Opinião: “Lula e a mania de misturar a esquerda com o Centrão”

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, houve quem acreditasse que seu ministério iria refletir o conceito de frente geral difundido durante a campanha de 2022. O que se viu, no entanto, foi uma forte presença da esquerda na Esplanada, combinada com nomes do Centrão, grupo que formou a base parlamentar de todos os governos desde a redemocratização do país.

O Lula do terceiro mandato tem essa característica – a mania de misturar esquerdistas e centristas em um só balaio. E, quando pressionado para dar um passo a mais em direção à direita, o presidente responde com uma guinada à esquerda.

Um exemplo disso ocorreu em novembro do ano passado, quando percebeu que teria de anunciar – a contragosto – medidas para a contenção do déficit público. Diante deste impasse, Lula resolveu divulgar, ao mesmo tempo, que iria isentar da cobrança de imposto de renda quem ganhasse até R$ 5.000,00 mensais (uma medida que entrará em vigor somente em 2026, mas que provocará uma queda instantânea de arrecadação, o que pode prejudicar o equilíbrio das contas públicas).

Nesta semana, Lula repetiu a fórmula. Pressionado pelo Centrão para fazer uma reforma ministerial e colocar mais membros do grupo centrista no ministério, o presidente começou a mexer no tabuleiro movendo as peças de esquerda. Colocou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na pasta da Saúde e o substituiu pela presidente do PT, Gleisi Hoffman (prestes a deixar o cargo).

A chegada de Gleisi a um posto importantíssimo para o relacionamento entre Executivo e Legislativo foi visto com reservas pelo Centrão – e por dez entre dez analistas políticos. De temperamento explosivo e defensora de ideias claramente radicais, Gleisi pode tornar a convivência com o Centrão mais difícil. Aqueles que apostam nisso lembram do fogo amigo perpetrado por ela em direção ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em janeiro, por exemplo, Gleisi soltou um documento no qual criticava o “austericídio fiscal” mantido por Haddad para segurar despesas estatais.

Dias atrás, no entanto, um zumzumzum em Brasília passou a dar como certa a presença do deputado psolista Guilherme Boulos no ministério, desta vez como titular da Secretaria-Geral da Presidência. O nome é adequado à pasta, que é responsável pela interlocução entre governo e movimentos sociais. Mas, ao mesmo tempo, carrega um simbologia ruim para um presidente que precisa conquistar o apoio dos parlamentares mais conservadores. A pecha de radical que é carregada por Boulos pode ser um empecilho para o Planalto, que ainda tem como opção para esse ministério o advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas.

Se Boulos for colega de Gleisi, veremos que Lula quer sempre criar um contraponto aos movimentos de afago ao centro. O problema, desta vez, é que o presidente traria para perto de si dois nomes que podem influenciá-lo ainda mais com o intuito de levá-lo cada vez mais ao caminho da esquerda.

Como se sabe, o presidente Lula não possui aparelho de telefone celular – e, por esta razão, tem sua visão filtrada por aqueles que estão próximos. Com a chegada de Gleisi e a provável escolha de Boulos, os chamados moderados estarão em desvantagem absoluta no entorno de Lula, influenciando-o cada vez menos.

Lula tutelado pelas opiniões de Gleisi e Boulos? Isso é um verdadeiro pesadelo para o empresariado. Neste contexto, Marco Aurélio de Carvalho passou a ser uma figura desejada por conservadores e centristas. Aguardemos para ver o que o presidente irá decidir.

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