Brasil já importa café, mesmo sendo líder global em exportações do produto

Mesmo sendo o maior exportador mundial de café há mais de 150 anos, o Brasil também importa pequenas quantidades do grão para a composição de blends especiais.

Só nos dois primeiros meses de 2025, o país já adquiriu 970,47 toneladas de café torrado, extratos e essências, um aumento de 19,4% em relação ao mesmo período de 2024, refletindo a demanda por variedades específicas no mercado interno, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Os principais países fornecedores são Suíça (39%), França (21%) e Estados Unidos (10%), além de Espanha, Itália e Uruguai.

No entanto, essas importações representam um volume muito pequeno diante da produção nacional que, em 2024 foi de aproximadamente 69,7 milhões de sacas de 60 kg, o que equivale a cerca de 4,18 milhões de toneladas.

Já Minas Gerais, que responde por 51% da produção nacional, foi responsável por cerca de 2,13 milhões de toneladas de café em 2024.

O Amazonas tem uma participação modesta na produção nacional de café, segundo a Conab, mas se destaca no cultivo do café robusta (conilon), que, em 2024, registrou uma produção total de 63,57 mil toneladas, considerando os quatro levantamentos ao longo do ano.

Por que importar café não reduz os preços?

Com a crise climática impactando a produção de café no Brasil, em 2024, o café subiu 46%, segundo a pesquisa ‘Variações de Preços: Brasil & Regiões’, da Neogrid.

A tendência é de novos aumentos, com repasses da indústria ao consumidor.

Uma solução cogitada seria aumentar as importações para equilibrar a oferta. No entanto, especialistas afirmam que essa estratégia não funciona.

O pesquisador do FGV Agro, Felippe Serigati, explica que o café é uma commodity com cotação global baseada na Bolsa de Nova York.

Ou seja, os preços estão altos no mundo inteiro. Mesmo que o Brasil importasse em maior volume, o efeito sobre o preço final seria praticamente nulo.

Além disso, o Brasil não tem fornecedores internacionais capazes de suprir sua demanda.

A produção global também enfrenta problemas climáticos há dois anos, especialmente na Indonésia e no Vietnã, impactadas pelo El Niño.

Alíquota zerada e impacto no mercado

Para conter a inflação dos alimentos, o Governo Federal anunciou a redução a zero da alíquota de importação do café e de outros produtos, como azeite, açúcar e carnes.

No entanto, a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) considera a medida ineficaz.

Segundo Aguinaldo Lima, diretor da Abics, importar café exige análise de risco fitossanitário pelo Ministério da Agricultura.

Sem essa autorização, a isenção de tarifa não traz impacto real para os preços.

Serigati reforça que a decisão do governo tem mais efeito político do que prático. “O consumidor percebe a alta dos alimentos no dia a dia, e isso impacta a popularidade do governo. Algo precisava ser feito, mas essa medida não trará o efeito esperado”, avalia.

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