Os planos da Lojas Renner (LREN3) para sua recompra de ações de até R$ 1 bilhão, segundo o CEO

No mês passado, a Lojas Renner (LREN3) anunciou um programa de recompra de ações de até R$ 1 bilhão, equivalente a 7,13% das ações em circulação (75 milhões de ações ordinárias). A decisão veio após um 2024 desafiador, marcado pela deterioração do cenário macroeconômico e pelos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul, onde fica a sede da empresa.

Apesar das dificuldades, a Renner reportou lucro líquido de R$ 1,19 bilhão no ano passado, uma alta de 22,6% quando comparado com 2023.

Segundo o CEO da rede varejista, Fábio Faccio, a geração de caixa da empresa é muito forte, e o negócio segue em um bom momento. Tanto que a companhia anunciou um investimento de cerca de R$ 850 milhões para 2025, destinado à tecnologia e à abertura de novas lojas. Atualmente, a Renner possui 686 unidades: 429 da marca principal (sendo quatro na Argentina e 10 no Uruguai), 135 da Youcom, 103 da Camicado e 19 da Ashua.

No entanto, os papéis da Renner estão sendo negociados abaixo do que a administração considera um valor justo. Por isso, a recompra das ações se apresenta como o melhor investimento no momento.

“Entendemos que o valor de mercado da nossa ação não reflete o verdadeiro valor da empresa, que é muito maior. Por isso, uma forma adicional de gerar valor para nossos acionistas é investindo na própria companhia”, afirma Faccio em entrevistra exclusiva ao Money Times.

Para 2025, o executivo projeta um ano de crescimento, com margem bruta estável em relação a 2024 e diluição de despesas. A companhia também pretende abrir cerca de 35 lojas.

“Mesmo diante de um contexto macroeconômico mais difícil, mantemos uma visão otimista para o ano. E, sinceramente, analisando o que já enfrentamos até agora, tanto no setor quanto na nossa empresa, não identificamos sinais de deterioração do ambiente de negócios”, destaca.

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Confira a entrevista com o CEO da Renner, Fábio Faccio, na íntegra

Money Times: Como você avalia os resultados do ano passado?
Fábio Faccio: Olhando para 2024, tivemos um bom ano. Registramos um crescimento de lucro de 22,6%, um aumento de 26% no EBITDA, além de um avanço de 8,2% nas vendas, 13,9% no GMV (Volume Bruto de Mercadorias, em inglês) e quase 10% no lucro bruto, enquanto as despesas cresceram apenas 4,7%.

Sem dúvida, foi um ano muito positivo, embora com variações ao longo dos trimestres.O segundo trimestre, por exemplo, foi mais desafiador devido às enchentes no Rio Grande do Sul, onde fica nossa sede. Já no terceiro trimestre, tivemos um excelente desempenho, o que elevou as expectativas para o quarto trimestre, tanto do mercado quanto as nossas.

O quarto trimestre ficou ligeiramente abaixo do esperado. Acreditamos que podemos e devemos melhorar. Houve uma leve queda na margem bruta, impactada por um efeito não recorrente – um ajuste ao valor presente devido ao aumento da taxa Selic. No entanto, do ponto de vista operacional, seguimos em crescimento. O lucro líquido apresentou uma leve queda, também devido a fatores não recorrentes, como baixas de ativos e a comparação com benefícios fiscais registrados no ano anterior.

MT: Quais são as expectativas para 2025?
FF: Nossa expectativa é de mais um ano de crescimento, com margem bruta estável em relação a 2024, que já foi um patamar muito bom, além de uma boa diluição de despesas. Esperamos que o crescimento das vendas supere o das despesas, resultando em alta no lucro, no EBITDA e no ROIC (Retorno sobre o Capital Investido).

Mesmo diante de um cenário que muitos consideram desafiador para 2025, o nosso setor pode sentir menos esse impacto devido à sua natureza e à característica de demanda. Para nossa empresa, a perspectiva segue positiva, e esperamos um ano de bons resultados, com ganho de participação de mercado.

MT: Quais são os planos de expansão da Renner para este ano?
FF: Pretendemos investir cerca de R$ 850 milhões, um valor superior aos aproximadamente R$ 680 milhões investidos em 2023.

Nos últimos três anos, concentramos os investimentos principalmente em tecnologia, dados e infraestrutura, com parte destinada à expansão e remodelação de lojas. Grande parte do foco esteve no desenvolvimento de centros de distribuição (CDs) e outras plataformas.

Neste ano, além de ampliar o montante investido, estamos direcionando uma parcela maior para a abertura e remodelação de lojas, sem deixar de lado os investimentos contínuos em tecnologia e dados. Nossa previsão é abrir entre 15 e 20 lojas da marca Renner, 10 a 15 lojas da marca Youcom e, pontualmente, algumas lojas da Camicado.

A Renner tem um plano de expansão em andamento há alguns anos, com foco na entrada em cidades onde ainda não há lojas, especialmente aquelas com mais de 50 mil habitantes. Essa estratégia tem sido fundamental para o crescimento da empresa.

Passamos por um ciclo de três anos pós-pandemia em que, devido à migração de fluxo, decidimos fechar algumas lojas. Apesar disso, abrimos mais lojas do que fechamos e mantivemos o crescimento. No entanto, como o número de novas unidades foi um pouco menor e alguns fechamentos ocorreram, o crescimento líquido no total de lojas foi praticamente nulo nos últimos dois anos.

Agora, o cenário é diferente: não há previsão de fechamentos significativos, podendo haver apenas casos pontuais.

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MT: A Renner já opera na Argentina e no Uruguai. Há planos de expansão para novos mercados internacionais?
FF: Nossas operações fora do Brasil têm apresentado um excelente desempenho, e as marcas são muito bem aceitas nesses mercados.

No Uruguai, temos uma performance muito forte e um posicionamento bem estabelecido. Já na Argentina, enfrentamos desafios operacionais no passado, principalmente relacionados a fatores geopolíticos e econômicos. No entanto, atualmente, nossa operação no país cresce de forma consistente, demonstrando um grande potencial de desenvolvimento.

Hoje, contamos com apenas quatro lojas na Argentina, o que nos dá um amplo espaço para expansão. O bom desempenho nesse mercado reforça a possibilidade de, no futuro, expandirmos nossa presença para outros países. Tanto no Uruguai quanto na Argentina, a receptividade do público tem sido muito positiva, o que nos encoraja a seguir ampliando nossa atuação.

Porém, no curto prazo, ainda enxergamos grandes oportunidades de crescimento dentro do Brasil. Nosso foco está na expansão da presença e na abertura de mais lojas nos países onde já operamos. Mas, olhando para o futuro, certamente há um caminho promissor para a entrada em novos mercados internacionais.

MT: A Renner anunciou um plano de recompra de ações de até R$ 1 bilhão. Qual será o destino desse montante?
FF: Para nós, a geração de caixa é muito forte, o negócio está indo muito bem e nossa perspectiva para o ano continua bastante positiva. Temos uma sólida geração de valor e caixa suficiente para operar com caixa líquido, além de investir cerca de R$ 850 milhões ao longo do ano. Esse montante será direcionado principalmente para inteligência artificial, tecnologia e expansão da rede, incluindo a abertura de novas lojas, reformas e remodelações.

Dispomos dos recursos necessários para manter a operação, realizar esse investimento expressivo e, ao mesmo tempo, continuar remunerando nossos acionistas por meio do pagamento de juros sobre capital próprio e dividendos. E, mesmo após tudo isso, ainda há sobra de caixa.

Diante desse cenário, entendemos que o valor de mercado da nossa ação não reflete o verdadeiro valor da empresa, que é muito maior. Por isso, uma forma adicional de gerar valor para nossos acionistas é investindo na própria companhia.

Acreditamos que, no momento, o melhor investimento é a recompra de nossas ações, uma vez que elas estão sendo negociadas abaixo do que consideramos um valor justo. Ao recomprá-las, a principal destinação será o cancelamento das ações, reduzindo a base acionária e aumentando o valor para cada acionista. Além disso, essa estratégia também contribui para uma maior distribuição de dividendos por ação, gerando ainda mais valor para nossos investidores.

MT: Como você avalia o cenário econômico atual e o impacto no setor de varejo e na própria Renner?
FF: Muitas pessoas estão preocupadas com o cenário macroeconômico. De fato, taxas de juros elevadas e inflação alta não são positivas para ninguém.

No entanto, no setor de varejo de moda, o impacto é menor, em parte, por causa do ticket médio dos produtos, que têm preços mais acessíveis e parcelamentos mais curtos. Então, eu diria que continua sendo um momento positivo no setor.

Apesar das preocupações com o risco, nossa expectativa é navegar nesse cenário desafiador com um desempenho positivo. Mesmo diante de um contexto macroeconômico mais difícil, mantemos uma visão otimista para o ano. E, sinceramente, analisando o que já enfrentamos até agora, tanto no setor quanto na nossa empresa, não identificamos sinais de deterioração do ambiente de negócios.

Diferentemente de outros varejistas que operam com maior endividamento — o que se torna um desafio em um cenário de juros elevados —, a Renner conta com um caixa líquido robusto. Encerramos o ano com R$ 1,8 bilhão em caixa líquido, sem nenhuma dívida, e seguimos gerando caixa. Isso nos protege dos impactos de uma despesa financeira elevada, ao contrário de empresas que precisam lidar com custos altos de endividamento.
Além disso, aprimoramos a gestão da nossa carteira de crédito, ajustando as concessões e reduzindo significativamente a inadimplência nos últimos anos. Isso nos permite manter um crédito saudável para os consumidores.

Se o cenário econômico fosse mais favorável, com juros e inflação mais baixos, as perspectivas de crescimento em vendas, rentabilidade e expansão da base de crédito seriam ainda maiores. Como o ambiente ainda apresenta desafios, nossa estratégia é manter a carteira de crédito no mesmo patamar, mas com maior produtividade, beneficiando tanto o varejo quanto os clientes.

Mesmo diante desses desafios, acreditamos que 2025 será um ano promissor para a empresa e para o setor de varejo.

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MT: Diante do crescimento do e-commerce e da concorrência internacional, qual é a estratégia da Renner para manter sua posição no mercado?
FF: Nossa estratégia é estar sempre presente, onde, como e quando as clientes precisarem. Isso significa uma integração completa dos pontos de contato e canais, sendo verdadeiramente omnichannel.

Queremos oferecer todas as opções de compra, envio e retirada de forma integrada, proporcionando conveniência e flexibilidade.

No setor de moda, a experiência sensorial é essencial — muitos clientes querem sentir, tocar e provar os produtos antes da compra. Por isso, investimos tanto na capilaridade das lojas físicas, ampliando nossa presença nas maiores cidades do Brasil e expandindo para cidades menores, quanto na jornada digital, garantindo que o cliente possa escolher entre comprar na loja ou receber os produtos em casa.

MT: Como a Renner compara seu desempenho no digital versus no físico?
FF: Para os clientes que têm uma loja próxima, a conveniência se traduz em maior consumo, inclusive no canal online. Percebemos que, ao abrir uma nova loja em uma cidade, não apenas as vendas físicas aumentam, mas as vendas online naquela região também crescem cerca de 20%. Isso reforça nossa tese de que a conveniência é um fator essencial para o cliente e, por isso, a expansão para novas cidades é uma estratégia-chave da Renner.

Nosso modelo é totalmente integrado, sem uma separação rígida entre o físico e o digital — interagimos online e presencialmente de maneira fluida, permitindo que o cliente transite entre os canais conforme sua necessidade.

Avaliamos continuamente o desempenho de cada canal, e, atualmente, as vendas digitais representam cerca de 14% a 15% do total. No entanto, essa divisão é relativa, pois a jornada de compra raramente acontece em um único ponto de contato. Muitas vezes, o cliente pesquisa online e finaliza a compra na loja, ou experimenta na loja e conclui a compra pelo digital. O essencial é garantir uma experiência conectada e sem barreiras, independentemente do canal escolhido.

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