A melhor hora de comprar fertilizantes é agora, diz diretor geral da Mosaic no Brasil; Trump pode recorrer a Putin e mexer com preços

As projeções da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) indicam que, em 2024, foram entregues no Brasil cerca de 46 milhões de toneladas de fertilizantes, um volume próximo ao recorde histórico do setor.

Segundo Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic Fertilizantes, as perspectivas para 2025 “são muito boas”.

“Isso porque estamos entrando em um período de colheita recorde, estimada em torno de 170 milhões de toneladas de grãos. É uma equação matemática: quando você retira o grão, que contém nutrientes, é necessário repor esses nutrientes no solo. A expectativa, em termos de volume, é que os números de 2025 superem os de 2024, em torno de 48 e 49 milhões de toneladas. Será um ano sensacional em termos de demanda”, afirma.

Monteiro, por outro lado, ressalta que esse cenário não é homogêneo em todo o Brasil, já que algumas regiões, como o Rio Grande do Sul, enfrentam desafios.

“O estado foi impactado por uma seca e vem sofrendo com fenômenos climáticos nos últimos quatro anos. As projeções indicam uma colheita recorde para o Brasil como um todo, excluindo o Rio Grande do Sul, o que representa um sinal muito positivo para a indústria”, diz.

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A rentabilidade do produtor no Brasil

Monteiro destaca que, desde janeiro, a rentabilidade do produtor rural melhorou expressivamente, impulsionada principalmente pela valorização do milho e da soja. Segundo ele, a recuperação dos preços ampliou a margem de segurança dos agricultores.

“Quando analisamos a relação de troca e a rentabilidade do agricultor no mesmo período do ano passado, houve um avanço substancial. No ciclo 2023/24, o produtor que plantava soja e milho obtinha, em média, R$ 2 mil por hectare. Neste ano, no cenário atual, esse valor está em torno de R$ 5 mil, um aumento de 150%. Na soja, o crescimento é um pouco menor, mas o milho compensa essa diferença de forma significativa. Esse cenário é muito positivo, pois os grãos representam 60% da demanda brasileira de fertilizantes”, explica.

O mercado de fósforo

O country manager da Mosaic ressalta que esse cenário não implica necessariamente em uma disparada de preços, mas destaca tendências importantes que vêm surgindo.

“Os preços do fósforo se mantiveram firmes e, no momento, indicam uma tendência de alta. Na penúltima semana de fevereiro, subiram US$ 5 no Brasil, devido a uma forte pressão do mercado. Atualmente, o preço do MAP (fosfato monoamônico) no Brasil está entre US$ 635 e US$ 640, enquanto nos EUA varia de US$ 655 a US$ 660. Para um país que não é autossuficiente e precisa atrair importações, os preços praticados aqui ainda não são tão atrativos”, explica.

A Índia, um dos principais mercados consumidores de fósforo e com estoques muito baixos, está prestes a realizar um leilão de compra. Atualmente, os preços indianos são equivalentes aos praticados no Brasil.

“O fósforo é um ponto de atenção importante para o produtor, mas devo dizer que o agricultor brasileiro está muito atento a essas tendências. Nas últimas quatro semanas, registramos uma demanda significativa no mercado de fertilizantes, com um volume de 2 milhões de toneladas. Grande parte desse movimento foi impulsionada pela percepção do agricultor sobre a tendência de alta do fósforo e pela atual relação de troca favorável”, afirma Monteiro.

Dentro do segmento de fósforo, o mercado brasileiro trabalha com dois produtos. O MAP, de alta concentração, que tem enfrentado dificuldades para se tornar mais atrativo no país, e o super simples, de menor concentração, que surge como alternativa.

“No entanto, o super simples também tem sofrido pressão de alta, com preços subindo entre US$ 5 e US$ 10 na última semana devido à forte demanda”, conclui.

O fator China para o fósforo e o problema dos insumos de baixa solubilidade

Outro fator que tem se consolidado, segundo Monteiro, é o direcionamento do ácido fosfórico para produção de baterias de carros elétricos na China, o que tem levado o país asiático a reduzir suas exportações dessa matéria-prima.

“O processo produtivo das baterias à base de ácido fosfórico gera um subproduto. Esse subproduto vem sendo utilizado para a fabricação de fertilizantes de baixa concentração, conhecidos como NP, que estão sendo exportados para o Brasil como uma alternativa para suprir a menor oferta de fertilizantes com alta concentração de fósforo”, explica.

No entanto, esse cenário traz desafios, especialmente devido à baixa solubilidade desse fertilizante, característica resultante do seu processo produtivo. Com menor solubilidade, o nutriente aplicado ao solo não é totalmente absorvido pelas plantas, o que pode gerar um problema significativo, alerta Monteiro.

De acordo com o International Plant Nutrition Council, o uso desse produto por três anos pode reduzir a produtividade em até 30%. “Essa perda não é perceptível no primeiro e no segundo ano, pois os solos brasileiros ainda contam com reservas de nutrientes acumuladas de aplicações anteriores. No entanto, a partir do terceiro ano, quando essas reservas se esgotam, o impacto pode ser severo. Esse é um ponto de atenção que temos destacado, já que a importação desse produto no Brasil praticamente dobrou, passando de 1 milhão para 1,98 milhão de toneladas”, afirma.

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A aquisição de fertilizantes e o mercado no Brasil

Em relação às compras, Monteiro explica que os produtores já adquiriram 34% dos fertilizantes que serão utilizados na safra de soja, um avanço em comparação aos 27% registrados no ano passado. No entanto, esse percentual ainda está abaixo da média histórica dos últimos três anos, que variava entre 40% e 41%.

“Para um ano que promete demanda recorde, o produtor precisa estar muito atento. O fertilizante é um insumo que pode ser adquirido antecipadamente, permitindo que ele escape de gargalos e desafios logísticos que a agricultura brasileira enfrenta. Já observamos grandes filas nos portos da região Norte e, considerando o cenário positivo para o setor, o ideal é garantir a compra o quanto antes. Felizmente, o produtor tem percebido essa necessidade”, destaca.

Quanto ao cloreto de potássio, os preços vêm registrando alta desde outubro, passando de US$ 270 para US$ 340 por tonelada no Brasil.

Esse aumento expressivo é resultado de diversos gargalos na oferta global. A Bielorrússia anunciou uma redução na produção, a Uralkali, da Rússia, fez comunicados semelhantes, e produtores do Sudeste Asiático, especialmente em Laos, enfrentam dificuldades operacionais, como inundações e problemas estruturais em minas. “Não haverá escassez de cloreto de potássio, mas esse cenário fortalece a tendência de alta nos preços. Para os próximos meses, enxergamos um aumento adicional de US$ 10 a US$ 15 por tonelada”, analisa Monteiro.

No mercado de nitrogenados voltados para a safrinha, a demanda já está praticamente atendida, com 95% a 97% das compras concluídas, restando apenas aquisições residuais em algumas áreas de Minas Gerais.

“O que eu diria ao agricultor brasileiro é: fique atento aos preços do fósforo e do potássio, acompanhe as tendências, avalie suas culturas e escolha o melhor momento para comprar. Acreditamos que a antecipação é essencial, e o momento para agir é agora, considerando os fatores de demanda e oferta”, conclui.

As tarifas de Donald Trump

A Mosaic mantém atenção às questões relacionadas a conflitos e possíveis tarifas internacionais, como as impostas por Donald Trump, e seus impactos no fluxo global de comércio de fertilizantes.

Segundo alguns especialistas, uma tarifação sobre produtos produzidos no Canadá e exportados para os Estados Unidos, pode impactar o trade flow de fertilizantes, principalmente para o mercado de cloreto de potássio.

Caso isso ocorra, o Canadá pode recorrer a outros mercados para “fugir” das tarifas norte-americanas e otimizar preços. Essa questão faria com que os EUA recorressem a outros países para se abastecer, com a Rússia como principal possível comprador.

Essa questão, segundo fontes, poderia refletir em um aumento dos custos logísticos no Brasil. Apesar disso, eles ressaltam que essa situação precisa ser acompanhada com cautela e é difícil prever com certeza se esse deslocamento no fluxo global de fertilizantes realmente ocorrerá.

Os números da Mosaic em 2024

A Mosaic, companhia norte-americana de fertilizantes, registrou um lucro líquido de US$ 169 milhões no quarto trimestre de 2024, uma queda de 53,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. As vendas líquidas também recuaram 10,6% na comparação anual, totalizando US$ 2,82 bilhões.

“Em 2024, fechamos com um lucro operacional de US$ 238 milhões, ante US$ 75 milhões em 2023. Nossas margens de distribuição e custos melhoraram. A redução no volume de vendas foi uma decisão estratégica, pois enfrentamos um ambiente de maior risco de crédito ao longo do ano. Optamos por priorizar a rentabilidade da companhia, em vez de focar apenas no volume”, explica a empresa.

Além desse fator, dois furacões que atingiram a Flórida impactaram a cadeia global da Mosaic, reduzindo o pipeline da empresa em 700 mil toneladas, o que também afetou as operações no Brasil. “Mesmo assim, conseguimos preservar bons resultados, impulsionados por margens comerciais favoráveis e por uma estratégia eficiente de redução de custos”, destaca a companhia.

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