A ciência dos nomes: como vírus e doenças são batizados e renomeados

A forma como os vírus e doenças infecciosas recebem seus nomes pode parecer apenas um detalhe técnico, mas a escolha das palavras tem impacto direto na forma como a sociedade lida com as enfermidades.

A história da nomenclatura viral mostra que fatores como sintomas, origem geográfica e aparência microscópica influenciaram a maneira como esses vírus e microrganismos foram batizados.

No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adota critérios para evitar estigmatizações e impactos sociais negativos.

No passado, era comum que doenças fossem nomeadas a partir do local onde foram detectadas pela primeira vez ou com base nas populações mais afetadas.

Exemplos incluem a febre do Nilo Ocidental, o vírus Ebola (nome de um rio na República Democrática do Congo) e a gripe espanhola.

No entanto, essa prática pode gerar discriminação e pânico injustificado. Durante a pandemia de Covid-19, variantes do SARS-CoV-2 foram inicialmente identificadas com referência a países específicos, mas a OMS passou a nomeá-las com letras do alfabeto grego para evitar estigmatizações.

Além disso, doenças zoonóticas, aquelas que se originam em animais, também podem gerar consequências indesejadas quando nomeadas com referências diretas a espécies.

A gripe suína, por exemplo, resultou no abate desnecessário de porcos, mesmo quando a transmissão ocorria apenas entre humanos.

Exemplos de nomes e suas origens

A palavra influenza vem do italiano e significa “influência”. No século XIV, acreditava-se que essa doença era causada por influências celestiais, e o termo passou a designar a gripe.

O nome foi internacionalizado em 1743 e, mais tarde, no inglês, foi abreviado para “flu”. Já o termo “gripe” tem origem no francês grippe, derivado do alemão grüpi, que remete à sensação de tremores e mal-estar.

O chikungunya tem uma origem bastante descritiva. O nome vem da língua Makonde, falada no sudeste da Tanzânia, e significa “aqueles que se contorcem”, em referência às dores articulares intensas causadas pela infecção.

A dengue tem múltiplas teorias sobre sua etimologia. Alguns linguistas sugerem que a palavra vem do espanhol e significa “delicado” ou “frágil”, associada ao estado debilitado dos pacientes. Outra possível origem é a palavra africana ndenge, da língua quimbundo, que remete a choradeira e manha.

O vírus Zika foi batizado com o nome da floresta em Uganda onde foi identificado pela primeira vez, em 1947. Esse mesmo padrão ocorreu com o Ebola, nome de um rio próximo ao local onde o vírus foi descrito inicialmente.

A febre amarela recebe esse nome devido à icterícia que se manifesta em alguns pacientes, causando coloração amarelada da pele e dos olhos.

O excesso de bilirrubina no sangue, resultado da destruição de glóbulos vermelhos e comprometimento hepático, é o responsável por esse sintoma.

O coronavírus ganhou esse nome devido à sua aparência ao microscópio, onde as proteínas que o envolvem formam estruturas que lembram uma coroa (corona, em latim).

Já a doença causada pelo SARS-CoV-2 foi denominada Covid-19, que significa “Coronavirus Disease 2019”. O SARS-CoV-2, por sua vez, recebeu esse nome por sua semelhança com outro coronavírus detectado em 2003, o SARS-CoV-1, causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave.

As mudanças na nomenclatura de doenças e vírus são um reflexo da preocupação com a comunicação pública e o impacto social dos nomes.

A adoção de critérios mais neutros e científicos busca garantir que o conhecimento sobre enfermidades seja disseminado sem reforçar preconceitos ou causar alarmismo desnecessário.

*Com informações do Instituto Butantan

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