamente em termos de receitas, provisões e capital. 

“Com mais “gasolina no tanque” e um motor bem ajustado, o Santander está melhor posicionado para enfrentar uma fase econômica fraca ou capitalizar em uma eventual reaceleração. As primeiras verificações de canal para o primeiro semestre sugerem força”

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