Butch Vig fala ao TMDQA! sobre disco “cinematográfico” do Garbage e vinda ao Brasil

Garbage (Butch Vig, Steve Marker, Shirley Manson, Duke Erikson)
Divulgação

Um dos maiores nomes da música mundial, Butch Vig está mais do que animado com a nova fase musical que vive ao lado do Garbage.

O baterista e renomado produtor de discos como Nevermind, do Nirvana, e Siamese Dream, do Smashing Pumpkins, não só está promovendo o novo álbum de sua banda principal, como também vem ao Brasil para os primeiros shows do grupo no ano e para “comer muito”.

Foi isso que Vig nos disse em um papo incrível na última semana, a alguns dias de desembarcar por aqui. O grupo lança em maio o aguardado Let All That We Imagine Be The Light, seu oitavo disco de estúdio. Como te contamos por aqui, o trabalho traz uma mensagem muito mais positiva que o último lançado pela banda, No Gods No Masters (2021).

Em nossa conversa, Butch nos contou vários detalhes pra lá de interessantes das novas músicas — incluindo influências do Pink Floyd e New Order -, além de compartilhar o segredo da longevidade da banda e uma história muito boa com o L7. E falando em L7, vale lembrar que a icônica banda fará a abertura dos shows do Garbage por aqui. Confira todos os detalhes ao fim da matéria.

TMDQA! Entrevista: Butch Vig

TMDQA!: Oi Butch! Obrigada por tirar esse tempinho pra falar com a gente. Vamos conversar um pouco sobre o novo disco, nova fase… O Garbage vai lançar Let All That We Imagine Be The Light em maio deste ano, e os primeiros shows de 2025 vão acontecer aqui na América do Sul. Como você descreveria essa nova era que o Garbage está entrando?

Butch Vig: Bom, depois do nosso último disco, No Gods No Masters, acho que percebemos que estávamos escrevendo músicas que refletiam muito do mundo ao nosso redor, que é tão volátil e maluco — principalmente as letras da Shirley. Foi isso que fizemos nesse álbum, tentamos fazer melodias que funcionassem dinamicamente com o tom que ela estava trazendo para essas letras. E isso aconteceu com esse novo disco também. Não queríamos fazer um disco de músicas pop, sabe, queríamos ter canções que reverberassem. Nesse momento da nossa carreira… esse é nosso oitavo álbum. Não sei por quanto tempo mais faremos isso. E é muito libertador, de alguma forma, porque sabemos que não entramos mais nas paradas Top 40, então podemos fazer qualquer merda que quisermos fazer (risos).

Mas queríamos um disco que fizesse sentido para nós quatro, e acho que realmente amamos muito todas as músicas dele. Mesmo que Shirley seja quem escreve as letras, acho que estamos todos na mesma página mentalmente. Então tudo que ela escreve, ela canta representando a banda inteira. Esse é o mindset que tivemos nesses dois últimos discos, na verdade, de fazer músicas que se encaixassem nas letras da Shirley. Apesar da “escuridão” do nosso último disco, nós tentamos colocar mais positividade nesse novo. Não queríamos algo sombrio e depressivo, mesmo que o mundo esteja ficando cada vez mais maluco, especialmente aqui nos Estados Unidos com essa atual presidência. Está todo mundo meio maluco aqui e com medo, então queríamos que nossa música trouxesse luz, e acho que conseguimos isso.

TMDQA!: Entendi. Eu sei que a Shirley tem falado bastante sobre essas letras, e como alguns eventos traumáticos da vida dela as inspiraram — como ter passado por uma cirurgia e perdido um cachorro. Mesmo que seja ela escrevendo as músicas, tem alguma experiência pessoal sua ou do resto da banda que também influenciou no tema e no som desse novo álbum?

Butch: Bom, para mim, acho que começou quando a pandemia nos atingiu. Conheço muitos músicos que ganham a vida apenas com turnês, e isso tudo parou. Então tivemos todos que nos esconder e entrar em quarentena. Muita gente perdeu seus empregos, não só músicos e artistas, mas muita gente que nós conhecemos mesmo. Meio que pareceu um apocalipse se formando… e aí não faz sentido algum escrever letras sobre dirigir carros caros, beber cerveja e fazer festas, sabe? Nós não somos assim. Acho que também não somos uma banda exatamente política, pelo menos nunca foi nossa intenção, mas esses dois últimos discos com certeza têm uma influência política nas letras. Eu estou realmente muito ansioso para tocar esses canções ao vivo, sabe? Já estamos ensaiando algumas delas, e vamos tentar tocar alguma nesses shows na América do Sul, estou realmente animado. Acho que esse disco é muito poderoso liricamente, mas também musicalmente. Você já ouviu o disco?

TMDQA!: Ainda não! Não o recebi por aqui.

Butch: Você vai gostar. Há muitos sintetizadores e um design de som muito bem. É mais orquestral e sinfônico, talvez o que mais soe assim de todos os nossos discos. Pra mim, ele soa cinematográfico, e acho que a música funciona muito bem com as letras da Shirley.

Influências do Pink Floyd e do cinema

TMDQA!: Eu vi que você chegou a mencionar o Pink Floyd como uma das influências pra esse trabalho. Além do que você acabou de me contar, tem outras influências nesse disco? Como você as descreveria?

Butch: Bem, temos duas canções nele que são definitivamente muito épicas. Uma no meio do disco e outra no final, e nelas a gente “canalizou” muito o Pink Floyd. Também ouvimos bastante New Order, que influenciou algumas linhas de baixo e alguns de riffs de guitarra e coisas assim. E sobre os sintetizadores — eu sou muito fã de cinema. Quero dizer, eu amo muito cinema. Na verdade, acho que o que eu mais tenho ouvido ultimamente são trilhas sonoras de filmes. Eu fico realmente muito impressionado com o quão incríveis são esses compositores e com o que eles têm feito. Também sou muito fã do John Carpenter, e eu definitivamente me inspirei nele em pelo menos duas músicas ali, nos teclados. Tem uma faixa chamada “The Void”, que começa com um dedilhado de arpejos na guitarra, um riff com sintetizadores… eu tinha literalmente escutado as trilhas sonoras de The Fog e The Thing, dois filmes que eu amo. Apenas ouvi o que ele fez, as texturas no som, e usei isso de referência para essa música. É uma das minhas favoritas no disco, é tão expansiva.

TMDQA!: E como é o processo de composição e gravação para vocês? Sei que esse disco está sendo feito há bastante tempo, aliás, então seria super interessante saber como tudo começou.

Butch: Olha, toda música tem sua própria jornada, mas na maioria das vezes a gente se reúne e começa uma jam. Talvez eu me sente na bateria, ou apenas programe uma batida ou um sample, um loop de bateria ou algo assim. Aí o Steve pega uma guitarra ou um baixo, Duke pega uma guitarra e um teclado. E então começamos a progredir a partir daí, às vezes com um verso específico ou um refrão, repetindo e repetindo. Depois, meio que começamos a cantar qualquer coisa em cima, aí a Shirley escreve alguns trechos e frases e tal.

Algumas dessas jams têm 20 minutos, e são repletos de péssimas ideias (risos). Aí no próximo dia a gente reduz para 18 minutos, até chegar em um trecho de 30 segundos que vamos usar, e aí começamos a de fato trabalhar em cima desse trecho. Temos um hábito de gravar muitas ideias e descartar o que não gostamos, então é tipo uma pintura na parede. Você vai jogando tinta nela, e muito dessa tinta cai no chão, e aí você joga mais e vê o que fica.

Mas uma coisa que tentamos fazer nesse disco foi deixar o som um pouco mais simples. Eu gosto muito de usar camadas nas músicas, especialmente no Garbage, muitas texturas. E algumas dessas faixas são bem simples para o Garbage, mas isso foi uma escolha nossa. Não queríamos tanto som nesses arranjos, então algumas músicas são realmente bem cruas, o que eu acho ótimo. Deixou a voz da Shirley ainda mais poderosa.

Longevidade do Garbage e amizade com o L7

TMDQA!: Ainda neste assunto, eu imagino que a dinâmica de vocês tenha mudado de alguma forma nos últimos anos — afinal, são 30 anos com a mesma formação. Isso é algo que aconteceu naturalmente ou você acha que o Garbage “merece os créditos” pelo esforço? Se for a última opção, então qual é o segredo para estar juntos por três décadas e ainda fazer música boa?

Butch: Bem, eu sou amigo do Duke e do Steve desde sempre. Conheci o Steve na faculdade e tive uma banda com o Duke nos anos 80. E aí abrimos o Smart Studios [em 1987] e eles sempre estavam comigo, então somos amigos e colegas há muito tempo. Quando a Shirley se juntou a nós, ela se encaixou logo de cara. Ela era tipo um dos caras. Somos um família, às vezes um pouco complicada, mas realmente nos respeitamos e nos amamos. E isso não quer dizer que não há brigas. Alguns dias eu fico braco com a Shirley, ou ela comigo, ou eu com o Duke, ou o Duke comigo… há coisas nas quais não concordamos. Mas aí a gente sempre encontra uma forma de trabalhar em cima disso, então não há mais tanto stress. Talvez, 20 anos atrás, a gente levasse isso mais pro lado pessoal. Se eu aparecesse com uma ideia que os outros não gostaram, eu ficava chateado. Tipo, “que porra é essa? Como eles não estão vendo o quão bom é isso?” Mas isso ficou no passado.

E eu acho que o segredo para manter uma banda unida é ir almoçar e jantar juntos. A gente compartilha das mesmas sensibilidades, políticas, artes… e amamos livros e cinema. Também amamos comer, inclusive mal podemos esperar para chegar ao Brasil e comer muito (risos). Mas é como eu disse, não dá pra levar as diferenças e discussões pro lado pessoal. Deixe correr solto e mantenha seu foco no longo prazo.

TMDQA!: Faz todo sentido. E falando de longevidade, você conhece o L7 há bastante tempo, e agora estão vindo juntos ao Brasil. Tem alguma lembrança com elas, seja trabalhando ou não, que você pode compartilhar com a gente?

Butch: Cara, eu amo o L7. [Bricks Are Heavy] foi um dos álbuns mais malucos que já produzi. Eu as conheci quando estava gravando o Nevermind [do Nirvana]. Eu acho que uma delas namorava com o Dave Grohl na época, não me lembro bem. Mas elas estavam sempre pelo estúdio e sempre pedindo para eu produzir o próximo disco, aí eu aceitei. Elas são ótimos, cheias de energia e personalidade. Eu realmente as amo.

Fomos para o Smart Studios, em Madison, onde finalizamos toda a mixagem. Então elas foram para Madison por quase um mês e tomaram a cidade de assalto (risos). Madison tem tipo uns 300 mil habitantes, e elas conheciam cada produtor, traficante, taxista, dono de bar e restaurante, porque elas saíam todas as noites e sempre traziam convidados para o estúdio. Foi uma época muito, muito louca. Eu ainda vou a Madison, porque meus irmãos e sobrinhos moram lá. Quando encontro com algumas pessoas, elas me perguntam, “cara, você lembra daquelas minas do L7? Elas eram loucas”. E elas realmente eram (risos). Foi um disco muito legal de se fazer. Então estamos muito ansiosos por essa turnê, porque elas mandam ver.

TMDQA!: Demais, já as vi ao vivo e é incrível! E falando de shows, o que podemos esperar dos sets do Garbage? Como você disse, já tem rolado música nova nos ensaios. Vamos ouvir alguma por aqui?

Butch: Olha, eu espero. Estamos esperando o sinal verde do nosso manager e da gravadora, porque às vezes eles preferem que não façamos isso. Não me lembro quando sai o primeiro single, mas o disco sai em maio, então não poderemos mostrar muita coisa. Mas vamos apresentar músicas de todos os nossos discos até agora, consideramos umas 26 ou 27 para os setlists.

E também estamos trabalhando com uma nova baixista, Nicole Fiorentino, que tocava com o Smashing Pumpkins, e ela é incrível. Ela é ótima e uma pessoa muito doce. Ela também canta muito bem, então vai ser a primeira vez que teremos harmonias assim. Ela está cantando em umas sete ou oito músicas com a Shirley, o que é muito legal.

Playlist de Butch Vig

TMDQA!: Tenho certeza que ficará muito bonito também com as novas músicas! Bem, estamos chegando ao final do nosso papo, então preciso te fazer essa pergunta. O nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos, e eu sei que você produziu e gravou discos que são os melhores amigos de muita gente. Mas quero saber, qual disco é o seu melhor amigo?

Butch: Uau. Primeiro de tudo, eu amei esse nome. Eu também tenho mais discos que amigos, se você olhar aqui no meu estúdio. Já meu melhor amigo, nossa… como eu te disse, tenho ouvido muitas trilhas sonoras. Tenho escutado a trilha de O Brutalista sem parar nas últimas semanas. É muito baseada em piano, mas tem muito design de som e funciona tão bem. Acho que isso que é tão poderoso sobre filmes. Quando é bem feito, você não fica imerso apenas nos visuais, mas também nos sons que ajudam a dar essa dimensão tão emotiva.

Mas, bem, preciso olhar aqui no meu celular para ver o que estou escutando. Ah, sim, The New York Dolls. Descanse em paz, David Johansen. Você viu essa notícia?

TMDQA!: Sim, infelizmente…

Butch: Eu era muito fã dos New York Dolls. Eles deveriam ter sido enormes no final dos anos 70, estavam muito a frente de seu tempo. Canções incríveis, que ficam na cabeça. E eles também tinham um visual incrível, mas o público não entendeu muito bem. Bom, eu amos os Dolls, tenho ouvido muito. E também gosto da Jessica Pratt, MJ Lenderman… tenho ouvido muito a Cat Power, você a conhece?

TMDQA!: Sim, ela é incrível!

Butch: É, tenho ouvido muito. Estou vendo aqui [no meu celular], e tem muitas trilhas sonoras (risos). Essas são minhas melhores amigas agora.

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Serviço – Garbage no Brasil

Garbage e L7 no Rio de Janeiro
Data: 21 de março de 2025 (sexta-feira)
Local: Sacadura 154 (Rua Sacadura Cabral 154, Rio de Janeiro, RJ)
Abertura da casa: 19h.
Ingressos clicando aqui

Garbage e L7 em São Paulo
Data: 22 de março de 2025 (sábado)
Local: Terra SP – Av. Salim Antônio Curiati, 160, São Paulo – SP
Abertura da casa: 19h
Ingressos clicando aqui

Garbage e L7 em Curitiba
Data: 23 de março de 2025 (domingo)
Local: Ópera de Arame (Rua João Gava 920, Curitiba, PR)
Abertura da casa: 18h
Ingressos clicando aqui

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