Opinião: “uma diferença básica entre Donald Trump e Ronald Reagan”

Dias atrás, um amigo me mandou um vídeo no qual um símbolo histórico da direita americana diz o seguinte: “Quando alguém diz ‘vamos impor tarifas para algumas importações’ parece que essa pessoa está fazendo algo patriótico ao proteger produtos e empregos americanos. E, de vez em quando, isso funciona por um curto período.  Mas apenas por pouco tempo. O que geralmente ocorre é: em primeiro lugar, as empresas locais começam a se fiar na proteção do governo em forma de tarifas altas de importação. Assim, param de competir e param de investir em gestão inovadora e em mudanças tecnológicas necessárias para ter sucesso nos mercados mundiais”.

Essa figurinha carimbada do panorama político dos Estados Unidos continua: “Então, enquanto tudo isso está acontecendo, alguma coisa ainda pior acontece: as altas tarifas levam à retaliação de países estrangeiros e acabam disparando uma guerra de comércio internacional. O resultado é uma onda com mais e mais tarifas. Maiores barreiras de comércio e menos concorrência”.

Por fim, arremata: “Por conta dos preços artificialmente altos criados pelas tarifas que subsidiam ineficiência e gestão incompetente, as pessoas param de comprar. Então, o pior ocorre: o mercado diminui e desaba, os negócios fecham e milhões de pessoas perdem seus empregos”.

Ao contrário do que se possa imaginar, o autor dessas palavras não é democrata ou um opositor ferrenho de Donald Trump. Trata-se de uma gravação do ex-presidente Ronald Reagan, para um programa de rádio que foi ao ar em abril de 1987 (ainda durante o seu mandato).

O alerta feito há 38 anos pelo presidente republicano mais admirado na era moderna pode ser usado como uma crítica mordaz à atual política econômica internacional de Trump. Seus defensores podem retrucar que, nos anos 1980, ainda não havia uma atuação sistemática da China no mercado de manufaturas e que os Estados Unidos possuíam o maior parque industrial do planeta. As medidas de Trump, assim, fariam sentido e seriam necessárias para fazer frente à ameaça chinesa no contexto atual.

O pronunciamento de Reagan, no entanto, põe o dedo em uma ferida importante. Todas as medidas do governo americano para tentar resgatar a primazia industrial americana estão ancoradas em tarifas. Não houve um só esforço ou declaração para estimular as empresas americanas a buscar maior eficácia ou promover saltos de qualidade ou de produtividade.

O governo americano apenas prometeu que haverá mais empregos porque os produtos vindos do exterior vão ficar mais caros. E, dessa forma, companhias americanas terão a oportunidade de ganhar mercado interno. Isso, no entanto, vai levar um certo tempo — se, de fato, ocorrer.

Ocorre que o protecionismo acaba fatalmente levando as empresas ao imobilismo. Ninguém investe em produtividade se estiver protegido pelo governo. Ou seja, se essas medidas tarifárias não forem acompanhadas de um estímulo à qualidade e à eficácia, os Estados Unidos terão de efetuar novos choques tarifários, condenando suas empresas à ineficiência e sua economia ao atraso.

A China deve estar torcendo para que isso aconteça.

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