Investidor estrangeiro volta ao Brasil, mas movimento é sustentável?

O Brasil voltou a atrair capital estrangeiro neste início de ano, com um fluxo positivo de R$ 6,824 bilhões na B3 em janeiro. O montante representa um alívio para o mercado financeiro nacional, que enfrentou meses de incertezas e fuga de recursos em 2023. No entanto, a dúvida que permanece entre analistas e economistas é se essa entrada de capital representa uma tendência duradoura ou apenas um movimento conjuntural.

De acordo com o economista Bruno Corano, ainda é cedo para afirmar que há uma retomada consistente do interesse estrangeiro no Brasil. Segundo ele, apesar do alívio recente, o país segue enfrentando desafios estruturais, como fragilidades fiscais, baixa eficiência econômica e uma bolsa de valores operando de forma lateral.

“Ainda é um período muito curto para entendermos se o fluxo vai continuar de maneira constante. O Brasil continua com os mesmos pontos sensíveis, como a ineficiência fiscal, e a bolsa só anda de lado. Precisamos esperar mais alguns meses para ver se essa tendência se confirma”, avalia Corano.

O que pode estar atraindo o investidor estrangeiro?

Alguns fatores conjunturais podem estar impulsionando esse movimento de volta do capital estrangeiro. O diferencial de juros ainda é atrativo, mesmo com o ciclo de cortes promovido pelo Banco Central, tornando o Brasil uma opção para o chamado carry trade – estratégia na qual investidores se aproveitam das diferenças entre taxas de juros globais.

Além disso, a melhora da percepção de risco no curto prazo e algumas sinalizações sobre ajustes na política fiscal podem ter gerado um ambiente favorável. No entanto, especialistas alertam que esses fatores não garantem uma permanência de longo prazo desses recursos no país.

Um fluxo significativo ou apenas um respiro?

Apesar da entrada de R$ 6,824 bilhões na B3 ser relevante para o mercado brasileiro, esse montante ainda é considerado pequeno no cenário global. Conforme Corano explica, para fundos estrangeiros de grande porte, esse fluxo não representa um movimento de forte alocação estrutural no Brasil.

“Para o investidor estrangeiro, esse valor é praticamente insignificante. Fundos globais fazem aportes em volumes muito superiores e só consolidam posições quando enxergam uma economia com fundamentos sólidos e previsibilidade”, aponta o economista.

Incertezas no radar

Mesmo com o otimismo inicial, os desafios para manter a atratividade do mercado brasileiro ainda são grandes. A trajetória fiscal do país, a condução da política monetária e o cenário externo, especialmente a decisão sobre juros nos Estados Unidos, podem influenciar diretamente na continuidade desse fluxo de investimentos.

Se a recuperação da confiança no Brasil não for sustentada por políticas mais sólidas e previsíveis, o risco de uma nova saída de capital continua elevado. Assim, enquanto o mercado comemora a volta dos estrangeiros, a pergunta que fica é: esse capital veio para ficar?

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