Mortalidade por câncer infantojuvenil no Amazonas é a maior da Região Norte

O câncer infantojuvenil é a segunda maior causa de mortalidade por doenças na Região Norte, com índices acima da média nacional.

Dados do Panorama da Oncologia Pediátrica, do Instituto Desiderata, indicam que entre 2016 e 2022, o Amazonas registrou uma taxa de 52,6 óbitos por milhão de crianças e adolescentes, acima da média nacional de 42,6 por milhão​.

Para o período de 2023 a 2025, estima-se que o Amazonas terá 200 novos casos de câncer infantojuvenil, com uma taxa de incidência de 123 casos por milhão de crianças e adolescentes, a maior da Região Norte​.

A falta de estrutura hospitalar especializada é um dos principais desafios no estado. Apenas um hospital no Amazonas é habilitado para oncologia pediátrica, enquanto a região Norte como um todo conta com três unidades especializadas​.

Essa deficiência na rede de atendimento obriga muitas famílias a buscar tratamento em outros estados. Entre 2017 e 2021, 15,7% dos pacientes do Amazonas tiveram que se deslocar para atendimento fora do estado, sendo os principais destinos São Paulo e Rondônia​.

Outro fator preocupante é a escassez de profissionais especializados. O Amazonas possui apenas 2,1 médicos oncologistas pediátricos para cada 1 milhão de crianças e adolescentes, número abaixo da média nacional de 6,6 médicos por milhão​.

Além da infraestrutura limitada, há dificuldades no diagnóstico precoce. No estado, apenas 78,1% dos casos são diagnosticados por verificação microscópica, enquanto a média nacional é de 85,8%​. Essa demora no diagnóstico impacta diretamente as chances de recuperação dos pacientes.

A taxa de crianças e adolescentes que não iniciaram o tratamento também é um indicativo das dificuldades enfrentadas. No Amazonas, 5,2% dos pacientes diagnosticados não chegaram a começar a terapia, sendo que 50% dos casos que não foram tratados ocorreram devido ao óbito precoce​.

Além dos desafios no atendimento e diagnóstico, a mortalidade por câncer entre crianças indígenas é ainda maior. A dificuldade de acesso a unidades de referência, a barreira linguística e a ausência de ações específicas para essa população contribuem para o agravamento do quadro.

Crianças indígenas enfrentam taxas de mortalidade mais elevadas e maiores dificuldades para receber tratamento em tempo hábil, ampliando as desigualdades no combate ao câncer infantojuvenil.

A oncologista responsável pelo tratamento de crianças indígenas no Amazonas explica que essa população requer uma abordagem especial, pois fatores genéticos afetam a resposta aos medicamentos.

“A gente usava a mesma medicação, o mesmo volume, a mesma dose, e as nossas crianças evoluíam com toxicidades. E isso nos chamou muito a atenção. Então a gente fez um estudo de mais de 10 anos e começamos a observar que a nossa população indígena, ou a população miscigenada, que é a maioria do nosso estado, quando ela tinha geneticamente a ancestralidade indígena acima de um determinado valor, ela começava a apresentar efeitos colaterais maiores. Elas têm 28 vezes mais chances de intoxicar e evoluir para infecções graves e severas do que outras crianças”, explica a especialista.

Para reduzir os riscos, foi necessário desenvolver um protocolo diferenciado, que inclui maior hidratação e administração de antígenos para proteger os órgãos dos efeitos colaterais da quimioterapia.

Essas medidas aumentam a complexidade do tratamento e exigem um acompanhamento mais rigoroso, o que representa mais um desafio no atendimento a essa população.

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